(23 de Outubro de 1882)
28.6.08
O MEDO
(23 de Outubro de 1882)
26.6.08
O DRAGÃO DA MEIA - NOITE
Jurandir Araguaia, amigo das letras sombrias e grande mestre do fantástico nacional, retorna às nossas páginas com mais um conto surpreendente, assustador, e magistral. Confira!
Habita entre nós um réptil.
Percebi, durante certa madrugada, estranhos ruídos vindos do corredor. Parecia um chocalho. Minha esposa achou que era um silvo. Minhas filhas ouviram estalos. Cada qual guardou seu som. Acendi a luz do abajur e, munido de um halter de 1 quilo, usado para exercícios, avancei tremendo na sua direção. Acendi a luz e, em um flash, notei que desaparecera como se entrasse no buraco da noite.
O que era? Não consegui responder. Parecia uma espécie indefinida.
Sumiu no ar? Ao que parece. Não pregamos o olho. As luzes ficaram acesas nos quartos.
Na noite seguinte realizamos uma minuciosa revista antes da hora do sono. Cada pedaço da casa foi revistado. O cansaço nos tomou. Durante as horas tardias novamente sentimos sua presença. Derrubou coisas na cozinha. Adotei um bastão improvisado de madeira como elemento de defesa. Minhas filhas trancadas no quarto ao lado gritavam. Acendi a luz e corri à cozinha. Dois pequenos olhos vermelhos, rubis incandescentes sobre a pia, fitavam-me. Bati a mão no interruptor de luz e os olhos evaporaram diante da claridade. A cozinha em pandemônio. Travessas reviradas, embalagens de alimentos foram abertas e o conteúdo espalhado pelo chão. O porteiro chamou-nos pelo interfone. Recebeu reclamação de vizinhos que acordaram com os nossos gritos.
Desculpas pedidas. Guardamos silêncio. Seríamos tomados por loucos. Toda uma família passou a ser encarada com desconfiança pelos moradores do lugar. Nossas olheiras denunciavam as noites agitadas. Nas noites seguintes deixamos todas as luzes acesas. Como poderia um animal subir ao quinto andar e viver entre nós sem que ninguém o visse, sem deixar qualquer rastro durante o dia? O porte era considerável. Não poderia se ocultar facilmente. Janelas fechadas. Armários revistados. Não havia buraco na parede, ou nos ralos, ou atrás da pia ou dos sanitários que pudesse abrigá-lo.
Chamei um caçador de pragas. Revistou, buscou, constatou não haver vestígio de animal algum. Noite após noite, se deixávamos algum cômodo sem iluminação, acordávamos com a sua presença. Quartos trancados e abajures acesos viraram norma. Ele passava pelo corredor escuro. Arranhava nossas portas. Minhas filhas gritavam. Eu abria a porta e ele fugia da claridade engolido pelo vácuo da noite. Era um inferno. O síndico me chamou para conversar. Reclamações sucediam-se. Minhas desculpas desgastavam-se. A desconfiança habitava entre nós. Certo dia, ao sair para o trabalho, encontrei meu carro pichado com os dizeres: loucos, vão embora. Não contei nada à minha família, elas não precisavam passar por aquilo. Comprei uma pistola no mercado negro. Passamos a necessitar de calmantes. Minha esposa entrou em paranóia.
Você tem que fazer alguma coisa.
Nenhum de nós conseguia executar direito as suas tarefas. Eu errava no trabalho. Minhas filhas não estudavam. O casal parou de fazer amor. A vida virou do avesso. Dormíamos todos juntos em um só quarto enquanto o animal dominava a casa. A conta de luz foi às alturas. Pensei em chamar o Corpo de Bombeiros. Ri da minha ingenuidade. Dizer o quê? Que o animal desaparece ao ascendermos as luzes? Loucos, era o que pensariam, era no que nos tornávamos.
Em uma noite aconteceu: queda geral de energia. Amontoados no mesmo quarto, gritávamos antes que ele aparecesse. Duas enormes pupilas, do tamanho de bolas de futebol, ameaçavam nos devorar. Chispas eram lançadas. Um odor de morte invadiu o lugar. Senti que uma das minhas filhas foi arrancada de nós e gritava de medo e horror, enquanto a tremenda fera a balançava no ar entre os seus dentes. Com uma pequena lanterna eu mal conseguia divisar o que ocorria. Disparei a esmo a arma. Os gritos sucediam-se. Atirei até que tudo ficasse calmo. Os olhos sumiram. Acendi a luz e constatei que toda a minha família estava morta. Os tiros erraram o alvo. Ninguém acreditou em mim. Fui preso. Os vizinhos me olhavam com ares de ódio. Sentia em cada um a mesma energia da fera. Hoje, em minha cela, no escuro, abro os olhos e vejo aquelas duas chamas a me encarar, risonhas, vibrando com a minha desgraça...
