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29.4.07

ERASMO E A BESTA


Um conto de Henry Evaristo


Erasmo fechou o pesado livro de capas vermelhas emboloradas às três da manhã. O tom amarelado das antigas folhas da obra obscura ainda insistia em dançar por trás de seus olhos quando ergueu a cabeça depois de ficar muito tempo refletindo sobre o saber ancestral e oculto com o qual havia acabado de ter contato.

O ar estava abafado na velha biblioteca. Era uma noite de verão, quente e estagnada, onde a umidade sufocante parecia querer estourar os pulmões dos habitantes da velha cidade e das turbas de forasteiros andarilhos que ela insistentemente atraía; e que vagavam como hordas pelas esquinas dos bairros mal iluminados, vindos de lugares ignorados; quiçá exóticos quiçá sórdidos.

Uma tênue luminosidade se filtrava pelos vitrais das janelas altas e gradeadas banhando o ambiente com um tom azul violáceo com se ali fosse o lugar de um fantástico aportar de estranhos mundos oníricos que se desprendessem do subconsciente em meio à mixórdia do universo da vigília. A pequena lâmpada fluorescente do teto não era páreo para as sombras dos cantos escuros que queriam se propagar para todos os lugares.

Erasmo, os olhos ardendo devido à leitura forçada sob tão adversas condições de iluminação, recostou-se na poltrona de veludo e passou a mão esquerda na chave da porta principal lembrando-se do que dissera, mais cedo, o segurança do estabelecimento, seu vizinho Baaurus. As advertências sobre não abrir a porta para ninguém, por mais que implorasse, e de que não ficasse andando por ai sozinho para não correr risco de se perder, faziam agora um sentido que, às seis da tarde não haviam feito. O ambiente sombrio, mas aconchegante, da imensa biblioteca parecia ter transmutado, desde a hora em que começara a leitura do estranho livro recém-adquirido pelo acervo, em algo a temer. Uma opressão no ar parecia insistir em gritar que a anormalidade pairava por ali. "Depois feche tudo com atenção!" Repetira mais cedo o vizinho Baaurus. "Se não perco o emprego e você vai se ver comigo!".

Perdido em pensamentos desordenados e misturados, Erasmo viu claramente quando de uma das prateleiras de livros mais próximas, cuja parte posterior estava mergulhada nas sombras espessas da biblioteca, vários volumes foram atirados ao chão com extrema violência. O ruído, espalhando-se e reverberando pelas paredes do recinto vazio, era como uma algazarra medonha de coisas indizíveis a lutar entre si.

De um salto ele se ergueu a fitar a direção do ocorrido com olhos arregalados. No entanto ficou parado, inerte, em silêncio. O coração dava pontadas finas em seu peito e o ar começava a querer lhe faltar. A asma de repente o ameaçava de novo, depois de tantos anos de trégua.

Do escuro, por trás das prateleiras com milhares de volumes, como a responder às indagações silenciosas de Erasmo, veio uma série de terríveis ruídos semelhantes ao trote lento e circular de algum animal eqüino que se esforçasse para não cair na superfície do piso encerado e escorregadio. Depois, mais volumes foram atirados de prateleiras distantes como se alguma coisa grande esbarrasse nelas aos encontrões.

Parado, imóvel, Erasmo tinha os cabelos em pé. Suas mãos suadas, que antes descansavam sobre a superfície vermelha e carcomida do livro ancestral que estivera lendo, agora evitavam a todo custo ter qualquer outro contato com o volume estranho e obscuro cujo nome do autor fora extirpado de seus devidos lugares; lugares onde restavam apenas manchas escuras de um borrão feio cuja visão prolongada causava asco e torpor inexplicáveis.

Num ímpeto, o curioso voltou-se para a porta de saída apalpando de novo as chaves e certificando-se de agarrar logo a que servia especificamente para a fechadura que tão ansiosamente queria abrir. Antes, porém, superando a duras penas o terrível mal-estar que sentia, apropriou-se do estranho livro para levá-lo consigo.

Ao dar o primeiro passo, no entanto, imediatamente algo de enorme massa corporal postou-se às suas costas.

Erasmo parou no meio da biblioteca azulada decidido a não se virar por nada que ouvisse ou sentisse subsequentemente. Primeiro veio uma lufada de vento quente em seu pescoço e seus cabelos se tornaram úmidos com algum líquido espesso que brotava da escuridão atrás de si. Algo de indescritível sensação pegajosa e fétida encharcou suas roupas.

Não ouviu palavras articuladas em seu idioma, mas sentiu quando o calor de uma nefanda proximidade orgânica se abateu sobre sua nuca e ouvido. Parecia sussurrar palavras em alguma língua profana e imunda que misturava fonemas com cusparadas e onomatopéias. Não queria aceitar o fato de que aquilo que achava se tratar de uma espécie sem sentido de ruído anasalado que ouvia em meio à miscelânea de sons que provinham de suas costas, fosse, na verdade, o balir de algum animal caprino.

De repente tudo parou. Os sons, o mal-cheiro, o calor em seu pescoço, tudo desapareceu e a biblioteca mergulhou novamente em extrema calma e solidão. Erasmo ofegava na penumbra violácea do recinto e lagrimas lhe escorriam dos olhos. Seus músculos retesados não conseguiam se mover.

A porta principal estava a poucos metros a sua frente, mas chegar lá parecia tarefa impossível. Lentamente deu alguns passos tímidos para frente e, ao tentar agarrar a chave no bolso, deixou cair o livro que segurava com tanto pavor. O compêndio foi estatelar-se no chão onde inexplicavelmente rolou como se atirado com extrema força indo restar, de páginas abertas, perto da tão almejada porta de saída. Num último esforço, Erasmo correu em sua direção e, neste momento, ouviu de novo a movimentação sobrenatural às suas costas.

Algo avançava através do salão chocando um trotar de patas cascudas no assoalho encerado de madeiras nobres.

"Maldito!", Pensou Erasmo agarrando a chave com toda sua força e desesperadamente inserindo-a na fechadura. A imensa porta cedeu com facilidade e o ar externo entrou levando luz ao salão escuro.

A coisa vinha das trevas correndo e relinchando como um cavalo; berrando e cabeceando como um carneiro negro gigantesco; escorregando e caindo no chão liso. Assim Erasmo a viu antes de chutar o livro para o lado de fora onde foi parar próximo ao meio fio. Depois bateu a porta com estrépito, trancou-a rapidamente, e se afastou, andando de costas, para o meio da rua deserta.

Tudo ficou quieto outra vez. Ao longe um táxi dobrou a esquina e veio em direção ao homem parado no meio do caminho. Erasmo fez sinal para que ele se aproximasse e parasse.

Ao embarcar foi interpelado pelo motorista que apontava o lado de fora. "Seu livro senhor!". "Ahn?", disse o passageiro com os olhos fitos na fechadura da porta da biblioteca. "Aquele livro é seu?", indagou novamente o pequeno homem ao volante. "Veja aquilo!", foi o que obteve como resposta.

Erasmo apontava para a imensa porta de ébano do prédio de onde acabara de sair. O motorista olhou para a mesma direção e viu a madeira cedendo sob golpes furiosos desferidos pelo lado de dentro. "Senhor?", disse atônito. "O que é isso?".

"Não sei", respondeu o jovem com franqueza; muito embora sua inocência já estivesse comprometida pelos segredos pervertidos que desvendara nas passagens que lera do terrível volume e sendo suas suspeitas meros subterfúgios para tentar obscurecer a verdade incontestável.

"Está tentando sair". Disse, em fim, depois de respirar fundo. "Quer ficar solta no mundo! Vamos embora, vamos!" Gritou.

O motorista, diante da ordem imperiosa daquele estranho passageiro exacerbado, acelerou o mais que pôde se dando por satisfeito em sair de perto daquele lugar.

