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20.6.08

AMO-TE TANTO, MINHA QUERIDA!

A escritora e amiga das sombras Tãnia Mara Souza, volta à nossas páginas com uma bela poesia. Boa leitura!





AMO-TE TANTO, MINHA QUERIDA!


Por Tânia Mara Souza



Amo-te tanto minha querida
E já não me importa a tua pele assim ferida
Repouso em teu peito calado em puro encanto
E o aroma nauseabundo de teu corpo
Respiro e quero-me deste olor impregnado

Os espasmos que em teu outrora corpo santo
Os vermes causam, deleito-me, sorvo e vibro
Pois te sinto ainda em volúpia em meus braços
E meus dedos brincam em teu lacerado umbigo
Lambuzando-me em teu sangue coagulado

Amo-te tanto minha querida
Que me importa tua doce pele necrosada?
Se em ti tenho tenra a minha morada
E aos humores da morte aspiro enamorado

Perdoaras, bem sei, essa volúpia incontida
De possuir-te em lascívia empolgante
Meu desejo é antigo, e não faço dos vermes inimigos
Quando passeamos por tua carne apaixonados
E em úmida putrefação te abraço

Amo-te tanto minha querida
Que perdoaras também a faca assassina
Que te presenteei na esquina assombrada
Sei que ainda eras uma menina
Perfurei em teus seios a vida
Em teu ventre, em teus braços e coxas exibes
As marcas da minha paixão afiada
Mas, ah, não esconderei de ti mais nada
Somente assim serias minha doce e completa amada

Ainda assim não foste ainda minha
Tive que esperar deusa querida
As tolices de uma gente desesperada
Enquanto preparava-te esta doce morada
E foi na noite calada que ousei atrevido
Profanei o túmulo onde estavas
E finalmente és minha mulher adorada

Quando vivias, gostava de tua tez tão rosada
Quando indiferente passavas por mim todos os dias
Mas amo-te muito mais assim toda esverdeada
Pois era linda, mas não me pertencias
És agora minha soturna namorada

Nesta caverna sombria, entanto glamurosa
De vermes e purulentos vapores infestada
Nossas núpcias enfim serão celebradas
E tolos os que te choram em cova vazia
Onde foste enterrada e agora jaz abandonada

Mal sabem do deleite,
Dessa podridão soberba
E do amor profano que te ofereço
Amar-te assim até que seja apenas
Em meus braços desnudo esqueleto

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