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13.8.07

A GUERRA DOS MUNDOS (continuação)

LIVRO I - CAPÍTULOS IV, V & VI




IV
A ABERTURA DO CILINDRO

Quando regressei ao baldio já era pôr-do-sol. Via grupos dispersos que chegavam, apressados, dos lados de Woking e uma ou outra pessoa que se afastava. A multidão aumentara em redor do fosso e recortava-se, escura, no amarelo-limão do céu - umas duzentas pessoas, talvez. Falavam em voz alta e parecia desenrolar-se, perto do fosso, uma espécie de luta. Imaginei que estavam a acontecer coisas estranhas. Quando me aproximei, ouvi a voz de Stent:

- Voltem para trás! Voltem para trás!

Um rapaz passou por mim a correr.

- Está a mexer-se - disse-me -, aparafusa e desaparafusa. Não gosto daquilo. Vou p'ra casa, vou.
Aproximei-me da multidão. Na realidade, creio, encontravam-se ali duzentas ou trezentas pessoas que se acotovelavam e empurravam umas às outras, e as duas ou três damas que se achavam presentes não eram, de modo algum, as menos activas...

Caiu no fosso - gritou alguém.

Voltem para trás - diziam várias pessoas.

A multidão hesitou durante alguns momentos e eu abri caminho com os cotovelos. Todos pareciam extremamente excitados. Ouvi um zunido peculiar provindo do fosso.

- Ouçam! - gritou Ogilvy. - Ajudem a afastar esses idiotas. Bem sabem que não fazemos ideia do que está dentro desta maldita coisa!

Vi um jovem, creio que era empregado de balcão em Woking, em cima do cilindro, tentando sair do buraco. A multidão empurrara-o para lá.

A extremidade do cilindro estava a ser desenrascada do interior. Viam-se sessenta centímetros de dois extraordinários parafusos. Alguém tropeçou em mim e quase fui arremessado contra a ponta do parafuso. Voltei-me e, neste momento, o parafuso deve ter saltado, pois a tampa do cilindro caiu sobre o cascalho com um estrondo atroador. Bati com o cotovelo na pessoa que se encontrava atrás de mim e fitei a Coisa novamente. Durante alguns momentos, aquela cavidade circular pareceu inteiramente -negra. O Sol, no ocaso, batia-me nos olhos.

Penso que todos esperavam ver emergir um homem - possivelmente, algo um pouco diferente dos homens terrestres, mas, nos aspectos essenciais, um homem. Sei que estavam à espera disso. Mas quando olhei vi qualquer coisa que se agitava na sombra: duas formas esverdeadas em movimentos revoltos, uma sobre a outra e, depois, dois discos luminosos - como olhos. A seguir, alguma coisa parecida com uma pequena serpente cinzenta, com a espessura aproximada de uma bengala, serpeou, projectan-do-se do meio que estremecia, e ziguezagueou na minha direcção - e, em seguida, surgiu outra coisa igual.

Senti bruscamente um arrepio. Ouviu-se o guincho agudo de uma mulher atrás de mim. Voltei-me para trás, de olhos ainda fixos no cilindro do qual saíam outros tentáculos, e comecei a abrir caminho para me afastar da beira do fosso. Vi o espanto dar lugar ao horror nos rostos das pessoas que me cercavam. Ouvia exclamações sem nexo provindas de todos os lados. Assistia-se a um movimento geral de recuo. O empregado de balcão debatia-se ainda à beira do fosso. Eu estava sozinho. Do outro lado, a multidão corria, até mesmo Stent. Olhei novamente para o cilindro e senti um terror incontrolável. Fixei-o, petrificado.

Uma grande massa redonda, acinzentada, com o tamanho aproximado de um urso, erguia-se lenta e penosamente do cilindro. Quando saiu e foi banhada pela luz, reluziu como couro molhado.

Dois grandes olhos escuros fitavam-me, imperturbáveis. A massa que os emoldurava, decerto a cabeça, era redonda e podia-se dizer que tinha um rosto, com uma boca debaixo dos olhos, cuja orla sem lábios tremia, arquejava e gotejava saliva. Toda a criatura ofegava e pulsava convulsivamente. Um apêndice delgado, tentacular, aferrava-se à superfície do cilindro; outro retorcia-se no ar.