***

O estranho livro ficou jogado no meio-fio até a chegada do segurança Baaurus às cinco da manhã como havia ficado acertado com seu amigo na noite do dia anterior. O velho guarda aproveitara a presença do outro (fazendo as vezes de vigia em seu lugar) para ir visitar as casas de facilidades de um decrépito bairro próximo. Encontrou o volume aberto e humedecido pela garoa da noite e nenhum sinal de seu amigo com quem ficou decidido a ter uma conversinha de reprimenda por ter falhado tão miseravelmente na sua parte do acordo que era cuidar bem do recinto em troca de poder ficar a vontade para ler o que quisesse. Agora justamente aquele volume raríssimo se encontrava com a integridade posta em risco pelas mãos de um irresponsável.

Ele estava aberto em duas páginas com ilustrações que logo chamaram a atenção do guarda boêmio. Eram imagens de um antigo deus cultuado pelos templários em Jerusalem na idade média. Mas o guarda de nada disso entendia assim como também não sabia latim a exemplo de seu negligente e culto amigo. Se soubesse poderia ter lido o que ele não teve tempo de ler:

"Do Caos ele vem, arrastando consigo a perdição do verbo; da ação de Deus. Ele próprio é Deus e de seu reino brotam os negrumes nos corações dos homens. Seu nome é Deus-barbudo, sua vontade é imperiosa e fará sua residência a alma humana. Olhai este compêndio, ó filhos do homem, pois ele é o portal para o Nosso Senhor dos Abismos, o Pastor dos Rebanhos de Chacais da Mesopotâmia. Ó, Sagrado Behemot, que chafurda nas águas malignas no Nilo! Cadela dos grotões das matas, Diabo dos poços sem fundo!"

PESADELO (2ª versão)

Um conto de Henry Evaristo

PESADELO


Na quietude fria e solitária de uma madrugada em que a luz argêntea da lua, ainda cedo, fora obscurecida pelo poder inebriante de cinzentas colunas de nuvens ameaçadoras; e enquanto os cidadãos estavam mais vulneráveis e desprecavidos, milhões de naves, pequeninas e gigantescas, avançaram das distâncias do horizonte por sobre os prédios de uma grande cidade adormecida.


De algum ponto de uma região rural em que me encontrava, sentia-me impossibilitado de auxiliar quem quer que fosse, meus entes queridos, meus amigos, meus inimigos. Tudo para mim agora demoronava na visão daquelas luzes multicores oscilando por sobre os campos longínquos abaixo do céu revolto de tempestade. Uma tristeza tão profunda se apossara de mim que o peso em meu peito quase chegava a ser ainda maior que o medo da violência que parecia se avizinhar.


Com lágrimas em meus olhos corri por uma estrada deserta que cortava extensa e sombria região de fazendas antigas e silentes e, à falta de qualquer avistamento de alguma criatura humana, meu corpo tremeu como o de uma criança perdida no escuro de seu quarto quando lá fora o vento açoita os galhos de alguma árvore ancestral que lança sombras como diabos dançantes nas vidraças. Do horizonte chegava aos meus ouvidos como que o zumbido de algum engenho demoníaco misturado aos lamentos dos primeiros homens e mulheres massacrados pelas intenções que se apoderavam da terra.


Senti o frio da madrugada ardendo em meus pulmões enquanto continuava avançando por tamanha escuridão solitária, e então me chegou às narinas o hediondo odor adocicado de algum tipo de carne escusa que queimavam ao longe. Junto a tudo, como para piorar ainda mais meu horror, a fina chuva caia e tornava o mundo ainda mais soturno e terrível.


A estrada parecia não ter fim e minha exposição naquele lugar aberto colocava cada vez mais minha vida em risco. Eu, porém, apenas conseguia pensar naqueles que me eram caros e que, misteriosamente, naquele momento, se encontravam longe de mim. Meus pensamentos me faziam avançar cada vez mais rápido a despeito das possibilidades de meu corpo que já começavam a me abandonar.


Em minha mente via aqueles veículos alados, objetos voadores prateados e cinzas, atacando impiedosamente os lugares que me eram especiais pelos quais pareciam ter uma nefanda predilação; e contra tudo o que eu mais amava eles incidiam com fúria titânica. Era como uma perseguição cósmica; como se aqueles inimigos houvessem saltado de seu porão no universo para liquidarem especificamente comigo e, em meus loucos devaneios, até mesmo suas caras repuxadas se assemelhavam à minha enquanto apontavam suas estranhas armas para os meus familiares.


Alucinado corri por aquela estrada escura; e as cinzas dos mortos da terra me cobriam as vestes ensopadas. Por todos os lugares via agora os executores dos homens; podia mesmo enxergá-los saindo de detrás das árvores que margeavam meu caminho. Soube então, através de algum sentido que me era tão alienígena quanto meus algozes, que finalmente, agora como nunca antes, estava só no mundo e a mortificação desta vez me dominou por completo fazendo-me dobrar os joelhos e desabar sobre o asfalto úmido embaixo de meus pés.


Prostrado fiquei no meio daquele caminho que era antes um solitário corredor de campos, fazendas e matas longínquas, mas que agora fervilhava com a presença ominosa de seres metade pássaro, metade peixe. E dominado por um medo mortal, curvei minha cabeça num desesperado sinal de submissão pelo qual talvez tivesse minha vida poupada.


Depois de alguns minutos uma daquelas coisas "peixe-pássaro" se aproximou de mim flutuando num uniforme translúcido que deixava a vista sua pele flácida e asquerosa. Ela me olhou e tocou-me com uma de suas mãos... Ou... Patas. Depois falou qualquer coisa com os outros que nos rodeavam e então, ó agonia minha, todas aquelas bestas começaram a rir de mim e apontar-me com suas garras encarquilhadas.


No momento seguinte, todos, de uma só vez, desapareceram. E todo o som e toda a cinza se escoaram junto de forma que tudo voltou a estar imerso em silêncio e calma como estivera antes, em seus dias comuns.


Como se nada daquilo houvesse existido, me encontrei só novamente no meio da estrada. Mas um sentimento esmagador de inquietação começava a me dominar para além de tudo o que eu já experimentara até então.


Calado e atento avancei para a cidade e, por onde passei, mesmo depois do amanhecer, jamais avistei outra presença que não fosse a da minha própria sombra se arrastando atrás de mim. Não restara mais ninguém em todos os lugares que visitei e, nos anos seguintes, em minha triste solidão, me aventurei por todos os recantos que me eram humanamente possíveis sem o auxílio de um automóvel; visto que todas as máquinas estavam paradas, queimadas, mortas como o resto do mundo. Porém, suas carcaças continuavam intactas brilhando ao sol como vi em uma enorme rodovia abandonada ao sul: milhares de carros, vans, caminhões; Inertes como se tocados pela morte que toca o homem; E aquilo servia apenas para demonstrar para meus nervos abalados que o poder que viera com os estranhos ainda estava presente de alguma forma e que, algum dia, era provável, seus proprietários voltariam para reivindicá-lo.


Estabeleci-me bem alto em um edifício de luxo quando entendí que agora tudo me pertencia. Com o passar do tempo meu organismo acostumou-se a ingerir e processar os mais diversos tipos de alimentos não comuns ao homem.


Todas as noites ia até a janela e observava a escuridão lá fora. Jamais avistei sequer o brilho de alguma ínfima luz no horizonte e as silhuetas dos prédios imersos nas trevas se assemelhavam a terríveis animais gigantes me espreitando do escuro. No alto, as terríveis estrelas eram as únicas testemunhas de minha agonia; elas e as caras repuxadas que se esgueiravam por trás. Era o que eu, na verdade, esperava avistar olhando de volta para mim em meio às trevas do mundo.


Assim foi o meu sonho... meu pesadelo. Não sei até que ponto ele faz sentido a não ser como testemunho de nossa solidão eterna em meio à vastidão opressora do universo.
__________________________

NOTA DO AUTOR:


Esta nova versão de "Pesadelo" foi revista com base em uma sugestão muito valiosa do escritor Nickinho no site "Recanto das Letras". A ele meus agradecimentos pela antenção e por ter revelado outras possibilidades para esta estória.

