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27.7.09

A FAZENDA DOS FLORENCE


A FAZENDA DOS FLORENCE
Henry Evaristo

Sempre soube dos rumores a respeito da propriedade dos Florence. Na pequena cidade onde nasci nenhuma criança se aventurava ao longo da estradinha de terra que levava aos portões enferrujados da velha fazenda ao sul. Desde cedo, em suas residências, lhes era ensinado a temer a estranha família. Ao longo dos anos faziam com que acreditassem que os Florence eram malvados, perigosos, diabólicos. Mas era mais do que isso. Lembro-me de que, certa noite, ao pé da lareira com meu pai, o ouvi contar para todos nós, de sua casa, como a triste família se havia perdido nos caminhos das trevas; como havia trocado as bençãos de Deus pelas falsas promessas de fortuna feitas pelas coisas que andam no inferno e que eles evocavam graças aos poderes da velha matriarca. Ainda me causa calafrios a maneira como meu pai parecia acreditar em tudo o que contava e a forma como ele nas advertia para manter distância, pois aquelas pessoas eram monstros reais que, em noites enluaradas, vagavam soltos dentro dos limites da velha propriedade. "Foram os demônios que os mudaram, meus filhos" dizia meu pai, e seus olhos faiscavam iluminados pelas chamas vermelhas do fogo voraz na parede.

Depois que cresci, deixei a localidade e me mudei para a capital. Meus pensamentos se voltaram para coisas mais importantes. Estudei, graduei-me com honras no curso de Física e assinei um contrato com uma multinacional. Casei-me com uma mulher cuja beleza impossibilitava-me de admitir, mesmo lá em meu íntimo mais profundo (este que sempre acaba assomando em nós nas horas da madrugada), que pudesse haver no mundo algo tão horrendo quanto o que diziam existir em minha terra natal. Hoje entendo que estas histórias sempre me acompanharam e que todo o meu destino convergiu para a noite fatídica de que vos falarei agora.

A última lembrança que guardo de meus tempos de criança é de ouvir a gritaria das pessoas na praça central. Enfurecidas, elas corriam em torno de uma carroça numa noite de inverno. Havia armas nas mãos de muitos e a exigência de que os estranhos Florence devolvessem aos pais uma menina loura que desaparecera. Recordo-me do velho xerife tentando conter a massa que surpreendera alguns membros da amaldiçoada família tentando comprar medicamentos em uma farmácia.

Mas o que me toca mais profundamente até hoje é a lembrança do olhar que me lançou o mais novinho dos quatro que vi. Um garotinho enfermiço e de pele pálida e suja que me olhou de cima da carroça cercada por cidadãos ensandecidos. O pavor, o medo em seus olhos, causou-me repulsa àquelas pessoas; pois me fez sentir, de uma só vez, o peso dos anos de discriminação e banimento a que vinham sendo submetidos todos daquela fazenda isolada. Aquela criança, que como eu ainda olhava o mundo de baixo, já não era apenas mais um menino. Era um homem triste e assustado. Um pobre diabo acuado por todos os lados que perdera a infância antes mesmo de tê-la conhecido.

Nestes meus dias finais, quando não sei se o que me matará primeiro será a velhice, o câncer ou a vilania desta cidade grande e impiedosa, digo que o que havia de errado com aquelas pessoas dos Florence (a despeito daquilo que vi, à noite, em frente aos portões da velha fazenda - e que pode perfeitamente ter sido apenas o fruto de uma mente viciada) era tão somente o fato de eles serem pobres e, oriundos de distantes terras estrangeiras, manterem costumes diferentes dos da comunidade que tanto os demonizava. Penso comigo, em meio às minhas inúmeras reflexões de velho, se não foi pelo que presenciei naquela praça que resolvi, tempos depois, deixar a cidade. Acho que a vergonha cobriu meus passos desde então.