Aqueles que nunca viram um marciano vivo mal podem conceber o horror que causava a sua estranha aparência. A característica boca em forma de V, o lábio superior pontiagudo, a ausência de rugas na testa e o queixo debaixo do lábio inferior cuneiforme, a agitação incessante da boca, os gorgóneos grupos de tentáculos, a respiração tumultuosa dos pulmões numa atmosfera que lhes era estranha, a lentidão e custo evidente dos movimentos por causa da maior energia gravitacional da Terra - sobretudo, a extraordinária intensidade dos olhos imensos -, tudo isto era simultaneamente vital, intenso, inumano, mutilado e monstruoso. Havia qualquer coisa de fungoso na pele castanha oleosa, algo indescritivelmente repelente nos movimentos desgraciosos e monótonos. Mesmo neste primeiro encontro, neste primeiro olhar, senti asco e náuseas.

Bruscamente, o monstro vacilou. Perdera o equilíbrio na borda do cilindro e caíra no fosso, com um baque semelhante ao da queda de uma grande massa de couro. Ouvi-lhe um característico grito abafado e, sem demora, a outra criatura emergiu indistintamente da profunda sombra da abertura.

Voltei-me e corri como louco ao encontro das árvores mais próximas, a cerca de noventa metros de distância, mas corria obliquamente e aos tropeções, pois não podia desviar os olhos daquilo.

Detive-me entre um grupo de pinheiros jovens, arquejante, e aguardei por novos acontecimentos. Em redor, pelos areais do baldio espalhavam-se pessoas mergulhadas, como eu, num terror meio fascinado, ora fitando aquelas criaturas, ora o monte de cascalho à beira do fosso. E, então, ainda mais horrorizado, vi uma forma preta, redonda, que aparecia e desaparecia à beira do fosso. Era a cabeça do empregado de balcão; parecia um pequeno objecto negro, desenhando-se no céu quente do oeste. Conseguira erguer o ombro e o joelho e pareceu escorregar novamente até se ver só a cabeça. De súbito, vacilou e pareceu-me ouvir um débil grito. Senti um impulso momentâneo de voltar para trás e ajudá-lo, mas o medo que sentia foi mais forte.

Nesse momento não se via nada; estava tudo oculto pelo profundo fosso e pelo monte de areia que o impacte do cilindro provocara. Qualquer pessoa que viesse pela estrada de Chobham ou Woking ficaria assombrada com o espectáculo que se lhe depararia aos olhos - uma multidão que diminuíra continuamente, de cerca de cem pessoas ou mais, disposta num grande círculo irregular, em valas, atrás de arbustos, atrás de portões e de sebes, proferindo poucas ou nenhumas palavras e essas em gritos breves e excitados e fitando, fitando intensamente, alguns montes de areia. O carrinho de mão do refresco de gengibre, abandonado, desenhava-se negro no céu rubro e, nos areais, via-se uma fila de veículos abandonados, cujos cavalos comiam das cevadeiras ou raspavam o chão.



V
O RAIO DA MORTE

Depois da rápida visão que tivera dos marcianos ao emergirem do cilindro no qual tinham chegado à Terra, vindos do seu planeta, os meus movimentos estavam paralisados por uma espécie de fascinação. Ainda me encontrava enterrado na urze, até à altura do joelho, fitando o monte que os ocultava. Travava-se em mim uma batalha entre o medo e a curiosidade.

Não me atrevi a aproximar-me novamente do fosso, mas sentia um desejo ardente de observar o que se passava no seu interior. No entanto, comecei a andar, descrevendo uma larga curva, à procura de um local vantajoso. Fitava continuamente os montes de areia que ocultavam os recém-chegados à Terra. Um feixe de espessos chicotes pretos, como os braços de um polvo, reluziu à luz do ocaso e ocultou-se imediatamente e, mais tarde, ergueu-se uma vara delgada que exibia na extremidade um disco circular que girava com um movimento vacilante. De que poderia tratar-se?

A maioria dos espectadores reunira-se num ou dois grupos - um deles constituído por uma pequena multidão que se dirigia para Woking, outro por pessoas que se encaminhavam para Chobham. Era evidente que todos partilhavam o meu conflito mental. Havia poucas pessoas ao pé de mim. Aproximei-me de um homem - verifiquei que era meu vizinho, embora desconhecesse o seu nome - e abordei-o. Mas havia pouco tempo para conversarmos.

Que feios animais! - exclamou. - Meu Deus!

