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17.6.08

SILÊNCIO

A Câmara apresenta mais um clássico absoluto da literatura fantástica universal. O mestre Edgar Alan Poe mais uma vez nos faz mergulhar num mundo envolto nas mais profundas trevas do horror. Boa leitura!



SILÊNCIO

Edgar Alan Poe


Fábula
"O cimo da montanha dormita; .
vales, rochedos e grutas emudecem."
Alcman.



ESCUTA - disse o Demônio, pondo a mão sobre minha cabeça. - A região de que falo é uma lúgubre região da Líbia, às margens do rio Zaire e ali não há repouso nem silêncio. "As águas do rio são amarelas e insalubres e não correm para o mar, mas palpitam eternamente, sob o rubro olhar do sol, em movimentos tumultuosos e convulsivos. Por muitas milhas, de cadalado do leito lamacento do rio, estende-se um pálido deserto de gigantescos nenúfares, que suspiram, um para o outro, naquela solidão e erguem para o céu os longos colos lívidos, meneando as frontes imortais. E dentre eles se evoca um murmúrio indistinto, semelhante ao rolar de uma torrente subterrânea. E um para o outro eles suspiram.

"Mas há um limite para seu reino, o limite da floresta escura, horrenda, enorme. Ali, como as ondas em torno das Hébridas, os arbustos rasteiros agitam-se sem cessar. No céu, porém, não sopra vento algum. E as altas árvores primitivas oscilam, eternamente, para lá e para cá, com um rumor poderoso e estalidante, E dos seus altos cimos, caem, uma a uma, as gotas de um sempiterno orvalho. E as seus pés, estranhas flores venenosas jazem, estorcendo-se em agitado sono. E nas alturas, zunem fortemente as nuvens plúmbeas, que correm continuamente para o oeste, até rolarem, em cataratas, por cima da muralha ardente do horizonte, E às margens do rio Zaire não há repouso nem silêncio.

"Era noite e a chuva caía; e ao cair, era chuva, mas, ao chegar ao chão, era sangue. E de pé, no paul, entre os altos nenúfares, eu estava, enquanto a chuva caía sobre mim. E os nenúfares suspiravam um para o outro, na solenidade de sua desolação.

E, de-repente, através do fino e lívido nevoeiro, surgiu a lua, toda carmesim, E meu olhar caiu sobre um rochedo enorme e escuro, que se erguia à margem do rio, iluminado pela luz da lua. E o rochedo era enorme e de um cinzento pálido. Pálido e cinzenta. Letras estavam gravadas na superfície da pedra; caminhei através do paul de nenúfares até à margem, para poder ler as letras gravadas na pedra. Mas não pude decifrá-las. E ia regressar ao paul, quando a lua brilhou ainda mais vermelha. Voltei-me e olhei de novo para o rochedo, para as letras, que formavam a palavra DESOLAÇÃO."Ergui a vista e descobri um homem, de pé, no cume do rochedo; ocultei-me entre os nenúfares, a-fim-de poder ver os movimentos do homem. Ele era alto, de porte imponente, e envolvia-se, dos homem. Ele era alto, de porte imponente, e envolvia-se, dos ombros aos pés, numa toga romana. Os traços de seu rosto eram indistintos, mas suas feições eram as de uma divindade; pois luziam mesmo através do manto da noite, da névoa, da luz e do sereno. Erguia o cenho, pensativamente, e seu olhar ardia de preocupação; e nas poucas rugas que lhes sulcavam as faces, eu lia as legendas de tristeza, de fadiga e de desgosto pela humanidade, e o amor ansioso da solidão.