28.4.07

FORÇA MORTAL



É com muito orgulho que a Câmara apresenta a participação de mais um fenomenal novo escritor da literatura fantástica. O escritor português Alexandre Cthulhu estreia em nossas negras páginas com um conto perturbador sobre as forças malignas do arqui-inimigo do homem.

Agradecemos a gentileza e consideração do autor em nos enviar este seu novíssimo trabalho ainda inédito em toda a internet para que podessemos disponibilizá-lo em primeira mão para os amigos da Câmara dos Tormentos.



FORÇA MORTAL





Quero a minha vida de volta
Destruidora abstinência
Ilustre indulgência
Que me mantém forte,
Apesar da morte!

A espada brilha no altar
O sino badala estridente
Oh, alma indolente
Que teima em não ressurgir

Liberta a força que há em ti
Pobre ser vivo
Esquartejado e sacrificado
O teu sangue derramado
Sob o pentagrama
Enquanto eu jazo na lama
Das trevas

Satan,
Quero viver
Livrai-me da placitude
Livrai-me da morte
Traz-me à vida
Faz-me Forte!

Sou líder de uma banda de “Black Metal” com o nome “Terror mortal”. A banda já gravou um CD e neste momento está a preparar o segundo. Eu sou guitarrista e vocalista, e também sou responsável pelas letras das músicas da banda. Este poema (força mortal) é o tema principal do trabalho que os “Terror Mortal” pensam lançar em breve.

Como me inspirei para o escrever?
Não foi há muito tempo que me descobri satânico.

Não nascemos ateus nem cristãos. Nascemos satânicos.
“Satan representa indulgência e não abstinência!
Satan representa todos os denominados pecados, uma vez que todos eles conduzem à gratificação física, mental e emocional”




Toda e qualquer criança é satânica assim que nasce, e à medida que vamos crescendo vamos perdendo toda a pureza e tornamo-nos “noutra coisa” diferente por influência, ou por imposição.


Tenho reflectido muito sobre os dogmas da religião e sob a qual a nossa educação é erigida. A religião não é dada como algo garantido à nascença. Ninguém pode afirmar que uma criança quando nasce, vai seguir o caminho de Jesus Cristo ou de outro profeta qualquer. Mas eu posso afirmar que quando somos crianças, somos indulgentes. Não nos privamos dos nossos desejos naturais e inatos, e fazemos tudo para obter o que desejamos num determinado momento.

O satanista não adora o “diabo”. Esse ser é uma figura cristã. Eu venero-me a mim mesmo. Satan é uma palavra de origem hebraica que significa,”adversário”, opositor”, “inimigo”. Satan é o “opositor” de todo e qualquer Deus. Assim, o único Deus que eu reconheço – Sou eu próprio!
A minha mulher, Ângela, uma musa lindíssima que conheci num concerto dos “Moonspell”, não partilha desta minha tendência ideológica nem da minha forma de estar na vida. Contudo, é uma fiel companheira, e eu amo-a acima de tudo.
Ela corresponde-me com todo o seu amor e pureza. Além disso, também faz parte da banda. É uma excelente baixista.
O mesmo já não posso dizer dos meus pais, que não aceitam esta minha atitude (o tornar-me satanista, e formar uma banda que invoca a morte e Satanás). Eles simplesmente cortaram relações comigo e com a minha querida Ângela.
Esta tomada de decisão por parte deles, deve-se, em grande parte, ao facto de ambos serem Católicos praticantes, e por mais que eu lhes tente explicar que, ter-me tornado satanista, não implica adorar o demónio (nem sequer realizar rituais macabros), eles não aceitam.

Decidiram deixar de falar comigo, e mentiam aos seus amigos sobre mim, afirmando que o “guitarrista” dos “terror mortal” não era o filho deles. Afiançavam que o “Zé” (como sempre me chamaram desde pequeno) tinha ido estudar para um colégio particular em Lisboa.

Bem, a verdade é que eu e Ângela vivemos em dificuldades!

Além da banda, eu e Ângela não temos absolutamente, nada, e eles têm tudo: São proprietários de várias ourivesarias, vivem luxuosamente, habitam numa vivenda com piscina e garagem...enfim, têm mesmo “tudo”!
Na segunda-feira passada o proprietário da garagem onde a banda costuma ensaiar, ameaçou-nos de despejo, pois as contas da banda não andavam bem, e o dinheiro não chegava para tudo. Decidi recorrer aos meus pais para me ajudarem, mas eles acabaram por me humilhar, e acabei por sair da casa deles, sentindo-me mal tratado como se fosse um mendigo. O meu pai até teve a coragem de me informar que me tinha deserdado, que já tinha falado com o advogado da família para alterar o seu testamento.



Quando regressei a casa, foi a minha doce Ângela que acabou por me consolar e acalmar.
- O que eu mais queria era que eles morressem! – Bradei eu desesperado e cheio de fúria.
- Tem calma, meu amor. Eles não merecem o filho que têm! – Sussurrou-me a minha amada, numa tentativa vã de me consolar.



Eu era filho único.
Durante toda a minha infância todos os mimos e atenções eram apenas dirigidos para mim. Nunca me preocupei em arranjar emprego ou dedicar-me aos estudos porque achava que tudo o que eles possuíam, um dia seria meu. Mas estava enganado. O facto de ter saído de casa prematuramente (casara-me com Ângela, apenas com 18 anos), ter adoptado um estilo de vida e forma de pensar (e até de vestir), completamente antagónica à deles, levou-os a “castigarem-me da forma mais rude que podia alguma vez imaginar – Tirarem-me tudo a que tinha direito.
Na terça-feira, após ter estado a ensaiar com a banda, voltei a casa um pouco deprimido, pois tinha discutido com os restantes elementos devido a divergências que começavam a nascer entre nós. Eu andava nervoso. Mais uma vez foi a minha linda Ângela que me confortou.
- Odeio os meus pais. O que eu mais queria era que eles morressem! – Desabafei naquela noite. Sentia-me desesperado.
- Eu também os odeio, amor. – Redarguiu Ângela num tom triste.
- Se continuarmos assim, vamos ter acabar com a banda, amor.
- Mas a banda é tudo o que temos, querido. Foi tudo pelo que sempre lutaste – Afirmou ela.
- Não dá amor. Temos que arranjar dinheiro. Temos que parar com a banda, e arranjar um emprego, sei lá...
- Não, lindo! Os teus pais têm que nos ajudar. Eles são ricos, porra!
- Sabes que não posso contar com eles para nada. Até já me deserdaram, como tu sabes!
- Porque tu deixas-te! A tua religião diz, “Satan representa bondade para aqueles que merecem e não amor desperdiçado em ingratos”. “Satan representa vingança e não dar a outra face”! – As palavras dela eram como murros no meu estômago.


Aos poucos, e também de uma forma subtil, Ângela precipitou-me para “aquele abismo” que Allan Poe descreve no “Demónio de perversidade”, impelindo-me para os limites da minha loucura.
“Se algo lhes acontecesse, tudo aquilo seria nosso”...”Eles tratam-nos como mendigos, quando dizemos que precisamos da ajuda deles”...”Parece que gostam de mandar nas nossas vidas”...
“Algo tem de ser feito, Zé!...Faz algo”...

Todas estas frases, proferidas por Ângela, na sua voz musical e doce, badalavam lugubremente no meu espírito. E badalaram sempre, noite após noite, até à data do eclipse solar, que coincidia com uma enigmática sexta-feira, dia 13 de Agosto.


Nessa manhã acordei um pouco alucinado. Tinha sido atormentado durante toda a noite por pesadelos apavorantes.
Sobre a mesa-de-cabeceira estava um bilhete dobrado – era de Ângela.

“Meu amor,
Na vida, temos poucas oportunidades para sermos felizes. Só se é realmente feliz quando fazemos aquilo que gostamos. Se achas que devemos ir trabalhar, tudo bem. Mas lembra-te que tens uns pais ricos, e se eles te deserdaram, não tendo eles mais filhos, a quem vão deixar aquela fortuna toda? À igreja, amor?