Foi assim que decidi, após a morte de todos que me eram caros, e quando a solidão deu asas à minha disposição para viajar, voltar à velha terra para saber o que afinal fora feito dos miseráveis fazendeiros. Sentia que pediria mil desculpas a qualquer deles que encontrasse pelo caminho.

Desembarquei no início da noite na mesma praça central que tanto povoara minhas más lembranças por mais de cinqüenta anos. O ônibus que me trouxera só perdia em decrepitude para aquele horrendo centro em ruínas. Espantava-me e me mortificava ver que nada mudara! Tudo permanecia exatamente como eu deixara e, por alguns instantes, esperei mesmo ver a carroça dobrando mais uma vez a esquina perseguida pelos vândalos locais.

Na verdade aproximava-se um veículo escuro vindo do ponto em que a principal cruzava com a dezesseis. Parou diante de mim e o motorista abriu uma porta ruidosa que já tinha visto dias bem melhores.

“Ei, Chapa!” Era meu amigo Warren Nesbel. Não era mais apenas gordo como antes. Agora estava calvo e abatido.

Nos dias subseqüentes conversamos e relembramos aquilo que não havíamos relembrado ao telefone antes de minha chegada. No último dia agradeci sua hospitalidade por receber-me em sua residência e, sem muita cerimônia, lhe pedi o carro de empréstimo.

“O que vai fazer?” Perguntou ele mesmo sabendo do que se tratava. E emendou: “Olhe, amigo, nós não queremos saber deles. Pelo que me consta nem existem mais. Aquela terra toda está abandonada. Ninguém vai lá! Assim como sempre foi.” E me olhou com uma expressão realmente apreensiva em seu semblante flácido. “ah, o garotinho...” continuou ele. “O que te olhou... Não sabemos nada dele. Pode ainda estar por lá.” Depois ele se calou diante de meu olhar impassivo. E entregou as chaves.

Quando ia saindo da frente de seu endereço, ele me segurou pelo braço. “Wilfred, por favor não vá lá. Deixe amanhecer pelo menos. Aquele lugar é um horror à noite.”

Mas eu estava irredutível e fiz menção de soltar meu braço de suas mãos. Ele afrouxou a pressão e, por fim, me largou.

Depois que dei a partida no motor, no entanto, ele bateu à janela do passageiro. “Wilfred” disse ele. “Não saia do carro. Você não sabe o que anda por lá, no escuro!” Depois me deu as costas e entrou na casa bem iluminada. Eu sabia que ele me aguardaria e que, se houvesse alguma demora que julgasse inaceitável, chamaria a polícia e a mandaria em meu encalço.

Devo confessar que não foi sem um mínimo de apreensão que tomei a estrada abandonada que levava à fazenda dos Florence. Era de terra batida e dominada por árvores de copas tão espessas que tornavam a escuridão da noite ainda mais pétrea e intransponível. Tudo o que se podia delinear na escuridão fora do carro eram os raios de uma lua cheia que fazia vazar seus raios por entre as árvores e lançava, aqui e ali, barras de luz amarelada na estrada adiante. A fantasmagórica luminosidade ocre me possibilitava divisar vagamente partes do sombrio interior da floresta que margeava o caminho.

Em certos trechos a estrada era tão estreita que eu tinha a impressão de que o veículo não conseguiria seguir adiante, pois ficaria preso às margens altas pelos retrovisores. Do nível do solo, um observador a pé se sentiria como se subjugado por aqueles morros que se elevavam desde a beira do caminho e partiam terreno a dentro até atingirem as elevações mais altas no horizonte. A região era, assim, sem dúvida, terreno fértil para as fantasias do povo simples local e ali já haviam sido avistadas todo tipo de abominações horrendas atribuídas, obviamente, à maldição diabólica dos Florence.

