Oscar Mendes
É noite de quinta para sexta-feira. Uma fina e gélida chuva cai sobre a cidade deserta e um vento forte varre as ruas.
Nada se ouve, apenas o som monótono das gotas que caem no chão já frio e o medonho assobio do vento incessante.
A cidade parece morta.
Testemunha ou guardiã da noite, a Lua Cheia debilmente clareia a cidade, tentando vencer as nuvens que dominam o céu.
Pelas ruas mal iluminadas um homem caminha apressadamente. Seus passos se apressam ainda mais quando ele ouve um estranho ruído. Seu corpo se arrepia ao sentir que alguma coisa o observa. Onde? Impossível dizer, o som da noite não permite que ele possa precisar.
Completamente apavorado, seus passos antes ligeiros transformam-se em uma desabalada correria. A ânsia de chegar à sua residência e sentir-se seguro é o que o motiva. Essa é sua esperança, talvez essa seja sua única alternativa.
Seus pulmões queimam. O desesperado homem não está acostumado a tamanho esforço físico. A baixa temperatura do vento que lhe corta a face também contribui para minar sua resistência. As ruas escorregadias por diversas vezes quase o levam ao chão.
Adiante, em uma esquina, um vulto parece aguardar sua aproximação.
O pânico toma conta do homem que desesperado grita por socorro. Em vão. Ninguém responde aos seus apelos e ao perceber que o vulto enigmático lentamente se aproxima ele percebe que está próximo da morte.
Inútil correr, inútil gritar.
Exausto, aterrorizado, inconsolável, ele cai de joelhos ao chão molhado. Suas lágrimas misturam-se às gotas da fina chuva que já encharcam suas roupas.
Cabisbaixo, como entregando sua vida à voracidade daquela fera que já está de pé diante dele, o homem apenas sente a dor causada pelos dentes da bestial criatura que lhe abocanha o pescoço.
Ela banqueteia-se com seu sangue e, após dispensar o corpo inerte do homem no asfalto úmido e frio, sai em disparada pelas desertas ruas da cidade que dorme.
Buscando outra vítima, ou na ânsia de encontrar um lugar seguro para se abrigar, quem pode responder?
Meio bicho, meio gente. Ao raiar do Sol o Lobisomem retorna à sua condição anterior, humana, porém cansado e com o resto de suas vestes manchados com o sangue inocente da última vítima.
Isolado, remoendo-se com o peso do remorso causado pelas vidas que sua bestial condição o obriga a ceifar, ele permanece isolado até a chegada da próxima noite, em que a maldição da Lua voltará a transforma-lo em fera.
Outras noites, incontáveis, incessantes, terríveis, ainda estão por vir...
Um comentário:
Já conhecia o Oscar de outro site. Parabens pelo conto.
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