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22.10.08

A MULHER QUE TEMIA A CHUVA


Escritor A.S Vieira retorna à Câmara com mais um conto obrigatório da literatura fantástica nacional. Boa leitura!




A MULHER QUE TEMIA A CHUVA

Um conto de A.S. Vieira



Dedicado à Rosângela Nazaré S. Vieira


Casas antigas...

Noites escuras...

Lugares sombrios...

Florestas...

Cemitérios...

Por que tudo precisa ser tão clichê?

Por que essas criaturas, seres das sombras, precisam desses lugares?

Porque eles precisam do nosso medo para surgir, pois o nosso medo cria a atmosfera ideal para que eles venham até nós. E em situações chave, ou clichês, o medo erradia de nós como ondas de rádio. E então eles vêm.

Depois do que vi, do que presenciei, comecei a buscar explicações. Acabei lendo notícias sobre cenas de crime, ataques terroristas e acidentes onde fotógrafos capturaram imagens ou vultos assustadores. Presenças macabras que seguiram o medo até aqueles lugares. Quanto maior a quantidade de medo, mais deles aparecem. Por isso não me surpreende que tantos deles tenham chegado à Manhattan naquele fatídico 11 de setembro, assim como não me surpreende que apenas um deles tenha chegado à casa de dona Rosália naquela noite tempestuosa de janeiro. E logo ela que tanto temia as chuvas.

Dona Rosália era minha vizinha desde que eu me entendo por gente no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Sua casa era um sobrado antigo, mas muito bonito, no estilo que só é encontrado mesmo nesse bairro. Se você já esteve aqui, sabe bem do que estou falando.

Minha vizinha era uma viúva de 51 anos; ainda nova, é verdade, mas já enterrara três maridos pelo menos. Nós, quando crianças, a chamávamos de viúva negra, mesmo que mal soubéssemos o significado daquilo.

Ela, assim como minha mãe, morava com um único filho. Mas ao contrário de mim, que sempre estou em casa, já que trabalho como revisor de textos, Cleiton, seu filho, passava a maior parte do tempo na rua por causa da faculdade e do trabalho. Por isso, pra compensar a solidão, dona Rosália começou a alugar os quartos do sobrado. Era uma forma de fazer amigos (Pois lá se hospedavam pessoas de todo o mundo) e ter também uma renda extra. Era uma mulher batalhadora, forte, digna de admiração. Não temia bandidos, assim como baratas ou ratos. Seu único medo eram as tempestades. Seus três maridos haviam morrido durante tempestades.

O primeiro foi atingindo por um raio, ainda quando ela morava numa fazenda no interior do estado, quando tentava levar uma vaca de volta para o celeiro. O segundo, pai de Cleiton, a levou para o Rio de Janeiro e a deixou com uma situação de vida confortável ao morrer em um acidente no cento da cidade durante um forte temporal. O terceiro a levou para sua casa em Santa Teresa e era um primo de segundo grau de minha mãe. Foi o casamento mais longo e mais feliz dela. Ele trabalhava numa companhia elétrica e certo dia, durante uma tempestade, saiu para restabelecer a luz em um dos bairros e nunca mais voltou pra casa.

Naquele janeiro, porém, não houve mortes. A tempestade nada levou, apenas trouxe.

Eu o vi saltar do bonde da minha janela. Era um sujeito estranho, de barba lisa e branca como os seus cabelos. Suas sobrancelhas eram grossas e negras. A despeito disso, não me parecia ser muito velho. Usava roupas negras, longas, e tentava se proteger da chuva sob um chapéu ordinário. Na mão, nada além de uma valise. Reparei que ele conversava sozinho, nada muito anormal. Estou acostumado a pessoas estranhas, dada a grande quantidade desses tipos aqui no bairro.

Como eu esperava, ele se dirigiu a casa de dona Rosália. Conversaram à porta por alguns minutos e então ele entrou. Mais um hóspede.

Pouco soubemos sobre Pazú, o hóspede, nos dias que se seguiram. Eu o via raramente, mas nas poucas vezes eu sentia algo sinistro nele. Algo estranho na forma como fumava e conversava com algum ser imaginário. Dona Rosália disse que ele passeava pelo país, conhecendo e fotografando lugares. Pagara para ficar hospedado por um mês, mas disse que se gostasse ficaria por mais tempo. Ela não se importou, afinal, em sua casa as pessoas vêm e vão e ninguém nunca pergunta nada. Como em um hotel. Você conhece pessoas, mas não cria laços. Uma vez me apaixonei por uma hóspede da minha vizinha, uma bela húngara. Pra mim foi intenso, pra ela foi casinho de verão; nunca mais nos vimos. Meu primeiro e frustrado amor.

