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16.9.09

O PALHAÇO - Lino França Jr.

Escritor Lino França Jr. presenteia nossos leitores com um conto assustador sobre uma criatura paradoxal; o palhaço representa um grande terror nas infâncias de milhares de pessoas quando deveria ser apenas uma figura de alegria e entretenimento. Reviva seus momentos de pavor de palhaços com mais este texto obrigatório da literatura fantástica nacional que a Câmara traz para você! Boa leitura!




O PALHAÇO

Lino França Jr.


Henrique nem esperou o pai estacionar direito o automóvel. Abriu a porta traseira do veículo e saiu correndo para o portão de entrada da casa do primo Mateus.

Em todos os aniversários do primo, Henrique se divertia muito. A algazarra já era imensa nos jardins da residência do parente. O garoto já mirou de longe um grande número de crianças, além da presença de mágicos, bailarinas e palhaços, muitos palhaços, para animar a festa.

Depois de cumprimentar os primos e os tios, Henrique correu pro meio da bagunça. Como sempre, participava de todos os jogos e brincadeiras de forma entusiasmada junto com as demais crianças. De repente, algo lhe chamou a atenção. Um dos palhaços estava num canto, sozinho e deslocado dos demais. O bufão olhava para o amontoado de crianças barulhentas e apenas ficava parado fazendo malabarismos com quatro bolas coloridas nas mãos. O garoto encarou o palhaço que parecia sentir o olhar de Henrique, e então devolveu aquele olhar. O garoto fez um aceno e deu um sorriso para o palhaço que não o retribuiu, apenas continuou a jogar as bolas para o ar mecanicamente. Sequer um sorriso surgiu no rosto da figura de cabelos vermelhos, cara pintada e roupas exageradamente coloridas.

O garoto ficou sem graça com a falta de reação do palhaço, mas virou-se e continuou brincando com as demais crianças.

Após determinado tempo, Henrique teve aquela velha sensação de que alguém nos observa. Parou por um momento com a divertida correria atrás dos outros garotos e olhou pra trás. Não viu o palhaço. Ao se virar, encarou a perturbadora visão. O tal palhaço estava na porta da cozinha do casarão fazendo seus malabarismos, mas em vez das quatro bolas coloridas, os objetos que subiam e desciam em sincronia, eram quatro pequenas cabeças ensangüentadas. O menino aperta os olhos pra tentar reconhecer aqueles rostos. Não demora muito pra identificá-los. Além da sua cabeça, o horripilante palhaço brinca calmamente com os crânios de seu pai, sua mãe e sua irmã caçula. Henrique eleva o olhar para o palhaço que ameaça um sorriso, mas nesse instante, o primo Mateus o segura pelo braço, fazendo-o saltar de susto. Henrique desperta do transe e volta a procurar a figura medonha. De frente à porta, lá está o palhaço brincando monotonamente com as bolas coloridas.

A festa continua, mas Henrique não consegue mais se divertir. As horas passam, canta-se o parabéns, corta-se o bolo, e a festa chega ao seu fim.

Ao entrar no carro dos pais, o garoto percebe a chegada de alguém atrás de si. O palhaço com a mão cheia de balões amarrados por barbantes, oferece um deles a Henrique. O garoto estende a mão pra apanhar o presente, mas o que vê no lugar do fio é uma serpente negra com a boca escancarada, pronta pra dar o bote. O garoto puxa a mão rapidamente e entra no carro dando um grito de pavor. Os pais e a irmã olham para o palhaço sem nada entender, pois em sua mão nada mais há além das singelas bexigas multicoloridas.

Ao chegar em casa, Henrique sobe as escadas apressado em chegar ao seu quarto. Tranca a porta e liga a televisão num canal qualquer. Tenta fechar os olhos esperando o sono, mas a visão do terrível palhaço continua a povoar seus pensamentos. Com muito custo, o garoto acaba cedendo ao cansaço e adormece. O sono é interrompido com o som das janelas do quarto batendo violentamente num vai e vêm devido ao vento cortante da madrugada gelada. Henrique levanta-se e vai até a janela para fechá-la. Ao olhar pra rua, parado do outro lado da calçada está o palhaço de seus pesadelos. Nas mãos, o estranho ser leva um enorme facão manchado de sangue. O rosto continua sem expressão alguma, apenas a maquiagem carregada que agora está toda disforme, como se seu rosto tivesse sido queimado e derretido. O olhar da figura na rua fulmina os olhos de Henrique que fecha a janela rapidamente e corre em direção ao quarto dos pais. Na cama do casal, apenas dois corpos inertes repousam sob o edredom empapado em sangue. O garoto ainda acende a luz para constatar o inevitável. As cabeças dos pais foram decepadas e levadas de lá. Henrique abafa um grito enquanto um cachorro lá fora, uiva alto fazendo os pêlos do braço do garoto arrepiarem-se.

