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4.5.09

O CELEIRO

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O CELEIRO

Henry Evaristo

Ele ficava na parte mais alta da velha fazenda, distante da estrada. E mesmo a despeito de sua decrepitude mantinha a imponência por suas dimensões. Era uma silhueta aterradora recortada contra o horizonte; e jazia quieto em sua solidão escura com suas portas entreabertas e suas janelas arruinadas.

Ainda lembro de cada uma das estranhas sensações que aquela construção abandonada e imersa nas sombras me transmitira em meus tempos de criança. Era como um fantasma a rondar meus passeios pela velha estrada que conduzia à propriedade dos Baxter.
Sempre ouvira falar das coisas que aconteceram naquele lugar. Na escola os garotos costumavam contar relatos assustadores sobre ele. Diziam que o velho dono da fazenda enfrentara um monstro naquelas terras, sozinho. E diziam mais: Que as florestas em torno da propriedade eram infestadas de lobisomens!

Eu acreditava nisso! E, em verdade, não tinha como desacreditar. Constantemente ocorriam boatos de coisas pavorosas que apareciam por ali, à noite.

Elma Sander, uma viúva, afirmara certa vez que fora atormentada por uma "sombra preta e larga" que a acompanhava de dentro da mata. A história se espalhou. Mas foi somente quando a menina dos Williams desapareceu que homens resolveram entrar na floresta pra caçar qualquer coisa que podesse ser a responsável. Nada jamais foi encontrado.

Mas os acontecimentos continuaram ao longo de toda a minha infância. Diziam também que o velho dono da fazenda dos Baxter estava internado no manicômio municipal e, quem o via, e ficava perto dele, podia sentir que havia algo de errado.

Nas fazendas em torno da cidade eram freqüentes os ataques inexplicados a animais de criação; e os fazendeiros da região podiam contar coisas escabrosas sobre o que viram ao longe na floresta, em suas caçadas.

Numa madrugada de dezembro, próximo do dia do natal, subi ao telhado da casa de meus pais, sozinho, para observar o bosque que se iniciava ao final de nosso terreno. Sempre fui atraído por estas coisas insólitas, arrepiantes, e posso confessar que naquela noite fiquei realmente arrepiado. Não vi nada de fato; nada além das estrelas veladas que pareciam me vigiar de um céu opaco de inverno e da agitação das folhas das velhas arvores do bosque sacudindo ao sabor do vento cortante. Foram apenas impressões que me assolaram mais que veementemente. Como a de subitamente sentir um cheiro diferente no ar da noite. Um odor exótico, mas tão insipiente que não me foi possível definir sua natureza. Menino curioso que era, de andar por aquelas matas observando tudo, só me veio à mente o aroma que se desprendia dos eucaliptos que dominavam a floresta nas vezes em que eu, andando por ali, pisoteava acidentalmente suas folhas caídas.

Por volta das três da manhã, e não tendo avistado absolutamente nada de anormal pelas redondezas, decidi que era hora de entrar em casa. Porém, ao descer do telhado pela lateral que ia dar nos fundos do quintal notei algo incongruente com minha solidão. Ao tocar os dormentes da escada, pude sentir e ver que estavam sujos, umedecidos com algo pegajoso e marrom. Como se alguém, com as mãos sujas de lama, os tivesse tocado há poucos instantes.

Ao por os pés no chão de terra, meus olhos vaguearam por todos os lados. A escuridão dos fundos do terreno não permitia divisar nenhuma forma que por ali pudesse estar a se esconder. Se fui observado naquela madrugada, nunca descobri. Mas entrei em casa com a nítida sensação de que escapara por pouco de algo terrível e me tranquei em meu quarto coberto dos pés à cabeça por meus lençóis de solteiro. Passei o restante das horas escuras ouvindo ruídos estranhos do lado de fora da casa, mas atribuí-os todos ao medo e à minha fértil imaginação de adolescente.

Na manhã seguinte rondei a propriedade em busca de marcas no chão e as encontrei! Imensas pegadas de algum animal pareciam circular a casa e se aproximar da escada que levava ao telhado onde eu estivera. Mas como poderia avisar a meus pais sem me denunciar como um garoto fujão? Calei, portanto. E nunca mais fiquei sozinho na noite, fora de casa. Tranquei minhas portas e janelas sempre, todos os dias após o cair do sol. Para me tranqüilizar, guardei na última gaveta de minha escrivaninha de estudante um pesado bastão de baseball.

Lembro nitidamente, alguns anos mais tarde, da noite em que o velho Baxter morreu no hospício municipal. Os cães das redondezas não deixaram ninguém dormir com seus latidos e uivos tenebrosos. E todos se reuniram no andar de baixo trocando olhares nervosos até o dia amanhecer. Em minha mente infantil imaginava que ninguém além de mim soubesse o que estava acontecendo, tampouco acreditava que os outros pudessem imaginar que não fosse algo de ruim. Mas observei que papai, um homem sempre precavido, não permitiu em nenhum momento que nos aproximássemos das janelas e portas da casa, e não deixou que ninguém erguesse nenhuma das cortinhas para olhar o lado de fora. Foi a primeira vez que vi minha mãe chorar.

Poucos dias depois fomos transferidos, eu e meus irmãos, para uma escola da capital aos cuidados de nossos avós paternos. Sentimo-nos pesarosos devido o distanciamento de nossos pais, de nossas coisas e de nossos amigos. Era como um findar precoce de nossa infância dourada passada até então inteiramente no confins da fazenda, do campo, da natureza. Mas, ao mesmo tempo, não podíamos disfarçar o alívio que sentíamos em estarmos em fim longe daquele rincão estranho e habitado por coisas que jamais deveriam ser entre nós.

Ao longo de toda a minha vida colecionei relatos e notícias de jornais vindas de minha cidade natal. E via em matérias jocosas e sensacionalistas, sobre as coisas estranhas que lá ocorriam, uma perturbadora certeza de realidade. A imagem do velho celeiro dos Baxter, o lugar onde alguém um dia enfrentou a fera, nunca saiu de minhas memórias e jamais deixou de assombrar minhas noites de pesadelo. Muitas vezes pensei em retornar, mesmo depois da partida de meus velhos pais para o plano mais elevado, mas as responsabilidades da vida diária nunca me permitiram.

Hoje, velho e retirado de minhas utilidades como cidadão, dedico meu tempo a cuidar de meus netos. Tive uma vida boa e farta, mas, quando deveria ter esquecido as abominações que povoaram minha infância, é que me encho de recordações que são ao mesmo tempo deliciosas e pavorosas. Não ligo para o que os jovens de minha casa falam de mim aos sussurros. Chamam-me velhinho lunático, mas sei que não o fazem por mal. É que jamais, em toda minha vida, permiti que nenhum de meus filhos ou os filhos deles se postassem próximo a janelas ou portas, e nem erguessem as cortinas para olhar o lado de fora, em noites de lua cheia.

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