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12.11.06

PESADELO


De: Henry Evaristo
















Noite passada sonhei com uma invasão de alienígenas. Vi milhões de naves, pequeninas e gigantescas, avançando por sobre os prédios de uma grande cidade adormecida. De algum ponto de uma região rural em que me encontrava, sentia-me impossibilitado de auxiliar quem quer que fosse, meus entes queridos, meus amigos, meus inimigos. Tudo para mim agora se acabava na visão daquelas luzes multicores oscilando por sobre os campos longínquos abaixo de um céu revolto de tempestade. Uma tristeza tão profunda se apossara de mim que o peso em meu peito quase chegava a ser ainda maior que o medo da violência que parecia se avizinhar.

Com lágrimas em meus olhos corri por uma estrada deserta que cortava extensa e sombria região de fazendas antigas e silentes e, à falta de qualquer avistamento de alguma criatura humana, meu corpo tremeu como o de uma criança perdida no escuro de seu quarto quando lá fora o vento açoita os galhos de alguma árvore ancestral que lança sombras como diabos dançantes nas vidraças. Do horizonte chegava aos meus ouvidos como que o zumbido de algum engenho demoníaco misturado aos lamentos dos primeiros homens e mulheres massacrados pelas intenções que se apoderavam da terra. Senti o frio da madrugada ardendo em meus pulmões enquanto continuava avançando por tamanha escuridão solitária, e então me chegou às narinas o hediondo odor adocicado de algum tipo de carne escusa que queimavam ao longe. Junto a tudo, como que para piorar ainda mais meu horror, havia a fina chuva que caia e que tornava o mundo ainda mais soturno e terrível.

A estrada parecia não ter fim e minha exposição naquele lugar aberto colocava cada vez mais minha vida em risco. Eu, porém, apenas conseguia pensar naqueles que me eram caros e que, misteriosamente, naquele momento, se encontravam longe de mim. Meus pensamentos me faziam avançar cada vez mais rápido a despeito das possibilidades de meu corpo que já começavam a me abandonar. Em minha mente via aqueles veículos alados, discos voadores prateados e cinzas, atacando impiedosamente os lugares que me eram caros pelos quais pareciam ter uma nefanda predilação; e contra tudo o que eu mais amava eles incidiam com fúria titânica. Era como uma perseguição cósmica; como se aqueles inimigos houvessem saltado de seu porão no universo para liquidarem especificamente comigo e, em meus loucos devaneios, até mesmo suas caras repuxadas se assemelhavam à minha enquanto apontavam suas estranhas armas para os meus familiares.

Alucinado corri e corri por aquela estrada escura e as cinzas dos mortos da terra me cobriam as vestes ensopadas. Por todos os lugares via agora os executores dos homens. Podia enxergá-los saindo de detrás das árvores que margeavam meu caminho. Soube então, agora mais do que nunca, que finalmente estava só no mundo e a mortificação desta vez me dominou por completo fazendo-me dobrar os joelhos e desabar sobre o asfalto úmido embaixo de meus pés.

Prostrado fiquei no meio daquele caminho que era antes um solitário corredor de campos, fazendas e matas longínquas, mas que agora fervilhava com a presença ominosa de seres metade pássaro, metade peixe. Dominado por um medo mortal, curvei minha cabeça num desesperado sinal de submissão pelo qual talvez tivesse minha vida poupada. Depois de alguns minutos uma daquelas coisas "peixe-pássaro" se aproximou de mim flutuando num uniforme translúcido que deixava a vista sua pele flácida e asquerosa. Ela me olhou e tocou-me com uma de suas mãos... Ou... Patas. Depois falou qualquer coisa com os outros que nos rodeavam e então, ó agonia minha, todas aquelas bestas começaram a rir de mim e apontar-me com suas garras encarquilhadas.

No momento seguinte, todos, de uma só vez, desapareceram. E todo o som e toda a cinza se escoaram junto de forma que tudo voltou a estar imerso em silêncio e calma como estivera antes, em seus dias comuns. Como se nada daquilo houvesse existido, me encontrei só novamente no meio da estrada. Mas um sentimento esmagador de inquietação começava a me dominar para além de tudo o que eu já experimentara até então.

Calado e atento avancei para a cidade e, por onde passei, mesmo depois do amanhecer, jamais avistei outra presença que não fosse a da minha própria sombra se arrastando atrás de mim. Não restara mais ninguém em todos os lugares que visitei e, nos anos seguintes, em minha triste solidão, me aventurei por todos os recantos que me eram humanamente possíveis sem o auxílio de um automóvel; visto que todas as máquinas estavam paradas, queimadas, mortas como o resto do mundo. Porém, suas carcaças continuavam intactas brilhando ao sol como vi em uma enorme rodovia abandonada ao sul: milhares de carros, vans, caminhões; Inertes como se tocados pela morte que toca o homem; E aquilo servia apenas para demonstrar para meus nervos abalados que o poder que viera com os estranhos ainda estava presente de alguma forma e que, algum dia, era provável, seus proprietários voltariam para reivindicá-lo.

Estabeleci-me bem alto em um edifício de luxo quando entendí que agora tudo me pertencia. Com o passar do tempo meu organismo acostumou-se a ingerir e processar os mais diversos tipos de alimentos não comuns ao homem.

Todas as noites ia até a janela e observava a escuridão lá fora. Jamais avistei sequer o brilho de alguma ínfima luz no horizonte e as silhuetas dos prédios imersos nas trevas se assemelhavam a terríveis animais gigantes me espreitando do escuro. No alto, as terríveis estrelas eram as únicas testemunhas de minha agonia; elas e as caras repuxadas que se esgueiravam por trás. Era o que eu, na verdade, esperava avistar olhando de volta para mim em meio às trevas do mundo.

Assim foi o meu sonho... meu pesadelo. Não sei até que ponto ele faz sentido a não ser como testemunho de nossa solidão eterna em meio à vastidão opressora do universo.


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