Na ponta dos pés, e sentindo as lágrimas descendo pela face, o garoto cruza o corredor em direção ao quarto da irmã. Torcendo pra não ter a mesma horrenda surpresa. Henrique abre a porta do quarto lentamente. Pra seu alívio, a irmãzinha não está na cama. O garoto segue pelo corredor sem acender as luzes. Lá fora o cão volta a soltar um horrível uivo. O irmão chama baixinho o nome de Sara, na esperança de encontrar a irmã há tempo de fugir dali. Consegue chegar à sala, e desesperadamente corre os olhos pelo sofá e pelo chão buscando a irmãzinha ainda com vida, mas nada encontra. Bate a mão na maçaneta da porta da sala, buscando a garagem. Um relâmpago ilumina o lugar, seguido de um trovão que explode no céu negro. O sangue de Henrique gela ao ver na luminosidade do raio, a figura nefasta do palhaço com o facão ensangüentado numa das mãos e na outra a pobre Sara, suspensa no ar pelos cabelos presos pela enorme mão do invasor. Ao ameaçar uma corrida pra tentar salvar a irmã, o palhaço num movimento rápido, degola a cabeça da garotinha, fazendo o corpinho infantil bater com força no chão gelado. Henrique estanca a corrida sem acreditar no que vê. Outro raio cruza o firmamento e o garoto assiste o palhaço assassino abrir a porta da garagem pra ganhar a rua. O monstro vira-se pro garoto congelado pelo medo e lhe presenteia com um sorriso sinistro, exibindo uma porção de dentes podres na boca. O hálito quente e pútrido chega às narinas de Henrique. O palhaço levanta a mão, segurando pelos cabelos quatro pequenas cabeças. E mais uma vez o garoto as reconhece: seu pai, sua mãe, sua irmã Sara, mas desta vez não é a sua a quarta, mas sim de seu primo Mateus. O palhaço joga uma a uma as pequenas bolas para o ar e inicia seu malabarismo macabro em direção a rua, deixando Henrique sozinho na calçada, quando a tempestade finalmente chega.

O IMPROVÁVEL YOU -KODDLACK - Victor Meloni

O escritor Victor Meloni, mestre das estruturas literárias complexas e profundas, marca presença na Câmara com um conto excepcional; desde já um clássico da literatura fantástica brasileira. Boa leitura!


O IMPROVÁVEL YOU-KODDLAK


Victor Meloni


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“...Ainda um beijo no teu corpo pálido
E aqueles lábios que já foram tão quentes – Meu Coração!Meu coração!”(Lord Byron)


O professor doutor You-Koddlak era um adepto do utilitarismo. O bem da maioria, se necessário, às custas da má sorte de uns poucos. E pragmático também. Diziam alguns que de maneira excessiva, inclusive. Talvez isso fosse parte da sua natureza escandinava, algo com o qual ele já nascera. De todo, o Sr. Koddlak, homem de ação, considerava que comentários pejorativos às suas posições ideológicas, na maioria das vezes eram fruto da ignorância daqueles que se davam ao trabalho de tanto. E ele não deixava de ter certa razão, afinal é difícil para intelectos pouco capazes, entender o posicionamento de um sujeito utilitarista. Não raras vezes, o julgavam insensível.

Koddlak cultivava certas virtudes como poucas pessoas são capazes. Acreditava piamente que a vida só pode ser gozada de maneira satisfatória caso a pessoa entendesse que o bem em si não há, está para ser feito, daí a necessidade ferrenha de se por em prática determinadas, mas grandes, virtudes. Estas norteavam sua vida, pois atendiam, e respondiam ao mesmo tempo, à sua visão utilitarista de mundo. Quando terminou seu doutorado em antropologia percebeu mais claramente o singular horizonte de conhecimento sobre a espécie humana que seus estudos construíram. Esses conhecimentos eram fundamentais para sua segurança. Conhecer, saber, o máximo possível a respeito do homem se tornava condição sine qua non para sua sobrevivência.