Bem, no bairro, tudo continuava a mesma coisa. Nada alterava nossa rotina de bairro turístico. Pelo menos uma vez por semana eu ia até a editora onde eu trabalhava para entregar o material revisado e pegar a nova leva. Trabalhar em casa tinha suas vantagens, mas eu sempre tinha tanto o que fazer que acabava ficando sem tempo para iniciar o meu romance. Na verdade, eu escrevia bem, mas nunca achei que pudesse ter inspiração para uma história. Até então.

Nesse dia em que desci até a zona sul, tudo parecia normal. Exceto pela volta pra casa, onde eu encontrei Pazú. Poderia ter sido um encontro casual, mas eu resolvi segui-lo por alguma razão. Não entendi o porquê, mas em poucos minutos eu o vi adentrar o cemitério São João Baptista. Não fui adiante, pois fiquei com medo. Assumo, cemitérios me apavoram bastante. Por isso voltei pra casa; talvez ele estivesse apenas visitando algum conhecido enterrado ali.

Da minha janela, eu vi quando ele voltou. Ele me olhou rapidamente e acenou pra mim. Meio reticente, retribuí o aceno. Mas algo nele me assustou, não sei explicar o que. Não consegui parar de pensar nele antes de dormir.

Na manhã seguinte, encontrei dona Rosália conversando com minha mãe na cozinha. Parecia assustada. Quando perguntei o que havia acontecido, ela respondeu nervosa.

- Pazú.

- O que há com ele?

- Ontem a noite – ela disse – antes de me recolher, passei pela casa pra checar se as portas e as janelas estavam fechadas, como sempre faço. Quando passei pela porta do quarto de Pazú, ouvi uma conversa. Ele parecia rir com algumas pessoas ali dentro. Aquilo me enfureceu, pois, você sabe, tenho algumas regras no sobrado. E uma delas é que não permito visitantes após as dez da noite. Por segurança.

- Claro – concordei – a senhora está muito certa.

- Então bati na porta. A mulher que ria, logo se calou. Alguns segundos depois Pazú abriu a porta. “Pois não”, disse ele. Expliquei que na casa havia regras e como já havia passado das dez da noite, não gostaria que ele tivesse visitas no quarto. “Mas não há ninguém aqui”, falou ele abrindo a porta. O quarto estava vazio. Eu lhe disse que havia ouvido vozes, mas insistiu que estava sozinho e me convidou a inspecionar o quarto. Não havia ninguém lá, nada. A janela estava trancada por dentro, então não teria saída. Olhei sob a cama, dentro do armário e no banheiro. Nada, menino. Nada. O que eu podia fazer? Desculpei-me e saí do quarto. Assim que a porta se fechou, as mesmas pessoas voltaram a conversar. Mas não havia ninguém lá. Saí para checar os outros hóspedes. Todos estavam sós em seus quartos e eu os conheço bem o bastante pra saber que não levariam ninguém para dentro da minha casa sem minha autorização. Os barulhos vinham mesmo do quarto de Pazú.

- Você não falou nada com ele? – perguntou minha mãe, indignada. As duas eram muito amigas.

- Falar o que? Eu mesma chequei o quarto. Mas o pior foi hoje de manhã.

- O que houve? – eu perguntei.

- Fui preparar o café da manhã do Cleiton e ele me perguntou se havia hóspedes novos na casa. Respondi que não, lógico. Então ele me perguntou quem era a mulher e a criança que ele vira nos corredores quando ele chegou em casa ontem, por volta da meia-noite.

- Meu Deus, Rosália! – disse minha mãe, pálida – Eu estou toda arrepiada.

- Você não acha que...?

- Fantasmas, meu filho. Tem fantasmas na minha casa. E eles chegaram com o Pazú.

Depois daquilo, passei a ter mais medo da figura de Pazú. Achava que dona Rosália era muito corajosa por manter em sua casa pessoas das quais ela não conhecia a procedência. Proibi minha mãe de falar com aquele homem e pedi que ela convencesse dona Rosália a pedir que ele fosse embora. Mas minha vizinha já usara o dinheiro que ele pagara previamente, portanto, não poderia mandá-lo embora até o fim do mês.

À época do carnaval, as comemorações de rua aqui no bairro foram canceladas por causa das chuvas ininterruptas. A cidade mais abaixo estava um caos, que todos tentavam abafar por causa das festividades.

Num desses dias, Cleiton me convidou para dar uma volta com ele na Lapa. Não sou muito chegado a noitadas, menos ainda quando chove. Mas Cleiton raramente me convidava para sair e eu muito apreciava sua companhia por causa de sua inteligência. Fui encontrá-lo no sobrado às nove da noite, como combinado.

Já havia estado naquele lugar tantas vezes, nada era novo pra mim. Enquanto aguardava por ele, dona Rosália me serviu um chocolate quente. O que ela preparava era o melhor, sem dúvida.

- Pazú está em casa? – perguntei, pois não queria encontrá-lo.

- Não. Esteve fora o dia inteiro. Já conversamos e ele disse que não pretende ficar mais do que o combinado. Só mais uma semana e estarei livre dele.