Jurandir Araguaia
I.S. MAGAZINE
Entrevista: ROBERTO DE SOUSA CAUSO .
IS MAGAZINE NÚMERO 3
Leia também a IS número 1
20.6.08
AMO-TE TANTO, MINHA QUERIDA!
A escritora e amiga das sombras Tãnia Mara Souza, volta à nossas páginas com uma bela poesia. Boa leitura!
AMO-TE TANTO, MINHA QUERIDA!
Amo-te tanto minha querida
E já não me importa a tua pele assim ferida
Repouso em teu peito calado em puro encanto
E o aroma nauseabundo de teu corpo
Respiro e quero-me deste olor impregnado
Os espasmos que em teu outrora corpo santo
Os vermes causam, deleito-me, sorvo e vibro
Pois te sinto ainda em volúpia em meus braços
E meus dedos brincam em teu lacerado umbigo
Lambuzando-me em teu sangue coagulado
Amo-te tanto minha querida
Que me importa tua doce pele necrosada?
Se em ti tenho tenra a minha morada
E aos humores da morte aspiro enamorado
Perdoaras, bem sei, essa volúpia incontida
De possuir-te em lascívia empolgante
Meu desejo é antigo, e não faço dos vermes inimigos
Quando passeamos por tua carne apaixonados
E em úmida putrefação te abraço
Amo-te tanto minha querida
Que perdoaras também a faca assassina
Que te presenteei na esquina assombrada
Sei que ainda eras uma menina
Perfurei em teus seios a vida
Em teu ventre, em teus braços e coxas exibes
As marcas da minha paixão afiada
Mas, ah, não esconderei de ti mais nada
Somente assim serias minha doce e completa amada
Ainda assim não foste ainda minha
Tive que esperar deusa querida
As tolices de uma gente desesperada
Enquanto preparava-te esta doce morada
E foi na noite calada que ousei atrevido
Profanei o túmulo onde estavas
E finalmente és minha mulher adorada
Quando vivias, gostava de tua tez tão rosada
Quando indiferente passavas por mim todos os dias
Mas amo-te muito mais assim toda esverdeada
Pois era linda, mas não me pertencias
És agora minha soturna namorada
Nesta caverna sombria, entanto glamurosa
De vermes e purulentos vapores infestada
Nossas núpcias enfim serão celebradas
E tolos os que te choram em cova vazia
Onde foste enterrada e agora jaz abandonada
Mal sabem do deleite,
Dessa podridão soberba
E do amor profano que te ofereço
Amar-te assim até que seja apenas
Em meus braços desnudo esqueleto
18.6.08
A LENDA DO CAVALUM
Uma aterradora lenda portuguesa narrada por Olimac do blog DOCUMENTOS e DO BAÚ DE MINHA AVÓ.
17.6.08
SILÊNCIO
A Câmara apresenta mais um clássico absoluto da literatura fantástica universal. O mestre Edgar Alan Poe mais uma vez nos faz mergulhar num mundo envolto nas mais profundas trevas do horror. Boa leitura!
"O cimo da montanha dormita; .
vales, rochedos e grutas emudecem."
Alcman.
ESCUTA - disse o Demônio, pondo a mão sobre minha cabeça. - A região de que falo é uma lúgubre região da Líbia, às margens do rio Zaire e ali não há repouso nem silêncio. "As águas do rio são amarelas e insalubres e não correm para o mar, mas palpitam eternamente, sob o rubro olhar do sol, em movimentos tumultuosos e convulsivos. Por muitas milhas, de cadalado do leito lamacento do rio, estende-se um pálido deserto de gigantescos nenúfares, que suspiram, um para o outro, naquela solidão e erguem para o céu os longos colos lívidos, meneando as frontes imortais. E dentre eles se evoca um murmúrio indistinto, semelhante ao rolar de uma torrente subterrânea. E um para o outro eles suspiram.