Pensa nisto.
Volto à noite
Amo-te para sempre (e mais um dia)
Beijos

Ângela”



Abandonei o apartamento com o desespero na minha alma.


A primeira coisa que fiz foi penetrar na tasca que fica em frente à minha porta, e logo ali emborquei duas cervejas.
Segui caminho a pé até à casa dos meus pais, e a meio do percurso parei num café, onde bebi mais umas cervejas com whiskys pelo meio. Repeti este ritual...nem sei quantas vezes, durante todo o dia.

Atravessei a ponte e observei a paisagem.
“O rio quando permanece na sua placitude, parece embalar as pequenas embarcações no seu regaço, tal como uma mãe acarinha um rebento no seu colo” – meditei.
Recordei-me da face terna da minha mãe e chorei. Contudo, as minhas lágrimas secaram sob o negror súbito que se apoderou, não do meu espírito, mas...do mundo! O eclipse estava a ocorrer, e eu senti-me assombrado. Ai de mim!... Paulatinamente suportava o despertar do assassino que se incubava no meu corpo. Em vão, tentei reprimi-lo, mas a sua malvadez era poderosa e apossou-se vagarosamente da minha alma.


E, foi já metamorfoseado neste “carrasco” que me aproximei da casa “deles”.
Oh sim, a noite já mostrara a sua face, e eu...não. Eu não estava possuído! Antes pelo contrário. Os possessos não entendem nada.
Enfiei um gorro pela cabeçorra abaixo. Contornei o casa até às traseiras e galguei o muro pelo local onde o fazia sempre, quando não queria que eles soubessem a que horas eu chegava a casa.


Eu estava bem disfarçado. Se alguém me visse ali, não podia afirmar que era “eu”, aquele que ali vivera tanto tempo. O “zorro” (o RottWeiller) aproximou-se de mim a rosnar. De imediato assobiei-lhe e ele reconheceu-me. Dei-lhe duas festas e mandei-o afastar, o que ele fez obedientemente.
Trespassei a porta das traseiras e penetrei pela casa dentro. A aparelhagem estava ligada. Tocava “cânticos religiosos”. Aproximei-me da sala, mas inesperadamente fui surpreendido pelo meu pai.

Nem olhei para o rosto “dele”.
Puxei do punhal e descarreguei-lhe vários golpes no peito e nos braços. Também o atingi na cara e nesse momento ele caiu brutalmente no chão, ficando a arfar nem um animal em aflição. Não posso afirmar quanto tempo mais ele se aguentou naquele sofrimento.
Imediatamente a seguir, dei pela presença “dela”. Aproximou-se aos gritos. Estranhamente, não lhe reconheci a voz.
Atirou-se a mim, tentando-me deter. Elevei o braço para a apunhalar, mas ela conseguiu desviar-se, prendendo-me a mão, mordendo-a ferozmente. Este gesto despertou ainda mais a minha ira. Num movimento brusco, acertei-lhe com um pontapé na cabeça, que a fez recuar. O efeito do álcool não me deixava ver com nitidez. Por isso esperei o momento oportuno para lhe dar um golpe que a imobilizasse, pois ela já se preparava para fugir em direcção à rua.
Ergui-me e corri atrás dela, prendendo-a pelo pescoço. De seguida, levei-a ao chão e atingi-a com a lâmina no braço direito. Gritou e ficou agarrada ao membro. Num ímpeto, saltei para cima dela e desferi-lhe várias punhaladas no peito. O último golpe que lhe descarreguei tirou-lhe de imediato a vida. Ela nem gritou nem gemeu, apenas ofegou durante uns segundos, depois desfaleceu. Não perdi tempo a certificar-me se respirava ou não.


Estava feito. O meu tormento terminara ali, naquele momento.
A aparelhagem ainda tocava os cânticos religiosos. O Zorro ladrava estridentemente lá fora. Não havia de tardar, que a curiosidade dos vizinhos os levassem a ir lá bater à porta para saber se estava tudo bem. Seguidamente viria a policia. Eu tinha que abandonar a casa rapidamente.



Não podia deixar as coisas assim. Apesar de eu calçado umas luvas descartáveis, eu também estava a sangrar. Portanto havia “provas” que me comprometiam seriamente. Tinha que pensar rápido.
Tentei imaginar “algo” que eliminasse estas provas. Lembrei-me de um incêndio, e num ápice dirigi-me à cozinha, e desapertei completamente a válvula do gás. Depois abri os quatro bicos do fogão e o esquentador também.
Seguidamente, abandonei a casa pelas traseiras, e de lá atirei o isqueiro aceso para o interior da residência. O zorro ainda correu atrás de mim na brincadeira, mas eu nem lhe liguei,
Não podia perder tempo nem deixar vestígios. Quando o gás chegasse até à chama do isqueiro, havia de se dar uma explosão e a casa ficaria em labaredas, bem como os cadáveres deles. Assim, tudo indicava que teria sido um assalto “mal sucedido”.

Não cheguei a perceber se a casa explodira ou não. Não escutara nenhum estouro. Contudo, foi com bastante rapidez com que me ausentei do local. Corri velozmente pelo meio do matagal que se estendia através da zona envolvente daquela localidade que eu tão bem conhecia. Brincara ali durante todo meu tempo de escola...
Tive que parar para estabilizar a minha respiração. Doíam-me os músculos das pernas de tanto correr.
Inesperadamente começaram a afigurar-se-me algumas recordações da minha infância. Senti um vazio, e comecei a ficar cheio de frio. O “monstro” tinha-me abandonado. Oh, eu já não era “ele”. Voltara a ser o Zé, como carinhosamente a minha mãe me chamava... – Tentei sacudir essas doces recordações do meu espírito, mas não consegui. Então voltei a correr. Corri quilómetros até à localidade mais próxima, onde tomei um táxi até casa. Só pensava em cair nos braços da minha doce Ângela.

O apartamento estava estranhamente escuro. Pensei que Ângela ainda não pudesse ter voltado. Mas de imediato ela apareceu vinda da sala. Estava fascinantemente bela. Trajava uma longa camisa de dormir, toda preta e transparente, que lhe realçava toda a sua volúpia. Trazia o cabelo completamente solto. Oh, como eu a amava aquele seu estilo gótico, que tanto me fascinava.
Senti o seu abraço forte e duradouro. Depois, pegou-me pela mão e levou-me para a sala, que estava iluminada por dois candelabros que seguravam umas longas velas pretas que ardiam serenamente.

- Já está, minha querida...Acabei com eles! – Sussurrei entre soluços agoniantes.
- Não penses mais nisso, meu amor. O pior já está! – Redarguiu ela com uma voz inexpressiva, pousando a sua mão suave sobre o meu cabelo.


Eu e Ângela acabámos a noite a fazer amor. Amámo-nos como nunca, num clima de loucura e muito desejo. Eu era louco por ela. Eu morria por ela. Eu matava por ela...

Às três e meia da madrugada, a porta da minha casa é sacudida por violentas pancadas que me fizeram despertar meio perturbado. Ergui-me da cama e fui ver o que se passava. Ângela também já estava acordada.


- Quem está aí? O que quer? – Inquiri.
- Policia!...abra a porta imediatamente – A voz soara fria e penetrou pela minha casa dentro.
Respirei fundo. Apertei o Baphomet (1) que trazia ao peito e abri a porta tranquilamente. Não quis demonstrar qualquer receio ou hesitação.


Deparei-me com três agentes da Policia Judiciária, bastante sisudos.
Um deles, ainda disse “boa noite”. O outro, que parecia mais graduado, perguntou-me o nome informou-me de que o Juiz de turno do tribunal de Aveiro emitira um mandato de captura, e que teriam de me deter imediatamente.
Naquele instante parecera-me que o meu corpo tinha ficado sem sangue. Olhei para o agente e ofereci-lhe os meus punhos, que ele agrilhoou com um par de algemas grossas e frias.