De repente, a despeito de minha situação bizarra, vagando em alta madrugada por uma estrada abandonada em direção ao local onde diziam que monstros erravam ferozes e famintos, surpreendi-me buscando na memória algo que quebrasse a aura negativa que aquele lugar insistia em moldar em meu imaginário. Lembrei então de quando eu era um garoto de cerca de nove ou dez anos e Ernest Florence costumava brincar nas terras de nossa família. Saía da propriedade de seus pais e atravessava a cidade até alcançar nossa fazenda. Ali, pulava a cerca e escalava o grande carvalho que havia num ponto ermo da propriedade. Algumas vezes eu o avistava ao longe recortado contra o poente, magro, cabisbaixo, solitário em meio aos galhos balouçantes. Recordei a vez em que eu fora ao seu encontro. Por algum motivo ele não se apressou em se afastar como normalmente fazia quando alguém tentava se aproximar; também por esta época a perseguição brutal e imoral a que sua família era submetida ainda não alcançara os paroxismos do famigerado “dia da praça”.

Ele simplesmente saltou dos galhos da árvore e ficou lá parado me observando diminuir a distância entre nos dois. Era louro, tinha olhos azuis aguados e um rosto afilado marcado por sarnas. Notei um número exagerado e inusitado de pelos escuros que brotavam precocemente de seu pescoço e aquilo me levou a crer que fosse bem mais velho do que eu imaginara ao vê-lo apenas de longe.

De repente ele sorriu para mim. Era algo estranho o seu semblante; como se, na verdade, não soubesse sorrir e se esforçasse para emitir uma imitação canhestra de um sorriso. Seu rosto, neste momento, me lembrou os dos manequins das lojas do centro. Depois ele me deu as costas e correu. Com incrível agilidade saltou por sobre a cerca e desapareceu rapidamente pela estrada.

Fiquei parado em baixo do velho carvalho imaginando como seria a vida de um garoto como aquele; nos motivos pelos quais diziam que ele e os seus eram monstros. E minha imaginação ia muito além do que costumavam chegar as imaginações das crianças de dez anos de meu tempo!

De súbito um brilho incomum me fez despertar deste semi-transe em que eu mergulhara, em meio às minhas recordações, e me trouxe bruscamente de volta à estranheza daquela estrada escura. Pareceu-me notar um reflexo amarelado e cintilante à margem esquerda do caminho. A velocidade do veículo, no entanto, não me permitiu vislumbrar nada com exatidão e, provavelmente, forneceu-me uma impressão errônea de ter avistado, na verdade, dois olhos enormes me espreitando do escuro. Perscrutei o retrovisor, mas nada mais pude divisar no trecho por onde passara.

À minha frente surgiu então o portão principal da propriedade dos Florence. O vento aumentara consideravelmente e ao estacionar o carro no acostamento, e desligar o motor, mesmo com os vidros erguidos pude ouvir os gemidos que ele provocava quando passava por entre as árvores na floresta. Mantive os faróis acesos pois percebera que a cerca de madeira da fazenda balouçava muito embalada pela forte movimentação do ar. No entanto a escuridão era tamanha que pouco as luzes do carro me ajudavam. Resolvi ignorar os avisos de meu amigo da cidade e saltei para fora do carro.

O cenário no exterior era insuportável. Não havia, de fato, alma crente que ali se postasse sem sentir no coração as fisgadas de um medo sobrenatural que era incontrolável e involuntário. De minha parte senti meu corpo sendo percorrido por calafrios que jamais imaginei serem possíveis.

Ao longe a sede da fazenda se encontrava envolta numa escuridão tão densa que seu peso parecia incidir violentamente sobre minhas costas. A gigantesca silhueta negra da construção rústica fazia lembrar algum deus mitológico adormecido e mergulhado nas trevas; num caos de ventos violentos e gemidos agonizantes.

Fiquei parado diante dos portões de madeira apodrecida. Não podia acreditar que as pessoas da cidade simplesmente não sabiam o que ocorria naquela fazenda; ou não sabiam sequer se estava ou não habitada.