- E os outros hóspedes?

- Todos na rua.

Cleiton desceu as escadas logo. Estava arrumado demais para ir a Lapa, eu disse, mas ele não deu a mínima. Quando dona Rosália nos levava à porta, ouvimos passos no andar de cima.

- Mãe – falou Cleiton, assustado – Você disse que estávamos sós em casa.

- E estamos.

- Então quem está correndo no andar de cima?

Cleiton pediu minha ajuda para investigar o sobrado e me passou uma lanterna. Admito que estava assustado demais, mesmo assim fui com ele por todos os lugares do sobrado. Ouvimos passos e risadas pela casa, mas não havia nem sinal de qualquer ser vivo ali dentro. Ser vivo.

O clima para sair já não existia mais e diante do pavor de dona Rosália, a levamos pra minha casa. Minha mãe tratou de acalmá-la contando suas piadas (Deus a abençoe) e logo dona Rosália estava refeita.

Cleiton, porém, parecia furioso. Trouxe-o ao meu quarto para uma conversa e ele se dizia irritado com o que estava acontecendo no sobrado desde a chegada de Pazú.

- Esse nome dele – ele falou – é o que mais me intriga. Pazú. Sabe o que me lembra? Pazuzu.

- O que é isso?

- O demônio da Mesopotâmia. Diz lenda que ele chegava com os ventos do verão, levando o flagelo aonde quer que ele fosse. Era conhecido como o agarrador, pois gostava de carregar espíritos junto a ele.

- Caramba, cara, Pazú já me dava medo antes de eu o associá-lo a essa história... Agora então... Eu o vi entrar no cemitério há alguns dias atrás.

- Mesmo? Onde?

- Em Botafogo.

- Tem alguma coisa muito errada com esse homem e hoje ele vai ter de me explicar o que é.

Cleiton sempre foi muito calmo. Era a primeira vez que eu o via tão irritado. E quando faltou energia, sua irritação pareceu aumentar ainda mais. Só disfarçou quando minha mãe subiu até meu quarto acompanhada de dona Rosália. Juntos, ficamos olhando a noite chuvosa e as ruas escuras. Lembram do que eu falei sobre o medo? Pois é, ele era quase palpável naquele momento.

Quando a chuva estiou, ouvimos barulhos na rua. Alguém se aproximava segurando uma vela. Pazú. Não posso dizer se foi efeito da luz da vela sobre ele, mas sei que quando ele chegou vi dezenas de vultos escuros ao seu redor. Me apavorei.

- Vocês ficam aqui – falou Cleiton – Vou ter uma conversinha com esse cara.

- Cleiton, não... Espere a luz voltar! – falou sua mãe.

Mas ele insistiu que ela ficasse. Vi quando ele atravessou a rua e adentrou o sobrado. Nada foi ouvido por vários minutos. Nada. Os dois então saíram do sobrado juntos, mas cada um seguiu um lado. Pazú seguiu a rua principal. Cleiton voltou a minha casa.

- E então? – perguntei.

- Eu disse que vamos fazer obra no sobrado e que seria melhor que ele procurasse outro lugar pra ir. Indiquei os albergues da rua principal e ele foi até lá checar se havia quartos disponíveis. Podemos ir pra casa.

Quando os dois atravessavam a rua, a energia voltou. Os dois acenaram pra nós sorrindo. Minha mãe fez uma piadinha qualquer que eu não consigo lembrar e Cleiton respondeu de volta, rindo bastante. Foi a última vez que o vimos vivo.

Fomos acordados por dona Rosália, pedindo por ajuda. Ela dizia que Cleiton não havia acordado para ir para a faculdade e não abrira a porta do quarto quando ela chamara. Fui até lá, com a adrenalina correndo nas minhas veias, e arrombei a porta.

Cleiton estava na cama, com uma expressão de pânico no rosto. Morto. Com lágrimas nos olhos, passei mão em seu rosto para amenizar suas feições. Quando sua mãe adentrou o quarto, era o desespero encarnado. Eu não podia assistir àquilo.

Enquanto minha mãe cuidava dela, eu cuidava de entrar em contato com a polícia e do enterro. Ataque cardíaco; um rapaz de apenas vinte e três anos. Quando nos preparávamos para ir ao cemitério, no dia seguinte, Pazú voltou pra casa. Ele apenas nos olhou, pois estávamos com dona Rosália, e entrou no sobrado.

- Esse homem... – murmurou minha mãe – O que ele ainda faz aqui?

- Não deve ter conseguido outro lugar pra ficar.

Enquanto dona Rosália chorava e Cleiton era enterrado, eu não conseguia parar de pensar que de alguma forma o encontro com Pazú aquela noite decretara a morte do meu vizinho.