Abandonei a casa com os meus olhos fixos em Ângela, a quem eu dirigi um breve “amo-te muito” através dos meus lábios mudos. Depois fui abruptamente transportado para o jeep, que arrancou moderadamente.
Na esquadra fui sujeito a um extenso e fatigante inquérito por parte do chefe de brigada, que me informou sobre os crimes que eu era suspeito: Homicídio e tentativa de ocultação de crime.
Também me comunicou que havia testemunhas que declaravam ter-me visto no “local do crime” na noite de sexta-feira, dia 13 de Agosto.

Por fim, recolhi aos calabouços húmidos, onde aguardei pelo desenrolar das investigações. Comecei a cismar se o agente não estaria a fazer “bluff” com aquela história das testemunhas, pois seria impossível alguém ter-me avistado por ali, até porque eu estava encapuzado.

(1) Também conhecido como Bode de Mendes, criado por Eliphas Levi no sec. XIX. Representa a absorção do conhecimento. È usado como Símbolo dos Satanistas com um pentagrama invertido.




Ninguém me vira a entrar ou a sair da casa, e Ângela testemunharia em como eu tivera todo o dia com ela. Aliás, Eu e Ângela tínhamos elaborado um plano para que eu tivesse um “álibi” perfeito. No dia anterior, gravamos uma longa discussão, lá na garagem onde ensaiávamos. Na sexta-feira, Ângela colocaria o CD na aparelhagem lá de casa, por volta das oito da noite, para que os vizinhos nos escutassem – Assim eram levados a crer que eu estava em casa naquela noite.


Se ainda me julgam louco ou possesso...
Contudo, foi com a mais pura das descontracções que me detive por ali a aguardar que tudo se resolvesse, pois eles não poderiam ter provas que me incriminassem, de facto.


De manhã fui acordado pelo ruído da abertura da porta da minha cela.

-Senhor José, venha comigo. – Ordenou o guarda prisional com uma voz firme.
- Concerteza, senhor guarda. Finalmente os “bófias” concluíram que estou inocente, não é verdade? – Indaguei.
-Não, senhor José. Você tem visitas!
- Visitas?... Quem? A minha mulher? – Insisti ansioso.
-Não. Dos seus pais! – A frase produzira o efeito de um tiro na minha cabeça. O guarda silenciou-se e isso deixou-me pensativo. Enquanto percorria o corredor que me levava à sala de visitas, a meu cérebro examinou todas as hipóteses de tal circunstância ser possível.

- Oh, deve haver um equívoco, os meus pais estão m... – o meu discurso fora interrompido pela imagem assombrosa dos meus progenitores, que se mantinham com um aspecto saudável e...vivo!
- Pai...mãe!... – balbuciei incrédulo. Depois sorri, por os ver ali (com vida), na minha presença. Por outro lado, havia uma dúvida pavorosa que me martelava o espírito – Quem tinha eu assassinado, afinal?...

A minha mãe estava com um ar de quem não dormia há algumas noites. Pegou no auscultador desferiu-me um olhar de franca piedade.
- Porque fizeste aquilo, meu filho? – Indagou ela com tom carregado.
- O que fiz eu?... – Perscrutei inocentemente. A minha franqueza levou-os a pensar que eu estava louco.
- Entraste na nossa casa, e apunhalas-te os teus tios que tinham sido convidados para passar uns dias lá em casa. – Afiançou o meu pai com bastante frieza.
- Eu?...
- Sim. Eu e o teu pai estávamos na cozinha, e eles andavam lá por casa...mas quando tudo aquilo começou a acontecer, escondemo-nos na dispensa com medo. Meus Deus, filho! Porque fizeste aquilo?...Ainda tivemos tempo para fechar o gás, senão também não estaríamos aqui! – Proferiu a minha mãe entre soluços.

Após escutar as palavras da minha mãe, senti o sangue a enregelar-se-me nas veias.

Levou-me algum tempo até eu compreender o que realmente tinha feito. – A falta de lucidez causada pelo álcool, levara-me à perturbação dos meus sentidos. Agora seria loucura falar dos meus pensamentos, pois tudo deixara de fazer sentindo, excepto o terror de ter de enfrentar estas barras de aço por onde espreito todos os dias, para me recordar que existe um mundo aí fora, muito diferente deste que eu enfrento todos os dias com grande amargura. - Oh Ângela, meu amor – Berro eu todas as noites do fundo deste “inferno”, que é o meu calabouço...
Mas a minha querida Ângela nunca me respondeu.




TUBARÃO ASSASSINO

Divirta-se devorando mergulhadores incautos mas cuidado! Tem uns que não estão tão despreparados assim! Ah, vc é que é o tubarão!

http://www.voujogar.com.br/jogosonline/tubarao-assassino.html

25.4.07

A PÁSCOA DE TRAVIS

Mais uma super colaboração a Câmara apresenta para deleite de seus amigos e frequentadores. Fernando Ferric, escritor de terror de Lucélia/SP, estréia em nossas negras páginas com um conto de horror e Sci-fi arrepiante!



A PÁSCOA DE TRAVIS

Fernando Ferric

Todo ano é a mesma coisa, as crianças acordam cedo e começam a caça aos ovos de páscoa, e passam o resto da semana felizes se fartando de chocolate. Mas lembro de uma páscoa nada agradável na pequena São José do Rio Pardo há uns vinte e dois anos atrás. Eu era pequeno mas lembro como se fosse hoje.

Meu tio e seu amigo Jorge chegaram da cidade com uma caixa de madeira. Eles estavam eufóricos encontraram a caixa na beira da estrada, provavelmente ela caiu de um dos caminhões que vinha de São Paulo.

Eles pegaram a caixa e colocaram no chão, me lembro das letras vermelhas que marcavam as laterais com a palavra DANGER. Perguntei o que significa mas meu tio e o Jorge se enrolaram para explicar. Só depois de alguns anos vim saber que significava perigo. Mas já era tarde...A caixa estava bem lacrada, e os dois suaram para abrir. Tentaram com faca, com chave de fenda, mas só conseguiram depois de forçar muito com um pé de cabra. Para nossa surpresa a caixa estava repleta de ovos. Enormes e suculentos ovos de páscoa, protegidos por isopor e espuma.

Como o próprio Jorge disse, aquilo era “largura” de mais. Muita sorte eles encontrarem tantos ovos justamente na véspera da Páscoa.

Oito ovos que meu tio dividiu espertamente. Deu dois para Jorge, um pra mim, outro para o Travis e ficou com quatro. Divisão bem generosa.

Eu já conhecia a esperteza do meu tio, desde os cinco anos eu passava as férias e feriados na sua fazenda. Ele era uma espécie de super herói pra mim. Um super “Jeca”, metido a valentão e conhecedor de muitos contos e causos do interior. Suas histórias eram fantásticas. Ele morava com minha avó e seu filho Travis que era dois anos mais velho que eu. Jorge era seu melhor amigo, eles se conheciam desde pequenos. Era como a velha dupla O gordo e o Magro que eu cansei de ver na tv. Era muito divertido ver os dois jogando baralho ou dominó.

Meu tio era trapaceiro por natureza e Jorge era ingênuo como uma criança. Travis seguia o caminho do pai, era uma praga, birrento, mentiroso e sempre aprontava. O pior é que quando eu ia pra lá acabava fazendo parte das suas confusões. Ele tinha uma lábia tão grande que era difícil acreditar que era tão novo.

Minha avó disse para abrirmos os ovos só no Domingo, mas Travis não queria esperar, e a noite enquanto todos dormiam ele foi me acordar, disse que tinha um plano maravilhoso. Queria comer os ovos de páscoa.

Eu disse que não abriria meu ovo de maneira alguma. E ele com aquele olhar maroto olhou pra mim e falou que não era os nossos ovos que ele queria comer. Ele me disse que o Jorge sempre dormia como um bebe após tomar todas as cachaças possíveis e que ele jamais desconfiaria se pegássemos os dois ovos que meu tio tinha lhe dado.