Subitamente minha atenção foi atraída por um movimento na cerca de arame que passara a se agitar de uma forma que não condizia com o sopro do vento. Arqueara-se como se pressionada para baixo por algum peso extraordinário. Olhei para a escuridão que se estendia ao longo, para o lado esquerdo, e com esforço pude divisar um vulto grande equilibrando-se sobre a malha farpada de aço. Assemelhava-se á uma grande ave que, empoleirada na cerca, tivesse as asas abaixadas. Depois o vulto emitiu um pio agourento que me pôs em corrida desesperada na direção do carro. De lá os faróis iluminavam parte do terreno para além do portão de entrada. E, banhadas pela luz difusa, avistei paradas na escuridão criaturas que por um momento me tiraram a sanidade. Eram como imensas corujas negras que me fitavam com imensos olhos amarelados.

Entrei no automóvel e tranquei as portas imediatamente. Logo minha respiração ofegante e descompassada encarregou-se de embaçar os vidros das janelas. E não pude ver exatamente as coisas que me cercavam do lado de fora. Sei que bem ouvi seus gritos e risadelas. E ouvi quando piaram lamentosamente do alto da cerca e de dentro da fazenda. Depois creio que desmaiei ou o pavor me conduziu para mundos dos quais depois não tive qualquer recordação.

Quanto retornei à lucidez ainda estava dentro do carro. A luz do dia já ia alta e eu continuava parado diante dos portões da fazenda dos Florence.

Havia um homem do lado de fora. Ele olhava curioso para o interior do veículo e quando me viu abrir os olhos deu um salto para trás como se assustado. Algo em seu rosto me era extremamente familiar e tão logo me recompus e o olhei bem pude reconhecer o rosto do estranho garoto que me fitara na praça central. Estava bastante idoso, assim como eu, mas sua compleição física era a de um homem mil anos mais velho.

Saí do carro e fiquei diante daquele esboço de dias longínquos. Seu semblante era tão cansado e triste que me mortificou ainda mais que a lembrança do horror da noite anterior. Não disse nada e simplesmente ergueu uma das mãos na qual trazia um copo com água que me entregou. Depois, com um sorriso tímido, me deu as costas e caminhou para o portão entreaberto onde o aguardavam outras pessoas tão tristes e assustadiças quanto ele próprio. Não carregavam, entretanto, nenhum traço das monstruosidades que eu avistara na escuridão.

Deixaram-me parado na estrada ensolarada repleto de pensamentos estranhos e conflitantes. Será mesmo que havia monstros naquele lugar? Ou minha imaginação, movida pelo medo, trabalhara contra mim naquela noite?

Foi assim, confuso e abalado, que retornei à cidade, devolvi o veículo a seu proprietário sem dizer uma palavra e nunca mais voltei. Nesbel veio até a porta da rua antes que eu me fosse para sempre. "Eu chamei a polícia!" Disse ele. "Mas eles não quiseram ir até lá procurar por você. As coisas por aqui são muito dificeis, compreenda!"

Agora, que já não tenho muito tempo nesta vida, sinto que se romperam em mim muitas das convicções de outrora. E já não sou capaz de sair de casa à noite sem primeiro esquadrinhar cuidadosamente os céus e os lugares escuros ao meu alcance para me certificar de que não estou sendo vigiado por estranhos e imensos olhos amarelados.

22.7.09

Resultado do 1º Exercício de Elaboração de Contos Fantásticos do Fórum da Câmara dos Tormentos

Acesse o link abaixo para ler os contos fantásticos do 1º exercício de contos da Câmara dos Tormentos, evento realizado no fórum da CT e que atualmente se encontra em sua segunda edição. Todos os escritores de literatura fantástica estão convidados a participar!