You-Koddlak trabalhava em uma conceituada universidade, como professor e pesquisador. Usufruía de todos os privilégios e oportunidades que a reputação destes cargos oferecia. Com distinção e louvor. Sua vida profissional e privada eram dois mundos diferentes. Praticamente ninguém sabia nada sobre seus hábitos. A não ser pequenos detalhes como endereço, telefone, e-mail. Ainda assim, esses dados eram usados somente em casos onde o contato se desse no âmbito profissional. Sobre seu passado, sabia-se que era natural da Noruega e fora, parece, casado. Sem filhos. Se havia algum parente, não dizia muita coisa sobre. Na verdade só argumentava que todos ficaram na Noruega. Era o máximo que permitia saberem. Alto, muito, era dono de um físico bem pouco ordinário. Peculiarmente atlético. Curioso, diziam as pessoas, é que ele nunca fora visto praticando exercícios físicos para justificar este último predicado. Apesar de não saberem exatamente sua idade, sua fisionomia parecia entregar algo perto dos quarenta e cinco aproximadamente.

Koddlak há muito percebera que destoava da maioria. Desde pequeno havia uma clara, às vezes gritante, diferença no seu desenvolvimento motor e cognitivo. Parecia estar anos a frente de seus colegas. Seus familiares e professores diziam que ali se encontrava um mini-gênio, um superdotado que precisava de um suporte educacional diferenciado do fornecido pelas instituições regulares. De fato era necessário, mas não foi o que aconteceu. Muito cedo também, Koddlak entendeu a origem de suas habilidades e percebeu que seria necessário trazê-las para a normalidade caso quisesse manter-se num certo anonimato. E foi exatamente isso o que fez. De repente passou a se comportar como as demais crianças, e sua comunidade acabou pensando que havia se enganado, que aquilo fora só um equívoco. You-Koddlak não passava de um garoto comum, como todos os outros.

Apesar de não ser um misantropo, o Doutor Koddlak não fazia nenhuma questão de desmentir esta aparência. Isto afastava as pessoas o suficiente para que sua privacidade fosse respeitada. E isto era importante, demais. Pois acontece que até mesmo os gênios estão à mercê de impulsos básicos que invariavelmente precisam ser atendidos. Caso contrario, com imprudente freqüência eles nos trairão. E isto era absolutamente inaceitável no caso de Koddlak. Seu cérebro reptiliano era exatamente igual ao dos “Ypsolones”. Justiça seja feita, o seu era muito mais voraz. Algumas de suas necessidades básicas não podiam ser adiadas por muito tempo. A “fome” era grande demais.

Amy soube disso, como tantas outras, da pior, ou no caso de Koddlak, da única maneira possível. Apesar de ser um sujeito de poucos amigos, You sabia ser extremamente sedutor. Não só pela erudição que transbordava, e pelo biótipo estereotipado de macho dominante. As mulheres comentavam que, uma vez na linha de ação de seu olhar, era muito difícil quebrar o “feitiço”.

Amy não o quebrou. Foi seduzida com uma propriedade assustadoramente competente. Assim era You-Koddlak.

Amy e Koddlak se conheceram em um dos bares que este freqüentava. Os bares eram escolhidos aleatoriamente. O encontro, para You, não foi por acaso. Não. Amy já havia sido escolhida há algum tempo. No entanto, todas as circunstâncias a levaram acreditar no contrário, ou pelo menos não desconfiar.

Durante horas os dois conversaram, beberam, dançaram, se divertiram como Amy provavelmente nunca havia feito com outro homem. Estava certa que aquela era uma daquelas situações perfeitas, surreais, onde encontramos, apenas quando não estamos procurando, nossa alma gêmea. You, obviamente, sabia disto tudo. E alimentou todas as expectativas, todas as crenças inebriantes de Amy.

Passaram-se mais três semanas de encontros e desencontros. You-Koddlak era paciente, precisava ser. Mas um certo instinto gritava, impaciente por ser atendido. A força de sua vontade era cada vez mais insuportável e Koddlak viu que não poderia mais adiar. Seria mais perigoso se continuasse adiando. Era preciso fazer logo, enquanto era possível ser feito da maneira “civilizada”.

Koddlak morava a cerca de 5 km da universidade, numa área de mata nativa. Uma reserva florestal. Tinha permissão para viver ali. Há alguns anos conseguiu essa autorização intermediada pela reitoria da universidade junto aos órgãos responsáveis pela preservação daquela região. Já havia levado Amy algumas vezes a sua casa. Ela era uma Vênus platinada. Belíssima. Explorava sua sensualidade com extremo bom gosto. De família tradicional e influente, Amy era, como se diz nos círculos machistas, um “sonho de consumo”.

Naquela noite, ela seria isso mesmo. Consumo.