Eu relutei e tentei não cair em tentação em comer aqueles ovos maravilhosos. Mas minha boca encheu d’água. Acabei cedendo.

Atravessamos a fazenda na mais completa escuridão. É horrível. Parece que os ouvidos ficam aguçados e qualquer som vindo da mata parece amedrontador.

Depois de alguns minutos na velha trilha, chegamos a velha casa de Jorge, era horrível, a casa parecia abandonada há anos. As portas e janelas estavam abertas como toda casa no interior, livre de qualquer violência. E como Travis tinha dito, Jorge estava dormindo na sala. Esparramado no sofá, ao lado de um garrafão de vinho completamente vazio.

Atravessamos a sala na ponta dos pés. Travis por conhecer bem a casa, foi na frente. Ele estava desesperado atras dos ovos, entramos na cozinha, abrimos os armários e a geladeira e nada... Nem um vestígio de onde ele havia guardado os maravilhosos ovos de páscoa.

Procuramos por toda a casa mas não encontramos um só ovo. Então decidimos ir embora. Mas ao voltar a sala, para nossa surpresa, Jorge não estava mais no sofá. Entrei em pânico, mas meu primo disse para não se preocupar que ele devia estar tão bêbado que nem perceberia a nossa presença.

Ao sairmos pela varanda vimos Jorge caído no chão, meu primo deu um sorriso e disse que ele estava podre de bêbado. E me desafiou.- Você duvida eu meter um chute na bunda dele?Eu não duvidei, mas a maldade de Travis era maior. Ele se aproximou e enfiou um pontapé no traseiro de Jorge. Virou pra mim e mostrando o dedo do meio gritou:

- Eu não disse? Está dormindo como um porco. Posso enfiar uma vara na bunda dele que não vai acordar.

Mas nesse momento um bicho muito esquisito pulou nas costas de Travis. Ainda estava escuro e eu não conseguia ver direito. Foi muito rápido. Travis caiu no chão e eu corri para ajuda-lo. Não sei de onde veio tanta coragem. Peguei uma pedra que estava no chão e meti nas costas do bicho. Travis se levantou assustado. O bicho sumiu rapidamente na mata. As costas de Travis estava toda arranhada.

- Não sei que merda de bicho era. Você conseguiu ver? – ele perguntou.

- Não deu pra ver direito, parecia um macaco, parecia um sagui! – respondi.

Travis disse que nunca tinha visto algo parecido por ali. Resolvemos voltar mas não antes de colocar Jorge em sua casa, o bicho poderia voltar a atacar.

Jorge era muito gordo e apanhamos para conseguir vira-lo. Mas, quando conseguimos... Travis soltou um jato de vomito no chão e largou os braços de Jorge imediatamente. Sua barriga estava rasgada do começo ao fim. Dava para ver até suas costelas. As entranhas de Jorge estavam esparramadas no mato.

Saímos em disparada, corri como nunca havia corrido na minha vida.

Ao chegar em casa, fomos surpreendidos pelo meu tio. Com uma espingarda em punho e cara de poucos amigos.

- “Ondi” é que vocês “estava”?

- "Discurpa" pai, foi ele que me acordou e me pediu para ir na casa do Jorge. – disse Travis tomando minha a frente.

Mas meu tio não acreditou na versão de Travis e mirou a espingarda em sua direção.

- Carlinho sai daí!- Mas tio, ele não fez nada...

- Saí daí menino...Ele puxou o gatilho, e manteve a arma na direção do meu primo. Travis pulou pra cima dele, não antes de levar dois tiros no meio do peito. Meu primo caiu no chão.

- Meu deus! Tio você matou ele!!!

- Ele não meu filho... Mas o danado do bicho que saia da sua barriga...

A barriga do Travis estava totalmente aberta como tinha ficado a do Jorge. Tinha sido a ultima traquinagem do garoto. Antes de querer comer os ovos de páscoa do Jorge ele já havia comido o meu.

Talvez assim tenha salvo a vida do meu tio, da minha avó e também minha própria vida.

Meu tio destruiu todos os estranhos ovos que restaram. E a partir daquele dia, Páscoa pra mim significa DANGER!

Coelhinho da páscoa o que trazes pra mim...Um morto, Dois mortos, Três mortos enfim...

__________________________________________________


Conto registrado na Biblioteca Nacional com seus direitos autorais protegidospor lei. A utilização de qualquer texto em teatro,publicações, TV, rádio, Internete outros meios de comunicação, deverá ter autorização expressa e por escritodo autor. Para contatos com o autor, utilize o e-mail: fernandoferric@gmail.com


A CASA DO ENFORCADO



O mestre do terror Paulo Soriano retorna à Câmara dos Tormentos com um dos contos mais perturbadores que já se viu. Uma colaboração valorosa para a arte sombria brasileira de qualidade:










A CASA DO ENFORCADO







Para Roque Braz e Heitor Vanderley.



Quando finalmente conseguiram vencer a resistência da madeira da janela – que fora a única abertura a vergar ao ímpeto de um aríete improvisado –, os homens retrocederam de surpresa, nojo e horror. De uma densa névoa – uma bruma mefítica – que emanava dos intestinos da casa velha, veio a surpresa, capaz de paralisar os mais impávidos e amolecer os mais empedernidos. Polca – o velho e bom Polca, que até então se contentava em relamber o que restara do sangue nas patas hirsutas, condoídas e tontas de tanto escavar a rude porta de madeira ancestral – saltou pela abertura de luz que os homens abriram e quase cegou ao contato do Sol, que agora desmaiava. E, com as fuças enodoadas, onde os dentes arreganhados ainda retinham em suas frestas negros nacos de carne apodrecida, emitiu um ganido ensandecido, para depois galgar o horizonte constrito, encharcado de manguezal, sobre o qual escorria e ondulava o sangue silencioso do anoitecer.

No interior da casa, os homens, embrutecidos pelo miasma, mantiveram os lenços apertados contra os narizes. Dois deles erguiam candeias olorosas de querosene, porque o antro era mais escuro que a morte e mais pestilento que um túmulo. Mas contam os antigos que foi um deles, o que espraiava as mãos nuas, espalmadas contra a escuridão de pedra, que tocou o cadáver do ancião. Quando o lume chegou, viram os homens que a velha figura oscilava no vazio, colhida em pleno ar pelo próprio cinto – o puído cinto de couro que contivera um magro ventre por tantos e tantos anos. E bailava serenamente aquele corpo informe, como que tangido pela brisa suave e asséptica, quase poética, do anoitecer invernoso do Recife.

A antiga casa, onde se enforcara o ancião, e que hoje não existe mais, era uma das mais sólidas construções de Campo Grande. Construída sobre alguns alicerces devastados aos invasores, a vivenda ressurgira seguindo os passos dos sóbrios e elegantes engenheiros flamengos. A casa era, assim, de pedra. Pedra absurdamente equilibrada sobre um ângulo improvável de outra pedra, como ainda se vê nos antigos trapiches abandonados do velho Recife. Compunha-se de um único pavimento, comprido e estreito, tenaz em evaporar a luz aos primeiros e ousados passos. E as suas paredes, rebocadas pela argamassa úmida, carcomida de mofo e estrias, deixavam entrever, no sulco das profundas cicatrizes, que desciam céleres dos caibros repletos de fungos, a face ossuda das pedras revelhas, que reagiam e fulguravam à luz das candeias, como crânios a desafiar a imortalidade da própria morte.

A musculatura das paredes laterais erigia-se incrivelmente forte. Sobre ela, apoiavam-se as tesouras de madeira de lei.

E era a trave da última das tesouras – a mais mofada e encardida – que sustentava o peso morto, e dele fazia agora um pingente assustadoramente desumano e lúgubre. Parecia incrível, à luz mortiça dos lampiões, constatar o cuidado que assediara o homem velho ao afundar, na língua puída, que era a ponta de seu cinturão, os pregos vigorosos e brilhantes. Possível ainda seria ouvir o eco seco da madeira reverberando por cada um dos ossos que compunham o esqueleto da casa anciã, como um pulsar de um coração ainda mais nefasto e carcomido pelo bolor dos anos. E escutar – enfim – o esgar da madeira – que, durante séculos, não emitira um rangido sequer – lamentar-se, com um angustiante protesto, ao mergulho resoluto que o homem descreveu no mais negro dos mais negros vazios.