Dona Rosália passou os dias que se seguiram ao enterro de seu filho nos evitando, mas nós ouvíamos discussões e gritos todas as noites no sobrado. Algo estava indo mal ali. Minha mãe pediu que eu interviesse e eu liguei pra polícia. Quando eles chegaram, eu trouxe a dona Rosália pra dormir conosco. Ela estava em um estado lastimável.

- Eu vi... – disse ela – meu filho naquela casa. Ele estava conversando com Pazú.

- Isso é impossível, Rosália – falou minha mãe – Cleiton se foi. Não está mais entre nós.

- Não em corpo, mas seu espírito está lá. Sabe o que eu descobri? Que ele, Pazú, é um colecionador. Ele coleciona fantasmas. Estão todos em seu quarto, aprisionados de alguma forma naquela valise. São eles que me acordam a noite, que fazem barulhos, que perturbam os cães, que conversam... Meus hóspedes, os mais antigos, foram embora hoje. Eles têm medo do que viram... E não os culpo. São homens, mulheres, crianças... Todos no meu sobrado, agarrados por Pazú.

- Você está perturbada com a morte do Cleiton, Rosália, é só isso.

- Não é. Ele coleciona fantasmas, me ouça. Eu sei disso – ela estava trêmula – A polícia o obrigou a sair e ele vai embora amanhã. Mas eu preciso ir até o quarto dele... Preciso destruir aquela valise e libertar os espíritos. Preciso libertar meu filho.

- Isso está errado, Rosália! Você não vai lá. Você vai dormir aqui e pronto.

- Não posso... Não posso...

Mesmo assim ela adormeceu. Minha mãe se recolheu algumas horas depois. Eu fiquei acordado boa parte da noite. A maior parte eu passei ouvindo gritos e risos que vinham do sobrado do outro lado da rua. Era assustador, mas não sei até que ponto eu poderia ou não acreditar no que dona Rosália disse. Aquela valise... Colecionador de fantasmas... Então dormi. E não vi minha vizinha voltar ao seu sobrado.

Quando minha mãe me avisou que dona Rosália estava morta, na manhã seguinte, eu corri até sua casa. O corpo dela estava sobre sua cama, dando a impressão de que morrera dormindo. Porém, as meias em seus pés estavam sujas de terra, como se por toda a noite ela estivesse andando pela casa ou pelo quintal. Não fora uma morte natural. Pelo menos não de todo.

Seu hóspede, Pazú, estava acabando de sair do quarto. Foi a primeira vez que eu o vi tão de perto e senti meu coração bater descompassado. Havia algo estranho em seu olhar. Uma certa melancolia, ou ódio... Nunca poderia dizer ao certo. Deixou a chave sobre a mesa da cozinha, com uma certa quantia de dinheiro, e carregava sua velha valise. A tal valise. Eu nunca saberia o que acontecera ali naquela noite entre minha vizinha e aquele estranho.

- Sabe que ela morreu, não é? – eu disse.

- É o destino de todos nós – respondeu com sua voz rouca.

- E você não viu nada?

- Como disse à sua mãe, a encontrei no chão da cozinha e a trouxe para o quarto.

- Você não teve nada a ver com isso?

Ele não se ofendeu como eu achei que faria. Pelo contrário, acendeu um cigarro preto e sorriu.

- Quisera eu que a morte tivesse um razão.

- E eu queria que você deixasse o espírito dela livre.

Ele me encarou e riu. Riu tanto que quase engasgou.

- Deixe-me ir, rapaz, já está chovendo outra vez e eu preciso de um novo lugar pra ir. A polícia me quer longe daqui.

Ele saiu do sobrado, deixando seus passos na lama. Então, apavorado, eu vi que outros passos eram deixados atrás deles. Muitos passos. Senti um frio percorrer meu corpo, pois ele não saía sozinho da casa. Cheguei até a soleira do portão e enquanto ele seguia a rua sob a chuva até o ponto do bonde, pude ver as pegadas nas poças d`água atrás dele. Ele conversava com alguém. Quando o vento bateu, soprando a chuva na diagonal, eu vi formas distintas de pelos menos treze pessoas que o seguiam. Ele olhou pra trás e riu, me dando a certeza de que dona Rosália estava certa. Aquele homem maldito, que chegou com a chuva e se foi com ela, colecionava fantasmas. E ela, assim como seu filho, era agora uma das peças da coleção.

BERENICE

Apesar de não acharmos mais nosso ambiente digno de receber a visita do grande mestre Pöe, mesmo assim resolvemos publicar uma de suas obras máximas, grande clássico de literatura fantástica mundial; obrigatório para todos os fãs do gênero.




B E R E N I C E

Edgar Alan Pöe




A desgraça neste mundo é variada; uniforme é a miséria. Dominando o vasto horizonte como o arco-íris, como ele as suas cores são diversas, distintas e todavia intimamente fundidas.