Ora, lindas história se encontram nos volumes dos Magos, nos melancólicos volumes com fecho de ferro. Neles, afirmo, há esplêndidas histórias do Céu e da Terra, e do mar poderoso; e dos Gênios que governam o mar, e a terra, e os altos céus. Há também muita ciência nas palavras proferidas pelas Sibilas; e coisas sagradas se ouviam outrora, junto às folhas sombrias, que tremiam em torno de Dodona; mas, considero, tão certo como vive Alá, essa fábula que o Demônio me contou, sentado ao meu lado, à sombra do túmulo, como a mais maravilhosa de todas! E ao terminar o Demônio sua história, caiu dentro da cavidade do sepulcro, às gargalhadas. E como eu não pudesse rir com o Demônio, ele me amaldiçoou. E o lince, que vive eternamente no sepulcro, saiu do seu fojo e deitou-se aos pés do Demônio, encarando-o fixamente.
(1) - Animal considerado como o hipopótamo do Nilo, e descrito no livro de Jó (XL 15-24) (Nota dos TT.)
(Publicado pela primeira vez no BALTIMORE BOOK, em 1839)
6.6.08
A INVASÃO DE SANTEREZ
Existem muitas coisas estranhas e assustadoras ocorrendo nas grandes e pequenas cidades do mundo em nossos dias; escondida sob montanhas de protocolos e miríades de normas burocráticas, um pesquisador voltado para estes temas encontrará, sem sobra de dúvida, vasta coleção de acontecimentos horrendos. Eles são testemunhas mudas e renegadas das vezes em que o insólito se aproxima de nós sem que nem mesmo percebamos. Sem que tenhamos tempo de preparar nossas defesas. São testemunhas também do medo do homem em lidar com as coisas que desconhece e que sua ciência não pode explicar. Como num acordo tácito de alguma espécie de contrato social para o inominável, elas são banidas para baixo, para os porões das instituições onde permanecem esquecidas e temidas como coisas mofadas espreitando de nichos escuros. Ocorreu em Santerez, na América Central, o caso que narro a partir de agora.
II
O telefone tocou por volta das duas horas da manhã de domingo. A policial Marian Montese, grávida de seis meses, atendeu. Devia ser a décima chamada naquela madrugada e ela esperava de todo o coração que fosse apenas mais um dos costumeiros trotes passados pelos filhinhos de papai que estavam em férias na cidade. Naquela época do ano, quando as aulas findavam na capital, o pequeno município se enchia de garotos e garotas repletos de hormônios que não se davam por satisfeitos enquanto não conseguiam fazer mal ou prejudicar alguém com suas brincadeiras. Mesmo assim, Marian, sentindo já as dificuldades que um corpo mais pesado aliado à perda de sono ocasionava, torcera até o último momento para que o sujeito do outro lado da linha fosse apenas mais um moleque cheio de espinhas que gostasse de gemer ao telefone. Nem se preocupou em cuspir fora os sucrilhos com leite que estivera devorando poucos segundos antes. Atendeu com a boca cheia e mal conseguiu pronunciar “delegacia de polícia”. Ouviu em retorno apenas um pouco de estática e silêncio. Desligou sentindo-se aliviada por ter sido atendida em mais aquele seu pequeno desejo e ia dirigir-se novamente à copa quando o telefone tocou novamente.
Do lado de fora do pequeno prédio um vento tímido começara a soprar por volta das seis da tarde e agora tornara-se de uma frieza incômoda passando a uivar nos cantos externos das paredes e por entre as frestas das janelas. Havia apenas um agente de plantão no balcão de atendimento ao público no andar térreo. Lém disso, duas viaturas estavam fazendo ronda pelas ruas mal iluminadas do município.
O interfone tocou na parede da porta de entrada; um som estridente e agudo ressonou nas paredes atulhadas de cartazes e lembretes invadindo o silêncio da madrugada como uma estranha profanação. Marian girou nos calcanhares e correu para atender antes que a campainha voltasse a agredir seus ouvidos. Era Esteban, o agente da recepção. Sentia-se solitário e perturbado pela visão que tinha de seu balcão. A entrada do edifícil dava para o início do parque ecológico da cidade; àquela hora uma floresta escura e brumosa.
“Está tudo bem aí?” Disse ele por sobre o barulho do vento.
“Ah, engraçadinha! Nem me fale. Esse bosque aqui é de arrepiar!”.
Esteban era novato, viera transferido da capital há apenas três semanas. Não se acostumara ainda com os bucolismos do interior.
“Não se preocupe. No máximo Velásquez, o bêbado do bairro, deverá aparecer pedindo abrigo contra o frio ainda antes das cinco da manhã.” Disse Marian e faz menção de desligar mas o agente da recepção a chamou novamente.