Que feios animais! - repetia incessantemente.

Viu um homem no fosso? - perguntei. Não me respondeu. Ficámos em silêncio, e durante algum tempo, lado a lado, gozando, creio, de um certo conforto pela companhia que nos fazíamos mutuamente, observámos o que se passava. Em seguida, mudei de posição e escalei um pequeno outeiro que me dava a vantagem de um metro ou mais de elevação e quando olhei para o meu vizinho vi-o encaminhar-se na direcção de Woking.

Caiu o crepúsculo antes de acontecer mais alguma coisa. Ao longe, à esquerda, a multidão que se dirigia para Woking ia desaparecendo e ouvia agora débeis murmúrios provindos dela. O pequeno grupo de pessoas que se encaminhava para Chobham dispersou-se. Quase não havia indícios de movimento no fosso.

Foi isto, mais do que qualquer outra coisa, que insuflou coragem às pessoas e creio que os recém chegados de Woking também contribuíram para restaurar a confiança. De qualquer modo, quando se fez crepúsculo começou um movimento lento, intermitente, nos areais, um movimento que pareceu ganhar forças; nas imediações do cilindro, a calma do entardecer não fora quebrada. Começaram a avançar figuras negras, em grupos de duas ou três; paravam, observavam e tornavam a avançar, distribuindo-se num delgado crescente irregular que parecia envolver o fosso entre as suas extremidades adelgaçadas. Comecei também a andar em direcção ao fosso.

Em seguida, vi alguns cocheiros e outros homens que se dirigiam corajosamente para os areais e ouvi um tropel de cascos e o chiar de rodas. Vi um rapaz que empurrava o carrinho de maçãs. E então, a uns trinta metros de distância do fosso, avançando de Horsell, avistei um pequeno grupo indistinto de homens, à frente dos quais se via uma bandeira branca.

Era a deputação. Houvera uma consulta apressada e, dado que se tornava evidente que os marcianos eram, a despeito da forma repugnante, criaturas inteligentes, fora resolvido que se lhes mostrasse, aproximando-nos deles com sinais, que também somos inteligentes.

Tremulando, tremulando, a bandeira inclinava-se primeiro para a direita, depois para a esquerda. A distância era demasiado grande para que se pudesse reconhecer alguém, mas, mais tarde, soube que Ogilvy, Stent e Henderson acompanhavam os outros nesta tentativa de comunicação.

O pequeno grupo, ao avançar, arrastara para dentro, por assim dizer, a circunferência do círculo de pessoas, agora quase completo, e era seguido a distância discreta por um grupo de indistintas figuras negras.

De súbito, verificou-se uma explosão de luz, e uma certa quantidade de fumo luminoso esverdeado saiu do fosso em três baforadas distintas, as quais subiram no ar calmo, direitas, uma após outra.

Este fumo (ou chamas, pois talvez fosse esta a palavra apropriada) era tão brilhante que o céu azul-escuro e a superfície enevoada do baldio castanho, para os lados de Chertsey, plantada de pinheiros escuros, pareceram escurecer bruscamente quando as baforadas se ergueram, e ficar mais escuros depois de se terem dispersado. Ao mesmo tempo, ouviu-se um fraco som sibilante.
Nas imediações do fosso via-se ainda o pequeno grupo de pessoas em forma de cunha com a bandeira branca à frente, imobilizadas por este fenómeno, um pequeno grupo de pequenas formas negras sobre o solo escuro. Quando o fumo verde subiu, os seus rostos foram iluminados de verde-claro e desvaneceram-se novamente quando se dispersou. Então, lentamente, o som sibilante deu lugar a um zunido, um ruído prolongado, alto, monótono. Vagarosamente, saiu do fosso uma forma corcovada e o fantasma de um clarão de luz pareceu chamejar dela.

Em seguida relâmpagos de chama real, um clarão brilhante pulando de um para outro, brotaram do grupo disperso de homens. Era como se um jacto invisível colidisse com eles e os transformasse de súbito em chamas brancas. Como se cada homem se incendiasse brusca e momentaneamente.

Depois, à luz da sua própria destruição, vi-os a cambalear e a cair e os seus acompanhantes voltaram-se e começaram a correr.