Dominando o vasto horizonte como o arco-íris! Como pude de um exemplo de beleza tirar um tipo de feiura? De um emblema de paz e aliança tirar uma semelhante dor? É que, assim como na ética o mal é a conseqüência do bem, na realidade, é da alegria que nasce o desgosto: se a lembrança da felicidade passada produz as amarguras de agora, as amarguras que existem têm a sua origem nos prazeres que podiam ter existido.

A história que vou contar é, por essência, uma história de horror. De boa vontade a suprimiria, se não fosse mais uma crônica de sensação do que uma crônica dos fatos.

O meu nome de batismo é Egaco; do nome da minha família guardarei segredo. Não há em todo o país um castelo mais carregado de anos e de glória do que o velho e melancólico solar dos meus avós. Desde tempo imemorável, chamavam nossa família de raça de visionários. De fato, em muitos pormenores notáveis, no tipo do nosso castelo, nas pinturas do enorme salão, nas tapeçarias dos aposentos, nas cinzeladuras das colunas da sala de armas; porém, mais especialmente, na galeria dos quadros antigos, na decoração da biblioteca, e, também, na natureza muito particular do conteúdo dessa biblioteca, há de sobra por que justificar aquela denominação.

A recordação dos meus primeiros anos está intimamente ligada àquela sala e aos seus livros, dos quais não mais falaria. Foi lá que morreu minha mãe. Foi ali que eu nasci (se é que não vivia antes; se é que alma não tem existência anterior). Mas não discutamos agora este assunto. Estou convencido, não procuro convencer. Na minha memória, há uma reminiscência de formas etéreas, de olhos intelectuais e expressivos, de vozes harmoniosas e melancólicas; uma reminiscência que não quer me deixar; uma espécie de lembrança como uma sombra vaga, variável, vacilante. Sombra essencial, da qual não poderei separar-me enquanto o meu cérebro fulgir a luz da razão.

Foi naquele quarto que eu nasci. Emergindo assim das longas trevas, que pareciam ser, mas que não eram, o nada, para cair subitamente num país maravilhoso, num palácio fantástico, nos estranhos domínios dos pensamentos e da erudição monástica, não é para admirar que tenha lançado, em torno de mim, um olhar surpreso e ardente que consumiu a minha infância lendo livros e a minha juventude em devaneios. Mas o que é peculiar, (passados os anos e no auge da vida, ainda me encontrar na mansão dos meus antepassados) o que é estranho, é a inércia que me paralisou os órgãos essenciais da vida; é a inversão total que ocorreu nas características dos meus pensamentos mais simples. As realidades do mundo não me impressionavam senão com visões, enquanto as idéias loucas do país dos sonhos eram, não uma preocupação com a minha vida, mas seguramente a única razão da minha existência.

* * * *

Berenice e eu éramos primos e crescemos juntos na casa da família. Mas crescemos diversamente. Eu, doentio e envolvido na minha melancolia; ela ágil, graciosa e exuberantemente ativa. Para ela, os passeios pela colina, para mim, os estudos do claustro. Eu, encerrado em mim mesmo, dedicando-me de corpo e alma à mais intensa, à mais penosa meditação; ela, divagando descuidada através da vida, sem pensar nas sombras do caminho, nem na corrida silenciosa das horas. Berenice! Berenice! Quando invoco o seu nome, mil lembranças tumultuosas ressurgem sombrias da minha memória! Ah! Vejo-a ainda risonha, diante de mim, como nos seus dias de felicidade e alegria! Oh! magnífica e fantástica beleza! Oh! sílfide dos bosques de Arnhein! Oh! Náiade das fontes! E depois... e depois tudo é mistério, terror! uma história que não quer ser contada.

Um mal, um mal funesto soprou forte, como o vento africano, sobre a sua compleição; de um momento para outro passou sobre ela o espírito da metamorfose e arrebatou-a, penetrando-lhe o espírito, os hábitos, o caráter e, do modo mais sutil e terrível, perturbando-a, metamorfoseando-a radicalmente! Ai o destruidor vinha e voltava, mas a vítima, a verdadeira Berenice, que era feito dela? Aquela não era a mesma; pelo menos eu não a reconhecia mais por Berenice.

Entre a numerosa série de males, carreados pelo ataque principal, que fizera uma transformação tão horrorosa no ser físico e moral de minha prima, é preciso mencionar, como o mais aflitivo e o mais teimoso, uma espécie de epilepsia que muitas vezes terminava em catalepsia per-feitamente semelhante à morte, da qual ela despertava quase sempre de modo brusco, repentino.

A mesmo tempo, a minha doença também aumentava rapidamente e, agravando-se os sintomas pelo uso imoderado de ópio, tomou finalmente o caráter de uma monomania totalmente nova e extraordinária. De uma hora para outra, de um minuto para outro, ganhava forças até que chegou a adquirir sobre mim um domínio singular e desconhecido. Aquela monomania (se devo servir-me deste termo) consistia numa irritabilidade mórbida das faculdades do espírito que a linguagem filosófica denomina: faculdades de atenção. É muito provável que não me compreendam; e temo realmente que me seja absolutamente impossível dar ao comum dos leitores a idéia exata da nervosa "intensidade de interesse" com a qual a minha faculdade meditativa (para evitar a linguagem técnica) se aplicava e se absorvia na contemplação dos objetos mais comuns do mundo.