Chegaram ao chalé por volta de duas horas da manhã de domingo. Amy estava relativamente embriagada. Ela notou que, estranhamente, Koddlak estava sóbrio, muito, apesar de ter bebido bem mais do que ela. Mesmo depois de já terem feito amor várias vezes, ela estava sempre na expectativa de sensações inéditas, pois You nunca fora repetitivo. Sua energia era fora do comum. Seu desejo chegava a “cheirar”. Amy não sentia, mas sabia que havia um aroma não captado pelos seus sentidos normais. E foi exatamente assim que aconteceu. Amy tivera outra relação inexplicável. Como se aquele sexo fosse uma arma capaz de destruir qualquer resistência, jogando no mais profundo limbo tudo aquilo que ela pensava saber sobre. Quando os dois já se recuperavam, deitados uma ao lado do outro, nus, Koddlak disse:

- Qual a tua opinião sobre mitos, lendas, folclore, essa coisa toda?

Amy não entendeu a relação, o porquê daquela pergunta inusitada. Pensou que You faria algum tipo de brincadeira. Tomaria uma atitude jocosa, ou algo parecido e usaria a deixa para se amarem novamente.

- Oras, o mesmo que todas as pessoas adultas, racionais. É só uma forma que alguns têm, ou tinham, de explicar o mundo. Os fenômenos naturais, essa coisa toda. Você como antropólogo sabe muito bem disso.

Embora o argumento de Amy fosse sério, sem nenhuma brincadeira, ela fez uma expressão de criança peralta enquanto respondia.

- E se eu lhe disser que alguns, aliás, os mais assustadores, não são lendas?

- O quê? Os mitos?- Eu diria que você está parecendo um garoto bobo querendo assustar a menina de quem gosta só para impressioná-la. Mas já vou adiantando, já estou super impressionada com você. Não precisa mais.

Com um sorriso aristocrático no rosto, Amy achou que tinha dado a palavra final e continuou:

- Quer saber? Estou morrendo de fome! O que há para comermos?

Quando ela ia se levantando para se dirigir à geladeira, Koddlak continuou:

- Eu também. Com muita fome, mais do que posso suportar. Por isso, escute bem o que vou lhe contar. É bom que você saiba o que vai acontecer, e por quê.

Naquele instante Amy notou que o ar estava pesado. Uma tensão angustiante tomara conta daquele quarto. A atmosfera tornou-se hostil, para seu desconforto.You estava sentado na cama, com o corpo arqueado, os braços cruzados e apoiados sobre as coxas. Sua cabeça pendia para baixo e era impossível ver seu rosto.

- Koddlak, o quê está havendo? Estou ficando assustada. É sério.

- Todas disseram coisas parecidas. Parece que há um discurso inconsciente para este tipo de situação, só esperando para pular boca afora.

- You...

- Chega! Agora escute. Você deve, pelo menos, saber. Dei este “presente” a todas. Durante todos esses anos. Mais anos do que é possível permitir. Mais tempo do que é humano aceitar.

- Eu vou...

Amy ainda tentou, sim tentou, mas Koddlak a interrompeu:

- Lykanthropos. Era assim que Heródoto se referia a nós. Plínio, Plauto, Ovídio. São vários os historiadores antigos que citavam-nos em suas obras. Obviamente, somos muito mais antigos que isto.

Amy começara a chorar. Nem mesmo havia percebido que estava. Não sabia bem porquê, mas sentia um terror inominável tomar-lhe. E Koddlak continuou:

- Na França nos chamam de Loup-Garou... Na Alemanha, Werwolfe... No meu país...

Um suspense esmagador cobria a atmosfera daquele ambiente. Amy queria correr, não importava se entendia ou não o que estava se passando. Medo! Ele nos avisa que devemos correr, ou lutar. Se quisermos sobreviver, é isto. O medo de Amy dizia à ela: Corra! Lutar não era a coisa certa a fazer, ela sabia. Era a coisa mais estúpida, na verdade. Todavia, correr não era possível. O medo que a aconselhava, a enregelava também. E seu corpo não obedecia. A única coisa que escutava era a sua freqüência cardíaca convulsivamente acelerada e a voz do seu interlocutor.

- Em meu país, Amy, nos chamam de You-Koddlak. Independente do lugar, entretanto, não passamos de histórias fantásticas, geralmente contadas para aquietar crianças, fazê-las obedecer aos pais, caso contrário apareceremos e...

Um som gutural saiu da direção de You. Amy não acreditava que um ser humano fosse capaz de emitir um barulho tão infernal. Acontece que Koddlak não era exatamente humano, e sim o mais próximo que Amy conheceria do inferno, em vida.