Fiquei pasmado, sem compreender que isto significava a morte pulando de homem para homem naquela pequena multidão, ao longe. Apenas sentia que se tratava de alguma coisa muito estranha. Um relâmpago quase silencioso e ofuscante e um homem caiu e ficou imóvel e, quando o raio invisível de calor passou por eles, os pinheiros começaram a arder e todos os arbustos secos de tojo tornaram-se, com um ruído surdo, numa massa em chamas. E mais longe, para os lados de Knaphill, observei a rápida inflamação das árvores, sebes e casas de madeira.

Esta morte em chamas, esta espada de calor invisível e inevitável, propagava-se rápida e regularmente. Apercebi-me de que se aproximava de mim ao ver os arbustos começarem a arder quando ela lhes tocava. Estava demasiado perplexo e estupefacto para me mover. Ouvi o ruído produzido pelo fogo nos fossos de areia e o súbito relincho de um cavalo, que se calou bruscamente. Em seguida, parecia que um dedo invisível, embora intensamente aquecido, fora apontado para o urzal entre mim e os marcianos; o chão escuro fumegou e estalou ao longo de uma linha curva defronte dos areais. Caiu alguma coisa com estrondo, muito longe, à esquerda, onde a estrada que vem da direcção de Woking desemboca no baldio. Em seguida, o som sibilante e o zunido cessaram e o objecto negro, parecido com uma cúpula, afundou-se lentamente e desapareceu no fosso.

Tudo isto acontecera com uma tal rapidez que fiquei paralisado, ensurdecido e cego pelos relâmpagos. Se aquela morte se tivesse propagado num círculo maior eu teria sido, inevitavelmente, aniquilado. Mas passou e poupou-nie, deixando a noite, subitamente, escura e estranha.

O baldio ondulante parecia agora completamente sombrio, com excepção dos tons cinzento e claro das veredas sob o céu azul-escuro do princípio da noite.

Estava mergulhado na escuridão e os homens tinham sido bruscamente varridos. Viam-se estrelas e, a oeste, o céu era ainda de um azul-claro, brilhante e quase esverdeado. As copas dos pinheiros e os telhados de Horseíl desenhavam-se, a oeste, pontiagudos e escuros, no arrebol da tarde. Os marcianos e os seus utensílios continuavam invisíveis, salvo o delgado poste sobre o qual o seu espelho girava continuamente. Restos de arbustos e árvores isoladas fumegavam aqui e ali e ardiam ainda, e as casas perto da estação de Woking projectavam espirais de chamas na quietude do ar nocturno.

Nada se modificara salvo aquilo e um espanto terrível. O pequeno grupo de manchas negras com a bandeira da paz fora aniquilado e a tranquilidade da tarde, ao que me parecia, mal fora quebrada.

Apercebi-me de que me encontrava neste baldio escuro, abandonado, desprotegido e só. De súbito, algo se abateu sobre mim - o medo.

Voltei-me, penosamente, e comecei a correr, cambaleando, através do urzal.

O medo que me dominava não era racional, mas um pânico provocado não apenas pelos marcianos, como também pela escuridão e pela quietude que me cercavam. Deprimia-me de tal modo que corri, chorando silenciosamente como o faria uma criança. Já não me atrevia a olhar para trás.

Lembro-me de sentir uma convicção extraordinariamente profunda de que estavam a brincar comigo, de que agora, quase a alcançar a segurança, esta morte misteriosa - tão rápida como a passagem da luz - correria atrás de mim, desde o fosso, perto do cilindro, e abater-me-ia.


VI
O RAIO DA MORTE EM CHOBHAM ROAD

Continua a ser matéria de discussão a maneira pela qual os marcianos podem aniquilar os homens tão rápida e silenciosamente. Muitos pensam que eles são capazes de gerar, por um determinado processo, um calor intenso numa câmara de condutibilidade praticamente nula. Projectam este calor num feixe de raios paralelos contra qualquer objecto escolhido, por intermédio de um espelho parabólico, polarizado, de composição desconhecida; trata-se de um processo semelhante àquele pelo qual o espelho parabólico de um farol projecta um feixe de luz. Mas ninguém provou a veracidade destas hipóteses. No entanto, está provado que um raio de calor é a essência do fenómeno. Luz quente e invisível em vez de visível. Tudo quanto seja combustível incendeia-se ao seu contacto, o chumbo flui como água, amacia o ferro, quebra e funde o vidro e quando cai sobre a água, esta vaporiza-se imediatamente.