Meditar infatigavelmente horas e horas perdidas sobre qualquer citação pueril escrita à margem ou texto de um livro; ficar absorto, a maior parte do dia, na contemplação de uma sombra estranha, projetando-se obliquamente ao longo do assoalho ou da tapeçaria; esquecer-me uma noite inteira a observar a luz da lâmpada ou as brasas do fogão; sonhar dias inteiros com o perfume de uma flor; repetir, sem variação, alguma palavra vulgar, até que, à força de repetida, deixar-se de representar ao espírito a menor idéia; perder inteiramente o sentimento do movimento ou da existência física, para cair numa aquietação absoluta, obstinadamente prolongada, tais eram as mais comuns e as menos perniciosas aberrações das minhas faculdades mentais; aberrações encontradas em casos similares mas que não têm, por certo, explicação ou estudo.

Para ser bem claro, devo dizer ainda que aquela atenção intensa e mórbida, assim excitada pelos objetos mais comuns, era de natureza basicamente diversa da tendência que a humanidade tem pela meditação e à qual se entregam, principalmente, a divagações ardentes. Também não era, como poderia parecer à primeira vista, um excesso ou exagero dessa tendência, mas era radicalmente diferente dela, até pela sua natureza. No primeiro caso, o pensador, o homem imaginativo, interessando-se por um objeto (geralmente não banal) perde-o de vista, pouco a pouco, através da variedade de dedução e sugestões que lhe inspira, a ponto de, quando chega ao fim de um desses sonhos, por vezes com grande prazer, ter se afastado e esquecido o "incitamentum" ou causa primária das suas reflexões. No meu caso, o ponto de partida era "invariavelmente frívolo", uma vez que revestido pela minha imaginação doentia como de suma importância. Fazia poucas ou nenhu-mas reflexões e, quando as fazia, voltavam obstinadamente ao objeto central. As meditações não eram agradáveis e, no fim do sonho, a causa primária, longe de estar esquecida, atingia um interesse sobrenatural, que era a feição dominante do meu mal. Numa palavra, a faculdade de espírito mais particularmente excitada em mim era, como já disse, a faculdade de atenção, enquanto no pensador normal a faculdade mais desenvolvida é a da meditação.

Os meus livros, naquela época, se não contribuíam positivamente para ativar o mal, participavam fortemente, pela sua natureza imaginativa e irracional, das qualidades características da própria doença. Lembro-me, entre outros, do tratado do nobre, Coelius Secundos Curio, "De amplitudine Beati de Dei"; da grande obra de Santo Agostimho, "A Cidade de Deus", e do "Carne Christi" de Tertuliano, cujo estranho pensamento: "Mortuus est Dei Filius; credibili est quia ineptum est; et spultus resurrexit; certum est quia impossibile est", absorveu totalmente toda a minha existência, durante muitas semanas de laboriosas e infrutíferas investigações.

A minha razão, assim desequilibrada por coisas insignificantes, fazia lembrar aquela rocha marítima de que fala Ptolomeu Hephestion, a qual resistia imutável a todos os ataques dos homens, e até ao furor dos ventos e das tempestades, mas que tremia só ao contato da flor chamada asfódelo. Ao pensador desatento, parecerá evidente que a alteração terrível produzida no estado moral de Berenice, pela sua doença deplorável, devesse me fornecer um grande assunto para exercer a meditação anormal, cuja natureza acabo de explicar. Pois bem! não aconteceu assim. Nos intervalos lúcidos da minha enfermidade, a desgraça de Berenice realmente me causava dor. Enternecia-me profundamente a ruína total da sua vida alegre e doce. Meditava muitas vezes e com amargura sobre as causas terríveis e misteriosas que tinham produzido tão estranha e repentina transformação. Mas essas reflexões análogas ao homem comum não funcionavam com a idiossincrasia do meu mal. Durante os acessos, a minha monomania, fiel ao seu caráter frívolo, preocupava-se apenas com as alterações menos importantes, se bem que mais evidentes, que se manifestavam no sistema físico de Berenice; na incomum alteração da sua identidade.

Nunca havia amado minha prima nos seus dias de fulgurante e incomparável beleza; mesmo porque, na estranha anomalia da minha existência, os sentimentos me vinham mais do espírito que do coração. Muitas vezes, através das nuvens do crepúsculo e ao meio-dia, pelas sombras da floresta, ou de noite na minha biblioteca, vendo-a passar diante de mim, contemplava-a, não como a Berenice viva e palpável, mas como a Berenice de um sonho, não como um ser terrestre, carnal, mas uma abstração da realidade; não como uma criatura para admirar, mas uma coisa para se analisar; não como um objeto de amor, mas como tema de meditação, indefinida e irregular. Mas agora, tremia na sua presença, empalidecia à sua aproximação. Contudo, lamentando amargamente a sua lamentável decadência, lembrei de que me amara durante um tempo e uma vez lhe falei de casamento.