“Se precisar de qualquer coisa me chame, ok? Estarei a noite inteira por aqui!” Disse isso com a maior dose de sarcasmo que o avançado da hora o permitiu, e desligou.
Marian ficou ainda um instante com o fone na mão, depois colocou-o na base e foi até a janela. Do terceiro andar ela podia ter uma visão mais ampla do parque municipal. Era uma imensa área de floresta densa que o governo nacional tombara como patrimônio histórico e desde então passara a preservar da maneira mais natural possível. Ninguém podia entrar a não ser funcionários e visitantes em grupos com hora marcada. A agente sabia da existência de um posto avançado de vigília; uma cabana de madeira embrenhada em algum ponto no meio da floresta e construída sobre os galhos de uma grande árvore. Em algumas noites, quando o tempo fechava de verdade e as estrelas desapareciam do céu, ela podia ver uma tênue luminosidade elevando-se do meio das copas verdes no horizonte; eram as janelas do posto iluminadas por lampiões de querosene.
Por outro lado, conhecia uma meia dúzia de funcionárias da polícia urbana que costumavam ir até lá farrear com os guardas florestais. Ela mesma andara saindo às escondidas com um deles pouco depois de conhecer seu marido, mas antes de apaixonar-se por ele. Mesmo assim se arrependia deveras por nunca ter se embrenhado na mata com o federal bonitão. Agora, casada e com um filho para nascer, esforçava-se para esquecer as brincadeiras do passado e, mesmo amando o companheiro, não reclamar pelas coisas que deixou de experimentar.
O telefone de emergências tocou novamente.
Irritada ela sacou o fone do gancho. “Delegacia de poli...” Tentou dizer, mas uma voz alta e distorcida a interrompeu.
“Aqui é do pos... Estamos... De aj... Aqui!”.
Marion não conseguiu entender do que se tratava.
Mesmo sabendo que devia ser um trote, a agente tinha o dever de tentar obter o máximo de informações sobre toda e qualquer ligação; sobretudo no meio da madrugada.
Os ruídos no outro lado da linha silenciaram de repente. Depois a voz tornou a gritar.
“Ajuda!”
Era uma voz masculina; adulta. E Marian não mais pensou que se tratasse de um trote.
Por alguns segundos não houve qualquer sinal de que o outro lado houvesse entendido o que Marian dissera. Depois, no entanto, a voz soou de novo. Era apenas um sussurro mas trouxe com ela a impressão de que algo muito errado estava realmente em andamento.
“Marian? É você?”
“Policial Marian falando. Positivo. Quem é?”
Novamente os ruídos tomaram conta da ligação. A agente olhou pela janela e viu que o vento uivante de outrora dera então vez a uma chuva torrencial.
“...uma coisa horrível... aqui...” Falaram do outro lado. “Ajuda, ajuda! Ibanez! Ibanez!”
Marian sentou-se em sua poltrona. A voz do outro lado da linha era de Camillo Ibanez, o guarda florestal com quem traíra seu marido. Sentiu um impulso de desligar mas, por outro lado, a voz do homem parecia tão desesperada que algo realmente grave poderia estar acontecendo.
“O que há, Ibanez?”
A resposta soou distante e desconexa em meio a um turbilhão de estática. A qualquer instante a ligação iria cair.
“Há mortos e feridos aqui! Precisamos de ajuda!”
“Ibanez, você está no posto do parque? Confirme!" Marian percebeu que estava quase gritando sem querer. Seu coração saltara com a última informação.
“Ibanez!” Gritou ela. Está no parque? No posto de observação? Confirme por favor!
“No posto! No posto!". A voz desesperada de Ibanez causava arrepios em Marian.
“Você precisa me dar mais informações!”
“Mande socorro, merda!”
“Ibanez, aguarde na linha!”
O desespero de Ibanez tomara conta da agente. Trêmula, ela pegou o rádio comunicador.
“Todas as viaturas! Ocorrência com vítimas no posto de vigília no interior do parque municipal. Entendido? Confirmem!”
De algum ponto longínquo o rádio respondeu. Eram Castro e Gutierrez.
“Central, confirme o local da ocorrência, por favor?”
“Parque ecológico municipal, posto de vigília!” Gritou Marian. Estou com um dos guardas na linha. Algo grave aconteceu por lá. Confirmem!”
“Entedido. A caminho!”