Nessa noite, cerca de quarenta pessoas jaziam à luz das estrelas, perto do fosso, de tal modo carbonizadas e distorcidas que se tornava impossível reconhecê-las. Durante toda a noite, o baldio entre Horsell e Maybury ficou deserto e mergulhado em chamas brilhantes.

É provável que as notícias do massacre tenham chegado ao mesmo tempo a Chobham, Woking e Otter-shaw. Em Woking, as lojas fecharam quando a tragédia se verificou e um certo número de pessoas, lojistas, etc., atraídas pelas histórias que corriam, atravessaram Horsell Bridge e a estrada bordada por sebes que desemboca no baldio. Podem imaginar-se os jovens, escovados depois do seu dia de trabalho, fazendo desta novidade, como fariam de qualquer outra coisa, um pretexto para passearem aos pares e desfrutarem do namoro habitual. O leitor pode imaginar o rumor provocado pelas vozes ao longo da estrada, ao crepúsculo...

No entanto, naturalmente, poucas pessoas em Woking sabiam sequer da abertura do cilindro, embora o pobre Henderson tenha enviado um mensageiro de bicicleta ao correio com um telegrama especial para os jornais da tarde.

Quando estas pessoas chegaram ao descampado, em grupos de duas e três, encontraram pequenos conjuntos de outras pessoas que conversavam excitadamente e fitavam o espelho que girava por cima dos areais. Os recém-chegados foram, sem dúvida, imediatamente contagiados pela excitação do momento.

Cerca das oito e meia, quando a deputação foi aniquilada, devia achar-se uma multidão de trezentas pessoas ou mais neste local, além daquelas que tinham saído da estrada para se aproximarem mais dos marcianos. Também estavam presentes três polícias, um dos quais a cavalo, cumprindo o melhor que podiam as instruções de Stent para manter as pessoas a distância e fazer com que não se aproximassem do cilindro. Havia um certo rumor provindo dos indivíduos mais inconscientes e excitáveis, para os quais uma multidão é sempre ocasião de barulho e de grosseria.

Stent e Ogilvy, prevendo algumas possibilidades de luta, tinham telegrafado de Horsell para os quartéis, mal os marcianos emergiram, requisitando uma companhia de soldados para proteger da violência estas estranhas criaturas. Depois disto, regressaram para dirigir aquele malfadado avanço. A descrição da sua morte, tal como foi relatada pelos seus espectadores, condiz em todos os pormenores com as minhas próprias impressões: as três baforadas de fumo verde, a baixa nota do zunido e os relâmpagos de chamas.

Mas as possibilidades de fuga de que a multidão dispunha eram muito menores do que as minhas. Só a salvou o facto de estar separada do Raio da Morte por uma elevação de areia coberta de urze. Se o espelho parabólico estivesse alguns metros mais alto, ninguém teria sobrevivido para contar a história. Viram os relâmpagos e os homens a cair, e o que parecia ser uma mão invisível incendiou os arbustos uns após outros. Em seguida, com uma nota sibilante que sobressaiu do ruído provindo do fosso, um raio ziguezagueou muito perto das suas cabeças, incendiando os caixilhos das janelas e reduzindo a migalhas uma parte da empena da casa mais próxima.

Após o súbito estrondo, o silvo e o clarão das árvores em chamas, a multidão agitou-se, hesitando durante alguns momentos. Faíscas e galhos a arder começaram a cair na estrada, bem como folhas que pareciam lufadas de chamas. Os chapéus e os fatos começaram a arder. Em seguida, ouviu-se um coro de gritos no baldio. Houve guinchos, berros e, de súbito, um polícia a cavalo atravessou a galope a confusão, com as mãos agarradas à cabeça e gritando estridentemente.

- Aproximam-se! - gritou uma mulher. Voltaram-se todos imediatamente e empurraram os que estavam atrás, a fim de abrirem caminho para Woking. Devem ter fugido tão cegamente como um rebanho de carneiros. No sítio onde a estrada se estreita e escurece entre altas ribanceiras, a multidão apinhou-se e lutou desesperadamente. Não escaparam todos; pelo menos três pessoas, duas mulheres e um rapazinho, foram esmagadas e pisadas, e morreram no meio do terror e da escuridão.
NÃO PERCA A CONTINUÇÃO DESTE IMPORTANTE CLÁSSICO DA FICÇÃO-CIENTÍFICA, EM BREVE AQUI NA CÂMARA DOS TORMENTOS!!!

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