Aproximava-se a época do nosso noivado quando numa tarde de inverno, calma, enevoada, inesperadamente quente, sentei-me, na biblioteca. Pensei estar só, mas erguendo os olhos vi Berenice, em pé, diante de mim.

Ou a minha imaginação exaltada, ou a influência nevoenta da atmosfera, ou o crepúsculo incerto do cômodo, ou o vestido negro que trajava, lhe emprestou aquela imagem trêmula e insegura? Não sei dizer. Ela não proferiu uma palavra e eu, naquele instante, não teria podido pronunciar uma sílaba sequer. Pelo meu corpo correu um tremor gélido. Senti-me oprimido por uma sensação de agonia incontralável e a minha alma foi subitamente invadida por uma crescente curiosidade. Mas permaneci imóvel, recostado na poltrona, sem fala e respiração, com os olhos nela. Ai! a sua magreza era espectral! Nem um vestígio do ser primitivo, nem um só dos seus contornos havia sobrevivido! Meu olhar ardente fixava-se no seu rosto.

Tinha a fronte erguida, muito pálida e estranhamente plácida. Os cabelos, outrora negros como carvão, caíam-lhe sobre as fontes encovadas, em anéis de um loiro forte, caracterizando uma imagem que discordava cruelmente com a tristeza dominante da sua fisionomia. Os olhos sem vida, nem brilho, pareciam não ter pupilas. Desviei involuntariamente a vista do seu olhar envidraça-do e observei seus lábios finos e tesos. Estes entreabriram-se num sorriso estranho e os dentes da nova Berenice surgiram lentamente à minha vista. Quisera Deus que nunca os houvesse visto, ou que, ao vê-los, tivesse morrido!

* * *

De repente ouvi o som da porta se fechar e levantei os olhos para ver que minha prima deixara o aposento. Mas o espectro horrível dos seus dentes brancos tinham ficado no meu cérebro desordenado e não queria sair. Não havia uma depressão na superfície, uma pequena diferença no esmalte, um bico nas suas arestas, que aquele sorriso passageiro não me tivesse deixado forte impressão na memória.

Via-os agora ainda mais distintamente que os vira antes. Os dentes! os dentes! Estavam ali, acolá, por toda parte, visíveis diante de mim; compridos, estreitos e excessivamente brancos, circundados pelos lábios pálidos e horrivelmente esticados.

Então, chegou a fúria da monomania. Em vão lutei contra a sua influência estranha e irresistível. No número infinito dos objetos do mundo exterior, só os dentes me preocupavam. Desejava-os freneticamente! Todos os outros assuntos, todos os interesses diversos foram suplantados por aquela única visão. Eles, só eles estavam presentes aos olhos do meu espírito e a sua individualidade exclusiva tornou-se a essência da minha vida intelectual. Via-os a todas as horas e a todos os instantes. Estudava-lhes as características. Observava-lhes os sinais particulares. Meditava sobre a sua conformação. Refletia na alteração da sua natureza. Estremecia, atribuindo-lhes na imaginação uma faculdade de sentimento, de sensação e uma capacidade de expressão, mesmo sem o auxílio dos lábios. Dizia-se, com razão, de "mademoiselle" de Sallé, que todos os seus passos eram sentimentos. De Berenice acreditava eu intimamente que todos os dentes eram idéias. Idéias! ah! eis o pensamento absurdo, que me perdeu, Idéias ah! aí está a razão pela qual eu os invejava tão loucamente! Sentia que só a posse me podia restituir a paz e a razão.

E assim a noite desceu sobre mim! Vieram as trevas, instalaram-se e tornaram a fugir! E um dia novo apareceu! E em redor de mim amontoaram-se as sombras de uma segunda noite. E eu, sempre imóvel naquele quarto solitário, sempre sentado, sempre envolvido na minha meditação! E o fantasma dos dentes mantinha sempre a sua terrível influência, a ponto de flutuar, continuamente, aqui e lá, com a mais espantosa nitidez, ora através da luz, ora através das trevas do aposento. Enfim, no meio dos seus sonhos, retumbou espantoso grito de horror, ao qual sucedeu, depois de breve silêncio, o ruído de vozes desoladas, entrecortadas de gemidos surdos, de suspiros, de choro e de dor. Levantei-me e, abrindo uma das portas da biblioteca, encontrei na antecâmara uma criada, em lágrimas, que me disse que Berenice deixara de existir! De manhã fora atacada de epilepsia. E agora, ao cair da tarde, o túmulo esperava sua próxima moradora; todos os preparativos do enterro estavam terminados!