10.7.09

A NOITE EM QUE VIESTE - Henry Evaristo

Este foi o primeiro texto que publiquei na internet; com o qual adentrei este mundo da literatura virtual. Hoje, passados três anos de sua primeira aparição no site Recanto das Letras, republico-o aqui na Câmara (onde tmbm já foi publicado em 2007). Boa leitura




A NOITE EM QUE VIESTE

Henry Evaristo

A noite em que vieste estava fria como nunca antes. Meus olhos marejados te avistaram através da janela, caminhando na direção da casa em meio à neve e às trevas, como se combalido e furioso; mas nunca perdido, visto que bem sabias onde tinhas chegado. De pronto te abri minha porta e não te fiz perguntas desnecessárias fingindo espanto em ver-te. Ambos sabíamos que eu fora aquele que te trouxera ali e nossas palavras eram, então, articulações infrutíferas. Deixei-te a vontade para olhar por todos os cantos de minha humilde moradia e não te interrompi nem um minuto sequer; nem mesmo quando, incontinenti, invadiste minha alcova onde descansava o corpo de minha esposa. Como me ordenaste em sonhos, sacrifiquei-a em teu nome para que ela, ao partir deste mundo pelas minhas mãos, pudesse contribuir com sua paixão para a minha glória final.

Te acompanhei depois ao porão onde encontraste os símbolos mágicos necessários para a tua invocação, aqueles que tu mesmo bem ensinaste aos magos na idade das trevas. Usei-os com a maestria resultante de vinte anos de estudos árduos movidos pela curiosidade, mas, sobretudo, pela necessidade de abandonar este mundo pequeno e atingir outras esferas; pela chama que ardia em meu peito e que dizia "Tens que ser um homem de grande espírito e com poderes sobre as riquezas da matéria e as vontades alheias!". Vi o brilho louco em teus olhos quanto comprovaste que tudo estava certo e que podias terminar o que eu começara.

Como a borda negra de um abismo insondável, mestre, tu te voltaste para mim; e teus olhos em chamas encheram meu corpo de esperanças. Lança-me, homem negro, nas profundezas de teu abraço inflamado que eu mergulharei nos caminhos de tua maldade infinita e de tua liberdade que é pecaminosa aos olhos dos homens, mas benfazeja aos meus. Me investe da palavra de teu reino para a tua glória! Toma agora minha alma e me dá o mundo!


Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

Publicação original em: 26/05/07

9.7.09

ESTOU FORA DO RECANTO DAS LETRAS!

Descobri o RL em 2006 ou terá sido ainda em 2005? Já nem lembro direito. Fiquei maravilhado com o trabalho do site. Pela primeira vez em minha vida tive a oportunidade de ver meus trabalhos publicados de verdade; expostos à apreciação de centenas, milhares de pessoas. E o melhor: não eram pessoas comuns, a massa, não! Eram pessoas inteligentes, intelectuais, com sensibilidade e conhecimento. De repente vi meu trabalho reconhecido, elogiado por indivíduos anos luz mais inteligentes e elevados do que eu. Era o tempo de grandes escritores no site, onde se podia falar livremente e trocar as mais fantásticas ideias entre artistas. Nunca me cansei de agradecer a todos que liam meus contos, e ao próprio site por ter me possibilitado tudo isso. Recentemente recebi um e-mail de um leitor aleatório que me perguntava sobre a idoneidade de um certo convite para coletânea por parte de uma editora do RJ. Depois que respondi, o leitor retornou o e-mail muito feliz e se dizendo surpreso por ter sido a mim, Henry Evaristo, que ele enviara sua pergunta. Afirmou que não sabia que a pessoa para qual ele havia enviado o e-mail era eu, o "famoso Henry Evaristo". Fiquei feliz e logo me veio á mente que o Recanto havia sido, também, responsável por este reconhecimento público que se inicia para mim. Claro que meu blog, com a ajuda dos amigos, também é responsável por esta projeção parcial minha, mas se não fosse minha participação no RL, nem mesmo essas pessoas me conheceriam. Todos os meus grandes amigos virtuais me conheceram através deste site.

Pois bem: Agora o RL mudou. Mudou muito. Desde o ano passado há algo errado por lá. É dificil afirmar exatamente quais motivos determinaram a mudança de postura da admnistração do site. Se foram os constantes desentendimentos entre os escritores, a maioria apodrecidos pela soberba, o pedantismo e o egocentrismo (e alguns com distúrbios mentais mesmo) ou se foram as ideologias evangélicas que estão tomando o Brasil de assalto nestes nossos tempos estranhos. O fato é que o site começou a impor uma política extremamente conservadora em todos os seus setores, com emprego de censura, de limitações de todas as espécies, desde solicitar documentos pessoais de seus membros para poderem realizar cadastro até impedir a todos de excluirem suas próprias postagens no forum.