Quem o via ali, tão desolado em sua mortal solidão, não podia adivinhar a calma com que o homem, roto de alma, ajustou, num gesto altivo e solene, o cinto ensebado ao pescoço exangue. E nem cogitou de que restaria apenas o espetáculo monótono de um homem bailando suavemente o seu vazio de morte, tão melancólico e tão sombrio que só a bênção do Deus da inconsciência eterna poderia proporcionar e compreender.

E Polca, sozinho naquela casa tão obscura, não cansava de lamentar, com o seu uivo animal, a ausência de um dono que, enigmaticamente, se fazia tão presente. Se ali estava, por que não se mexia? Por que não sabia que estávamos ambos famintos? Por que somente se balouçava na trave, para lá e para cá, quando tocado pelas patas cansadas, e não cuidava da água e dos alimentos? Não lhe trouxera alguns ratos para comer? Não implorara que repartisse comigo as ratazanas?

O tempo girou os seus gonzos cansados, e finalmente Polca percebeu que aquele ali, dependurado num cinto velho, não era mais o seu dono. O cheiro mudara. A atitude mudara. Nenhum afago. Nenhuma palavra. Não mais havia a ordem de entrar e de sair. Aquele não era mais o seu dono. De alguma forma, algo que jamais imaginara, e que a sua mente canina não entendia, usurpara o bom homem que o alimentava e que cuidava carinhosamente de suas feridas, quando os ratos motejavam de suas orelhas.

Então polca, corroído pela fome, começou por mastigar as sandálias que pairavam opressivas acima de sua cabeça. Ganiu, deu várias voltas em torno do próprio rabo. Latiu. E passou a lamber os pés daquilo que descia dos céus, e que tomara o lugar de seu dono.

Depois mordeu.

Roeu e mordeu novamente.

Excitado, lambeu o sangue revelho com um furor que ele próprio desconhecia.

Algum tempo depois – um tempo que somente a mente canina pode medir e eternizar – o cão sentiu uma secura na língua, que grassou à insanidade. Mastigando e dilacerando, uivando e roendo, assim ficou o animal, até saber que não era fome o que sentia.

Era sede.

Era uma sede que se tornava mais pungente a cada naco de carne podre que extraía das pernas descarnadas do ancião. Uma sede monstruosa, que quase tocava o infinito. Mas não parou em sua agitação canina, rosnando e eriçando os pêlos nervosos. Mordeu, ganiu, gemeu e dilacerou até não mais poder roer osso algum. Quando, finalmente, foi avisado de que os ossos e as carnes sulfurosas não mais estavam ao seu alcance, apesar de todo ímpeto e de toda fúria com os quais se lançava contra a beira do cadáver, mergulhou os focinhos entre as patas traseiras, mastigando e remoendo o próprio rabo. Enrodilhou-se, pois, como uma serpente iracunda. Tremeu e espumou num canto escuro, qual um endemoninhado. Tremeu e gemeu. Ganiu e dormiu.

Outra eternidade passou-se até que viesse um despertar com a súbita deliberação de fugir e abandonar para sempre o cadáver que amputara.

Os ossos do ancião – homem pobre, valoroso e solitário – insinuavam-se pela abertura das calças mutiladas. E quando os homens viram as pontas dos fêmures carcomidos, corroídos pela fúria alucinada do pobre animal, caíram numa espécie de torpor e de horror indizíveis. O luzir dos ossos brancos, impacientemente triturados por dentes sôfregos, ainda mais sinistra tornava aquela oscilação pendular, aquele bailado inerme de enforcado. Assim, encetaram uma busca completa na região, para matar o animal, porque induzidos a um horror bem mais profundo que o necessário. Abateram o animal a pauladas, sem compaixão alguma, e puseram-no a afogar-se no charco lindeiro de Santo Amaro. Somente depois que se riram e se jactaram da própria crueldade, é que encontraram, no colete do enforcado, um pequeno bilhete, metido na tampa de um relógio de algibeira, a embrulhar os retalhos de um retrato feminino. O bilhete, escrito pela tinta púrpura da solidão e do desamparo, dizia apenas:



“Cuidem bem do meu cão,


pois é tudo que tenho


e o melhor do que jamais tive”.


23.4.07

COMUNIQUE-SE CONOSCO











Flash Strike

No meio de uma guerra o que mais você pode fazer além de...Matar, matar, matar??? Vamos lá! divirta-se com mais este joguinho de graça que encontramos na internet!

http://www.freearcadelive.com/play-6033-Flash_Strike.html

Depois que clicar no link e a tela do jogo aparecer, clique em "PLAY Flash Strike NOW"

22.4.07

Special Operations

Clique no link e jogue o jogo "Special Operations" no Freearcadelive.com. É bem simples mas divertido.

http://www.freearcadelive.com/full.php?id=4453

DO MAL DAS RELIGIÕES

Em minhas reflexões me questiono: Por que será que o ser humano não consegue aceitar que esteja só, por ele mesmo, solto no universo? Por que este fato é tão inaceitável para tantas pessoas? Seria fraqueza de espírito; medo de que não possam suportar as adversidades do mundo sozinhas?

Em tempo: Este sentimento de fraqueza e de vazio que compele as pessoas a recorrerem ao poder de divindades sobrenaturais para sanar seus problemas físicos e espirituais tem sido aproveitado por déspotas e instituições maliciosas, como a igreja católica e as igrejas evangélicas, desde sempre. Estes organismos de dominação têm sido responsáveis por genocídios no mundo todo, direta ou indiretamente, ao longo de toda a história. Baseadas num livro tendencioso que dita regras de conduta que visam apenas o amansamento do cidadão, e a sua conseqüente aceitação passiva da dominação do estado, essas religiões tem sido responsáveis pela degradação que vem sofrendo as sociedades humanas a níveis globais.

Por que não é possível viver sem o sagrado? Por que não cabe no paradigma de tantas pessoas que a menor parte de nós é apenas o átomo? Ora, porque o ser humano, descendo das árvores nas savanas e assumindo a postura de um bípede, sentiu-se poderoso, soberbo, e lhe adveio a prepotência. Deu-se-lhe a sensação de que ele era especial, melhor do que os mamutes que tinha que caçar para sobreviver.

Por que não é possível aceitar-se que esta inteligência do homem vem do mero acaso, assim como a própria existência dele, e que, como este acaso ocorreu aqui na terra poderia muito bem ter ocorrido em outros planetas? Aliás, não se tem prova nenhuma de que isto não tenha acontecido antes em outros planetas que se extinguiram como este um dia vai se extinguir. E esta não se trata de uma afirmação baseada em fé!

A religiosidade, e as crenças em divindades, fecham a mente das pessoas para as diversas possibilidades do universo humano e, o que é pior, criam indivíduos atemorizados. Pessoas em eterna espera por algo tão hipotético quanto os fantasmas e outros fenômenos preternaturais. Espíritos que se acham investidos de conhecimentos de mistérios universais e possuidores de poderes que lhes asseguram o descarte de quaisquer possibilidades que não sejam as aceitas por seus credos e suas doutrinas.

Eu, como cientista humano, não creio em nada. A palavra "crer" deveria ser extirpada sumariamente sempre. A vida do homem na terra só encontrou desgraças na fé coletiva. É pela fé que se ergueram animais como os nazistas, como os revolucionários russos, como os ditadores latinos. Nunca ache, pense! E para pensar não basta ter certeza, tem que ter provas! Provas materiais, físicas, concretas, palpáveis, que se possa expor na mídia, em jornais e revistas através de vídeos e fotos!

Como foi dito acima, algo que existe um dia tem que aparecer. E não pode ser como querem impor os religiosos: N'um "éter", n'um momento de inconsciência, n'uma apoteose de mortos se reerguendo, num tempo indefinido que nunca chega; e também não pode se apresentar apenas para os "olhos que quiserem ver". Isso tudo é muito cômodo, não!?