* * *

Aflito e gelado de terror, dirigi-me com repugnância para o quarto da morta. O quarto era grande e muito escuro. Os meus pés esbarravam a cada passo com o preparos do sepultamento. Sob as cortinas do leito (disse-me um criado) estava o caixão e naquele caixão (acrescentou em voz baixa) jaziam os restos de Berenice.

Quem me perguntou se não queria ver o corpo? Não vi que nenhum dos lábios se movessem, contudo a pergunta havia sido feita. O eco das últimas sílabas ressoava ainda pelo aposento. Era impossível recusar. Com um sentimento de terrível pressão, caminhei para o leito. Levantei lentamente os cortinados e deixei-os cair por trás de mim, ficando por dentro deles, separado do mundo dos vivos, na maior intimidade com a morta!

Toda a atmosfera do quarto exalava a morte e o ar em torno do ataúde sufocava-me; era como se o cheiro deletério já saía do cadáver. Naquele momento teria dado qualquer coisa para fugir daquela influência depressiva da mortalidade, para respirar, ainda uma vez o ar puro do céu infinito. Mas meus movimentos estavam paralisados, vacilavam os joelhos, meus pés enraizados no solo e os olhos não queriam despregar-se daquele corpo rígido, estendido de comprido no caixão ainda aberto.

Justo céu! É impossível! Foi a alucinação do meu cérebro ou moveu-se mesmo o dedo da defunta dentro do tule que a envolvia? Trêmulo de inexplicável terror, voltei o olhar para a fisionomia do cadáver. O lenço, que lhe segurava o queixo, desatara-se, não sei como. Os lábios lídidos torciam-se numa espécie de sorriso, e naquela moldura lúgubre, os dentes de Berenice, brancos, luzidios, terríveis, pareciam me olhar como se fosse algo vivo! Desviei-me do leito compulsivamente e, sem pronunciar uma palavra, saí correndo como um maníaco, daquele quarto carregado de misté-rio, horror e morte!

* * *

Achei-me sentado, outra vez só na biblioteca. Era meia-noite. Parecia-me ter saído de um sonho confuso e agitado. Sabia que Berenice fora enterrada depois do pôr do sol, mas não guardava nenhuma lembrança clara ou visão definida do que havia se passado naquele intervalo lúgubre. No entanto a minha memória se revolvia de um terror dúbio e vago e por isso mais perturbador. Era como uma página horrorosa do registro da minha existência, escrita em caracteres estranhos, medonhos e ininteligíveis, que em vão me esforçava por decifrar. De vez em quando, semelhante ao eco de um som abafado, vibrava-me nos ouvidos um grito fraco e agudo, uma voz de mulher. Que tinha feito eu? perguntava a mim mesmo em voz alta. E os ecos do aposento me respondiam murmurando: "Que tinha feito eu?"

Em cima da mesa, ao meu lado, havia um abajur e junto dele uma caixinha de ébano. Aquela caixa não representava nada de especial, já a tinha visto muitas vezes porque pertencia ao médico da família. Mas como tinha ela vindo parar ali, em cima da minha mesa? E por quê tremia eu ao contemplá-la? Realmente, não valia a pena pensar nisso. Entretanto, os meus olhos, encontrando as páginas de um livro aberto, fixaram-se numa frase sublinhada. Eram as palavras singulares, mas muito simples, do poeta Ebn Zaiat, sobre chefe militar que, ao morrer, autoriza os soldados a saquearem o próprio túmulo. - Por quê, ao lê-las, se me arrepiaram os cabelos? Por quê me gelou o sangue nas veias?

De repente, bateram de manso à porta da biblioteca e um criado, pálido como um habitante do túmulo, entrou na ponta dos pés. Tinha os olhos esgazeados de terror e a sua voz trêmula e abafada falou-me em tom quase imperceptível. Que me disse? - Não ouvi senão algumas frases truncadas. Creio que me contou sobre um grito horroroso que perturbou o silêncio da noite e que todos os criados tinham corrido na direção do som. Então a sua voz baixa se tornou exageradamente clara, ao falar da violação de uma sepultura, de um corpo desfigurado, despojado da mortalha, mas respirando ainda, palpitando ainda, "ainda vivo!"

Então olhou para a minha roupa e ela estava manchada de sangue! Sem dizer uma palavra, pegou-me na mão e ela tinha as marcas de unhadas humanas! Depois apontou para o ojeto que se encontrava encostado na parede; era uma enxada!

Soltando um grito medonho, precipitei-me sobre a mesa e agarrei a caixa de ébano; mas minhas mãos trêmulas não tiveram força para segurá-la. A caixa caiu no chão, espalhando, com um tinir de ferragens, alguns instrumentos de cirurgia dentária e, ao mesmo tempo, trinta e duas coisinhas, brancas como marfim, se dispersaram por aqui e acolá, no solo do aposento...

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