Marian largou o rádio e retomou o telefone. Estava desligado. No mesmo instante o interfone chamou novamente da porta de entrada da sala. O som abrupto do aparelho, que antes apenas incomodava e irritava, agora lhe provocou um grito de pavor. O mais rápido que pôde ela se dirigiu até ele mas, antes de atendê-lo, um calafrio percorreu todo seu corpo.
A voz calma de Esteban quase soava como um alívio para toda aquela tensão.
“Olá, Marian!”
Ela o interrompeu.
“Esteban. Há algo acontecendo no parque.” Estou monitorando a vítima e as viaturas agora. Enviei todas para o interior da floresta. Tudo bem aí embaixo?”
Neste momento o rádio comunicador soou em cima da mesa com um ruído agudo e áspero que espalhou a voz terrível do guarda florestal por toda a sala deserta. Estava mais nítida agora.
“Marian!” Gritou Ibanez de seu posto de observação no meio da floresta.
“O que há com este parque hoje?” Perguntou Esteban no interfone.
“Esteban, o que quer dizer? Aguarde, por favor!” Pediu Marian.
“Marian!” Gritou a voz desesperada no rádio amador. “Eles saltaram das sombras das árvores. Marian!!!”
“Você não sabe da maior!” Disse Esteban do andar térreo.
“Esteban, tenho que atender o rádio! Aguarde!” Gritou Marian.
“Eles são... Como feras! Mataram os homens! Não sei para onde foram. Desapareceram!” Berrou a voz no rádio.
Marian soltou o interfone e correu em direção ao outro aparelho agarrando-o com toda força. Sentiu uma fisgada forte no abdome.
“Ibanez! Repita por favor!”. Gritou ela.
“Eles saltaram da escuridão depois do por do sol e nos atacaram. Acho que são como animais! Sorveram o sangue dos outros guardas.”
No interfone, largado fora do gancho e oscilando de um lado para o outro na parede, Esteban chamou.
“Marian, olá!? Há três sujeitos parados do outro lado da rua aqui embaixo! O que devo fazer?” Disse ele mas só conseguiu ouvir como retorno a voz distante da colega falando no rádio amador.
"O que você está dizendo, Ibanez? Não entendo! O que houve?” Gritou a agente.
“Eles são muitos! Não sei quantos são! Peça reforços imediatamente! Não são pessoas normais!”
“O que?” Disse Marian começando a ter os sentidos entorpecidos pela loucura que presenciava.
“Sabe o que é engraçado, Marian?" Disse Esteban ao interfone pela última vez. "Estes caras saltaram de dentro do parque e simplesmente estão parados lá fora.” Mas não foi ouvido.
“As viaturas chegaram! Vou descer...” Disse Ibanez no rádio amador. Mas Marian não lhe deu mais atenção. Havia um barulho estranho vindo do corredor. Eram como silvos, sibilos de serpentes que avançavam até a sala vindos do elevador e das escadas.
A agente correu até o interfone. Estava mudo.
“Esteban! Esteban! Está me ouvindo? O que houve ai embaixo?”
Mas o policial não respondeu. Não havia, naquele momento, mais ninguém na recepção do prédio. Havia apenas um cadáver exangue que era arremessado pelas paredes por seres de pesadelo que saltaram abruptamente das sombras do bosque e avançaram ferozes para a cidade adormecida.
Marian soltou o interfone ouvindo estalos na madeira da porta misturados a rosnados furiosos que vinham do lado de fora de sua sala. Era como um bando de cães raivosos que, de repente, invadissem a central de polícia.
Naquele momento, daquela mesma forma surpreendente, centenas de outras famílias da cidade já haviam sido chacinadas; massacradas por uma força sobrenatural que tomara formas humanóides naquela noite fria de inverno e se esgueirara para fora de lugares escuros nas profundezas das matas. Muitos cidadãos de santerez, em desespero extremo, ainda conseguiram chegar aos seus telefones mas somente para descobrir, no último instante, que eles estavam mudos.
Não houve mais nada além de sofrimento nos últimos minutos de vida de Marian Montese. Ela não viu as hordas tenebrosas que saltitaram para fora do parque e marcharam rumo ao centro da cidade; não pôde alertar ninguém para o que estava ocorrendo e também não teve tempo de chorar por seu filho. As criaturas, ao contrário, tiveram todo o tempo necessário para agir ao seu bel prazer com as vidas que tomaram naquela sala do terceiro andar. E ficaram à vontade para se servir de tantos quantos encontraram naquela noite terrível.
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