Aos poucos o site foi degringolando, se transformando em algo diferente daquilo que descobri por acaso navegando pela internet. E assistimos seus maiores escritores irem embora. O proprio site, com seus autoritarismos exagerados foi espantando as mentes criativas de suas páginas. E foram restando apenas aqueles que compactuavam com a nova política retrógrada e, quiçá, orientadores dela. Li inúmeras postagens de indivíduos evangélicos passando suas ideias para todos no forum, impondo-as sem resistencia para outros indivíduos predispostos a aceitá-las. Recentemente, no mural do site, li uma postagem (que pena que não a salvei!) de uma recantista repreendendo a TODAS AS PESSOAS que não vão à igreja! Num site que deveria ser laico pois é um lugar de generalidades, que deveria ser um aglutinador de gente de todos os tipos e crenças! Logicamente isso não foi censurado pela moderação. Mas todos sabemos que nosso amigo Rogério Silvério foi expulso do RL por manifestar suas ideias sobre religião! Todos sabemos que Paulo Soriano teve sua pessoa e sua família ameaçados por alguém do Recanto das Letras por manifestar sua opinião sobre Deus! E eu pergunto: Que diabo de site o RL se transformou? Seguiu a nova tendência de se evangelizar que assola o país? Então, se essa é a explicação, podemos entender o porquê de tudo isso: É que onde está o cristianismo está a intolerância, o preconceito, a agressividade, o egocentrismo, a ignorância, o pedantismo, a ignomínia, a difamação, o racismo, a agressão verbal e física.

No final do ano passado a moderação me enviou um e-mail no qual afirmava que ela mesma, e os outros recantistas, achavam que a Irmandade das Sombras ocupava inutilmente um espaço muito grande. Completamente ignorante de tudo, a moderação nos acusava de em nada contribuirmos para o site e para o forum! Desconsiderou nossos exercícios de composição, desconsiderou nossa contribuição à literatura fantástica nacional sempre apresentando contos de qualidade e desconsiderou, principalmente, nossa coletânea, publicada em livro, sem nenhuma participação do RL nem pra ajudar a divulgar! Nem mesmo entre as propagandas dos volumes lançados pelos "poetas" do RL nos foi dedicado um mínimo espaço para nossa coletânea. Estariam os outros membros do site, no momento em que a moderadora me enviou o e-mail, pressionando em seus ouvidos, nos chamando de diabólicos, de descrentes, de infiéis? Já até imagino as citações: "Tem mesmo é que mandar esse pessoal dessa tal de irmandade pro inferno!" "Eles têm que morrer!" (os evangélicos falam assim, sabiam? Rsrsrsr!) "Essa turma vai trazer o diabo pra dentro do site!" "Bando de satanazes!" "Queima eles Jesus!" "Essa gangue tá amarrada em nome do Senhor!" .

Brincadeiras à parte, o que ocorreu é muito sério (?) e lamentável. O Recanto era o principal site de literatura "amadora" da internet brasileira. Agora se reduziu a um reduto de adoradores hipócritas que de dia estão tentando evangelizar os outros com posturas demagógicas sobre tudo e de noite postam textos pornográficos sob pseudônimos!

Mas o problema do RL não é só a questão religiosa. Há também a ineficiência em se tratar com as questões de desobendiência aos estatutos. Há também a proteção ao indivíduos que se tornam mais proximos afetivamente dos administradores. No meio de tudo isso tem também o delicado problema que o dono do site tem de não poder correr riscos de perder membros pagantes! Assim os não pagantes acabam sendo tratados com menor respeito e importância afinal quem paga sempre tem razão, não?