Aquele barulho, aquele som aterrador, teve um efeito ao mesmo tempo sufocante e libertador em Amy. Imediatamente ela se pôs a correr, alucinadamente. O quarto de You ficava no andar de cima do chalé. Amy desceu as escadas, que davam acesso à este, aos pulos. Passou pela sala de estar de maneira tresloucada avançando furiosamente em direção à porta. Ao abri-la, uma sombra gigante irrompeu em seu caminho, e sua fuga terminou em um baque violento contra o que parecia ser uma parede formada por membros longos e musculosos.

- A psiquiatria diz existir uma doença na qual a pessoa acredita realmente ser um animal. Age como um animal. Geralmente este animal é um lobo, daí o termo médico licantropia. De fato, há inúmeros casos relatados e documentados. Mas lhe garanto que não é o meu. Como você já está percebendo.

Ao se concentrar com mais clareza em Koddlak, Amy viu que não se tratava mais do homem que ela conhecera há algumas semanas. Sua voz estava completamente alterada. Lembrava vagamente algo humano. O timbre fornecido lembrava o som de algo duro sendo arranhado com violência. Seu corpo estava tomado por um pêlo espesso e negro, e ele ia aos poucos se apoiando sobre os quatro membros. Como um quadrúpede. No instante que dura entre o abrir e fechar de olhos de um piscar, Amy estava de frente com um enorme cão negro. Um lobo descomunal que lhe mostrava presas dilacerantes. Seu rosnado encheria de horror qualquer coisa que estivesse viva.

Amy estava pálida, incapaz de fugir. Mesmo que fosse, seria inútil. O resultado daquele instante era inexorável, ela sabia. Com a voz ainda mais perturbadora, o You-Koddlak, ou como Amy havia conhecido sua vida toda em histórias fantásticas, o Lobisomem, falou:

- O que vai acontecer você já sabe. Agora o “Por quê”. Nós precisamos nos alimentar, como qualquer criatura viva. Desde o mais simples microorganismo, até o organismo mais complexo. É uma das verdades absolutas da natureza. A única diferença é o alimento. Diferentes espécies consomem diferentes tipos de alimentos. Simples assim.

Um silêncio irregular continuou o discurso do monstro. Amy, incrédula, sentiu um alívio insólito naquele momento. Parecia que o mundo se congelara naquele breve instante (ela sabia que seria breve, muito breve) para acalmá-la. Amy, então, fechou os olhos. E não mais os abriu.

*****

As buscas continuaram por algum tempo, até a polícia orientar a família que não havia mais nada a fazer, a não ser esperar. Apesar de não ser comum, havia alguns casos de familiares que sumiam por anos a fio, sem dar uma noticia, e depois apareciam. Retornavam para a família como se nada houvesse acontecido. Em todos esses casos a família preferia manter sigilo sobre as motivações da pessoa. E a policia só podia se resignar com aquilo. Koddlak, em seu interrogatório, disse que a última vez quer vira Amy, os dois passaram uma noite agradável, e que ela estava feliz, muito feliz. Disse, inclusive, que ela passara a noite anterior ao seu sumiço em seu chalé, mas que não quisera dormir lá. Falou que ia para casa e que mais tarde telefonaria. Ele achava que o relacionamento dos dois estava caminhando para algo mais sério, contou à polícia. Como bom pragmático, aquilo soara perfeitamente objetivo para ele, considerou ao final do interrogatório.

Alguns anos depois, Koddlak encontrava-se em um dos bares que costumava freqüentar quando foi interpelado pelo irmão de Amy,Otávio:

- Doutor You-Koddlak, me desculpe, sei que há muito este assunto está encerrado para o senhor, mas...

Antes de terminar sua pergunta, o rapaz foi interrompido pela criatura num tom solene:

- Meu jovem Otávio, nunca poderei responder a sua questão. Ninguém nunca poderá. As respostas estão com Amy, apenas com ela. E, onde quer que ela esteja, nossos corações estarão batendo juntos, no mesmo ritmo. Como se nosso sangue fosse um só, misturado para sempre no amor, e na dor.

Esta foi a ultima vez que um dos familiares de Amy tentou falar dela com Koddlak. Eles consideraram ter entendido a idiossincrasia do renomado professor.

***

Na mesma noite, após o irmão de Amy ter ido embora, Koddlak inicia o diálogo:

- Uma mudança na direção do olhar costuma ser o suficiente para se ver com mais clareza!

- Perdão, o que disse?

- Antoine de Saint-Exupery... Na verdade foi ele quem disse, eu só me apropriei de sua sabedoria, pois me parece que é isto o que está acontecendo aqui.

- Então estou “olhando” para direção errada, hein Senhor..?

- Koddlak, You-Koddlak.

Sara fitou os olhos de Koddlak, profundamente, e profundamente selou seu destino.

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