"E o homem sentou-se sobre o rochedo, pousou a cabeça na mão e contemplou meditativamente a soledade. Mergulhou a vista nos arbustos rasteiros e inquietos e elevou-a às altas árvores primitivas e, mais alto ainda, até ao céu rumorejante e à lua avermelhada. E escondido em meio aos nenúfares, seguia eu os movimentos do homem. E o homem tremia na solidão; mas a noite avançava e ele permanecia sentado no rochedo."E o homem desviou depois sua atenção do céu e baixou a vista sobre o lúgubre rio Zaire, sobre suas águas lívidas e amarelas e sobre as legiões lúridas de nenúfares. E o homem escutava os suspiros dos nenúfares e o murmúrio que deles se evolava. E, bem oculto, espreitava eu as ações do homem. E o homem tremia na solidão; mas a noite avançava e ele permanecia sentado no rochedo.

"Depois desci para os recessos do paul, patinhando nas brenhas de nenúfares e gritei pelos hipopótamos, que habitavam nos lameiros mais fundos do pântano. E os hipopótamos ouviram os meus gritos e vieram, com o behemoth (1), colocar-se no sopé do rochedo, e à luz rugiram forte e pavorosamente. E, bem oculto, espreitava eu as ações do homem. E o homem tremia na solidão; mas a noite avançava e ele permanecia sentado no rochedo.

"Depois apostrofei os elementos, com maldições tumultuosas; e uma terrível tempestade formou-se no céu, onde antes não havia vento. E lívido se tornou o céu, com a violência da tempestade. E a chuva golpeava a cabeça do homem; e a água do rio corria escachoante, a espumejar de dor; e os nenúfares gemiam nos leitos; e as florestas se despedaçavam ao sopro do vento; e o trovão ribombava; e os raios caíam; e o rochedo se abalava até a base. E, bem oculto, espreitavam eu as ações do homem. E o homem tremia na solidão; mas a noite avançava e ele permanecia sentado no rochedo.

"Encolerizei-me, então, e amaldiçoei, com a maldição do silêncio, o rio, e os nenúfares, e o vento, e a floresta, e o céu, e os trovão, e os gemidos dos nenúfares. E, amaldiçoados, emudeceram. E a lua deixou de vaguear pela estrada celeste. E o trovão morreu ao longe. O raio não mais fulgurou. E as nuvens penderam imóveis. E as águas voltaram ao seu nível e sossegaram. E as árvores cessaram de oscilar.

E os nenúfares não mais suspiraram. E não mais se ouviu o murmúrio que deles se evolava, ou qualquer sombra de som, por toda a vastidão ilimitada do deserto. E ao contemplar as letras gravadas no rochedo, vi que haviam mudado; lia-se agora a palavra SILÊNCIO.

"E de novo volvi o olhar para o rosto do homem e seu rosto estava lívido de terror. De-repente, ergueu a cabeça e pôs-se de pé no rochedo à escuta. Mas nenhuma voz havia, por toda a vastidão ilimitada do deserto. E as letras gravadas no rochedo diziam silêncio. E o homem estremeceu, voltou o rosto e pôs-se em fuga, precipitadamente; e nunca mais o tornei a ver."

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Ora, lindas história se encontram nos volumes dos Magos, nos melancólicos volumes com fecho de ferro. Neles, afirmo, há esplêndidas histórias do Céu e da Terra, e do mar poderoso; e dos Gênios que governam o mar, e a terra, e os altos céus. Há também muita ciência nas palavras proferidas pelas Sibilas; e coisas sagradas se ouviam outrora, junto às folhas sombrias, que tremiam em torno de Dodona; mas, considero, tão certo como vive Alá, essa fábula que o Demônio me contou, sentado ao meu lado, à sombra do túmulo, como a mais maravilhosa de todas! E ao terminar o Demônio sua história, caiu dentro da cavidade do sepulcro, às gargalhadas. E como eu não pudesse rir com o Demônio, ele me amaldiçoou. E o lince, que vive eternamente no sepulcro, saiu do seu fojo e deitou-se aos pés do Demônio, encarando-o fixamente.
***

(1) - Animal considerado como o hipopótamo do Nilo, e descrito no livro de Jó (XL 15-24) (Nota dos TT.)


(Publicado pela primeira vez no BALTIMORE BOOK, em 1839)

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