Como é sabido por todos, ou ao menos todos deveriam saber, o fim da IS foi determinado por três fatores: As idéias de seu fundador que destoavam do pensamento da maioria dos membros do grupo; o e-mail fulminante, desrespeitoso e equivocado da moderação e a ironia e as afirmações maldosas gratuitas de um outro membro do forum que irei chamar de Cremutcho para não revelar seu verdadeiro nome. E, depois da dissolução, a admnistração do site aproveitou para realizar uma "limpeza étnica" no site. Deletou TODOS os tópicos relacionados com a literatura fantástica rapidinho, como quem se livra de uma praga. Depois, como para dar a entender que o site é imparcial, abriu um tópico sobre o tema em outra posição do forum, escondido de todos, dificil de localizar. Não à toa o tópico está lá aberto até hoje e sem nenhuma participação. Ora, ninguém sabe que existe!

Depois do fim da IS, e vendo que os tópicos restritos à poesia cresciam a cada dia, eu havia perdido totalmente o interesse no Recanto, mas mantinha minha escrivaninha aberta por conta da exposição que ele garantia ao meu trabalho. Nos últimos dias, no entanto, reiniciei minhas atividades no forum do RL e passei a opinar sobre as politicas do site. Há três dias fiz severas críticas à política de não poder deletar as postagens realizadas, ou seja, vc não pode apagar a sua propria postagem. Fiz as críticas, sim, ferrenhas. E com meu estilo sempre bem humorado. De repente, do nada, como um daqueles pistoleiros contratados, me aparece uma pessoa, uma mulher, escrevendo coisas um tanto quanto ofensivas contra mim e contra alguns outros colegas num determinado tópico. Ora, não contei conversa, emiti minha opinião de volta, com certeza. Veio então a moderação, completamente vendida a esta nova ideologia do RL, e deu total razão à tal mulher ofensora. Ai o bicho pegou mesmo! Rrsrsrsr!

Não é possivel isso! Será uma conspiração para o fim da presença dos escritores de litfant no recanto das letras? Aliás, aquilo lá deveria ser chamado agora de recanto dos poétas cristãos.

Considerarei a possibilidade de, em breve, publicar todo o conteúdo do tópico para que os amigos vejam o ocorrido e a injustiça cometida. Vai depender de como a administração vai tratar o assunto.

Em meu e-mail final para a moderação, eu não fui nada econômico. Creio que eles, que sempre estão absolutamente certos, não ficarão nem um pouco felizes com o irão ler. Por isso espero que os amigos estejam prontos a me ajudar caso o site queira, de alguma maneira, tentar denegrir minha imagem virtual pois sei que essa é uma atitude bastante comum em grupos que seguem orientações cristãs.

Estou postando este texto sobre o que aconteceu para que meus amigos e meus leitores saibam o real motivo que me levou a deletar minha conta no Recanto das Letras. A despeito do que a administração possa falar por ai, essa é a única verdade, e tenho tudo o que foi dito no tal tópico salvo aqui no meu hd para provar.

Lamento profundamente que as coisas tenham tido esse desfecho mas, ao mesmo tempo, me sinto aliviado por ter me afastado definitivamente dessas pessoas. O Recanto das Letras do qual saio agora não é o mesmo no qual eu entrei. Já sou obrigado a viver entre este tipo de gente na minha vida real e não posso com mais uma dose também na vida virtual.

Sei que os que convivem comigo, conhecem meu trabalho e meu comportamento, irão continuar me apoiando e acompanhando as coisas que escrevo. A Câmara dos Tormentos é meu endereço fixo agora. Aqui será a base para todo o meu trabalho. Todos aqui são bem vindos mesmo, de verdade, sem demagogia, sem hipocrisia, sem falsidade.

Abraços!


Henry Evaristo

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A Rainha dos Pantanos - Henry Evaristo

Virgílio - Henry Evaristo

UM SALTO NA ESCURIDÃO - Henry Evaristo publica seu primeiro livro

O CELEIRO, de Henry Evaristo

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