É tão simples, tão fácil, ver a má fé religiosa que quer agregar tudo em torno de si! Como o clero medieval que proibiu o casamento para não ter que dividir os bens da igreja católica, esta e as outras religiões, cada uma com seu lobby, cuidam de disseminar a idéia de uma possível salvação somente para quem segue os ditames específicos de cada uma; quando não somente para queles que prestam algum tipo de pagamento mensal em dinheiro para estas instituições. Mas nem mesmo dentro destas "empresas" se encontra consenso. E por quê? Porque todas se digladiam em torno de uma coisa inexata, não-física, não visível, que não tem voz, nem forma, nem cheiro; que não se manifesta a não ser na imaginação de pessoas carentes e emocionalmente fracas ou enfraquecidas de alguma forma.

Não gosto de ficar citando autores diversos para justificar o que digo. Aliás, a exigência de fundamentação teórica nas monografias de cursos das universidades brasileiras é um dos fatores que mais atravancam o desenvolvimento do setor científico nacional, o poder do senso crítico, e o surgimento de idéias próprias e contextualizadas com mais profundidade (E isso é matéria para uma outra e mais complicada discussão). No entanto vou copiar aqui um texto muito interessante do velho bigodudo Nietzsche e, antes que me perguntem por que dar ouvidos a um homem e não a um deus, eu respondo: Por que é um homem, oras! E o homem é o que há no mundo, sozinho em sua inteligência que lhe foi dada pelo acaso de milhares de combinações químicas oriundas tanto do meio externo como do meio interno e que se tornou um fardo para ele próprio ao passar a tentar explicar algo que não precisa de explicação e a inventar mitos descabelados para preencher as lacunas incompreendidas e inaceitáveis por sua mente.

Sim, Nietzche foi um homem assim como todos os outros e, assim como todos os outros, acabou inventando coisas que afirmou reais, mas, em busca de uma leitura um pouco mais libertadora dos grilhões religiosos, ou que pelo menos fundamente uma crítica que consiga romper a barreira cultural com a qual a ideologia dominate revestiu as sociedades cristãs ao longo dos séculos, sua pena foi uma arma letal e bem concreta.


"E desde então surgiu um problema absurdo: "Como Deus pode consentir nisto?" A razão perturbada da pequena comunidade achou uma resposta de um absurdo verdadeiramente terrível: Deus deu o seu filho para o perdão dos pecados, em sacrifício. Ah! Como terminou de uma assentada o Evangelho! O sacrifício expiatório na sua forma mais desprezível, mais bárbara, o sacrifício dos inocentes pelas faltas dos pecadores! Que espantoso paganismo! Não tinha Jesus suprimido até a idéia do pecado? Não havia negado o abismo entre Deus e o homem, vivido essa unidade entre Deus e o homem, que era a sua boa nova?... E isto não era para ele um privilégio! Desde então se introduz a pouco e pouco no tipo do Salvador a doutrina do "juízo" e da vinda, a doutrina da morte por sacrifico, a doutrina da ressurreição que escamoteia toda a idéia de salvação, toda a só e única realidade do Evangelho a favor de um estado depois da morte... Paulo tornou lógica essa concepção - concepção descarada! – com aquela insolência rabínica que o caracteriza em todas as coisas: "Se Cristo não ressuscitou dentre os mortos, é vã a nossa fé". E de um só golpe converte-se o Evangelho na promessa irrealizável mais digna de desprezo, a doutrina insolente da imortalidade pessoal... O próprio Paulo a ensinava ainda, como uma recompensa!... "

20.4.07

Bloody Day

Mais um joguinho divertido para os amigos da Câmara! Exercite seu instinto assassino!

http://www.heavygames.com/bloodyday/playgame.asp

8.4.07

PRISÃO SEM MUROS

Por: Henry Evaristo
Ah, como respiro o amargo ar das madrugadas sem nada sentir a não ser o peso do tempo que se esgota!

E como são tristes minhas evoluções entre os seres que me rodeiam e que me olham com carrancas medonhas como se me quisessem tirar ainda mais do que já tiraram!

Olho para o espelho na parede gélida do quarto e vejo que de lá me espia apenas o mesmo monstro de sempre; A coisa de olhos esgazeados que é a representação de tudo o que condeno.

Perco a coragem, e emudeço de dor e angustia, diante das muralhas da iniqüidade humana, das perversões que me construíram e das quais não posso mais escapar.

Ó, Senhor! Tirai-me desta esfera maligna e lançai-me em paragens mais brandas, pois meu coração já não suporta o amargo viver deste corpo corrompido e trancafiado, tal qual abjeto criminoso, nesta prisão sem muros!

E sufoca meu pranto amargo com visões mais límpidas de um futuro outro que não a destruição de tudo por este lobo voraz que é o homem.

Mas não tenho fé, Senhor, em tua intervenção.
E se te falo agora é por puro desespero.

É em vão que uso teu nome!
E se menciono teu poder é por força de expressão.

Sim! Questiono tua onipotência!

Mas não cubras mais meu penar de dores lancinantes. Nada fiz à tua obra, nunca!

Cancela esta tua empresa insana contra teu filho, Senhor,
e clareia as nuvens do porvir.

Enquanto há tempo!
Enquanto há tempo!

4.4.07

Night Of The Living Dead

Esta é uma apresentação que nos deixa cheios de alegria em fazer. Achamos no majestoso Youtube este verdadeiro clássico do cinema fantástico. Está aqui, agora, para quem quiser ver, "A noite dos mortos vivos", o filme original de George Romero realizado no final dos anos 60, com financamento próprio e com atores amigos do diretor. Veja bem: O filme está na íntegra e esta é uma grande opotunidade para quem nunca pode ver este clássico. Divirta-se... E cuidado! They're coming to get you!

Rob Zombie- Dragula

Rob Zombie é um dos maiores e mais importantes nomes da cena heavy mundial. Recentemente resolveu virar também cineasta e conseguiu realizar um dos filmes mais perversos e perturbadores dos últimos tempos "Rejeitados pelo Diabo". Seus trabalhos musicais mais recentes trazem também uma maior aproximação do industrial e do techno numa mistura explosiva e extremamente interessante! Curta que é bom!

Rob Zombie - Living Dead Girl

Rob Zombie é um dos maiores e mais importantes nomes da cena heavy mundial. Recentemente resolveu virar também cineasta e conseguiu realizar um dos filmes mais perversos e perturbadores dos últimos tempos "Rejeitados pelo Diabo". Seus trabalhos musicais mais recentes trazem também uma maior aproximação do industrial e do techno numa mistura explosiva e extremamente interessante! Curta que é bom!

3.4.07

Judas Priest - Painkiller(East Live)

O Judas Priest é uma das bandas precursoras do Heavy Metal; hoje sua importância já é histórica para o movimento e, ao longo das últimas décadas, influenciou dezenas de outros grupos do chamado hard rock. Deixe de preconceitos! Curta que os caras são bons! Painkiller é o clássico maior do Judas Priest.

2.4.07

O fantasma do espelho

Veja um video "de bater os joelhos". Não assista de madrugada e nem sozinho!

Strange creature in the wood

Não assista à noite! Vídeo mostra o encontro de um grupo de caçadores com alguma coisa assustadora no meio de uma floresta escura na Espanha.

LÊ AGORA!

A Rainha dos Pantanos - Henry Evaristo

Virgílio - Henry Evaristo

UM SALTO NA ESCURIDÃO - Henry Evaristo publica seu primeiro livro

O CELEIRO, de Henry Evaristo

Índices gerais

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Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

§ 1º Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os represente:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 2º Na mesma pena do § 1o incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente.

§ 3º Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de lucro, direto ou indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor de fonograma, ou de quem os represente:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 4º O disposto nos §§ 1o, 2o e 3o não se aplica quando se tratar de exceção ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos, em conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou indireto.



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